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"Paternalismo" da regulação afasta investidores de retalho dos retornos
A regulação que entrou em vigor em 2018 veio introduzir a figura do produtor e distribuidor de produtos financeiros e limitar a comercialização de produtos junto dos investidores de retalho.
O elevado nível de exigências imposto pela regulação está a privar os investidores de terem a liberdade de investir em produtos que lhes oferecem potencial para obter retornos, defende Veerle Colaert, professora da Universidade KU Leuven.
"Investir em ativos de risco é limitado aos clientes com dinheiro. Só clientes com mais dinheiro podem ganhar dinheiro", avisa Veerle Colaert, na reunião anual da CMVM, que decorreu esta quinta e sexta-feira em Lisboa. Para a professora da Universidade KU Leuven esta situação resulta dos problemas criados pela nova diretiva para os mercados, que entrou em vigor em 2018 e que veio criar a figura do produtor e distribuidor de produtos financeiros.
À luz da diretiva, enquanto ao produtor cabe conceber, criar e desenvolver o produto, o distribuidor é quem o oferece, recomenda e comercializa em mercado primário ou secundário. É o produtor quem define o "mercado-alvo" ao qual os produtos se destinam. O distribuidor avalia se o produto se ajusta ao seu cliente.
Mas, segundo avisa a responsável, "produtores e distribuidores têm requisitos muito específicos" e o distribuidor "pode ter dificuldades em obter informações do produtos para definir um mercado-alvo. Sem isso não deve incluir o produto na sua oferta", o que acaba por reduzir a oferta de produtos aos clientes de retalho.
Por outro lado, os produtores "tendem a definir um target muito centrado para evitar escrutínio dos reguladores. Poucos produtos são distribuídos para os clientes de retalho". "Há uma oferta de produtos muito limitada", remata.
Uma forma de resolver esta situação poderia ser "clarificar que se pode vender produtos fora do mercado-alvo, mas não se pode promover o produto. Se o cliente o quer comprar devido poder fazê-lo. Caso contrário torna-se uma regulação muito paternalista" que prejudica o investidor, considera Veerle Colaert.
70% das poupanças com perdas
Já Guillaume Prache, Diretor-Geral da Better Finance, aponta o dedo à dificuldade em gerar retornos num ambiente de taxas de juro reduzidas.
"70% das poupanças dos investidores estão em depósitos ou seguros. Os depósitos estão a perder dinheiro. Esquemas de pensões, que investem maioria em obrigações, estão a perder dinheiro em termos reais e a ser taxados", alerta.
Em Portugal, as famílias tinham, no final de setembro, mais de 169,2 mil milhões de euros em depósitos.