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Harry Markowitz, pai da teoria moderna do portfólio, morre aos 95 anos
O economista revolucionou a abordagem tradicional da compra de ações ao analisar a relação entre risco e recompensa.
Harry Markowitz, laureado com um Nobel e pioneiro da teoria moderna do portfólio, morreu na passada quinta-feira, 22 de junho, com 95 anos. A notícia foi avançada pelo The New York Times, que diz que o economista morreu num hospital de San Diego devido a uma pneumonia e septicémia.
Markowitz criou uma revolução no mundo financeiro, ao mexer com a tradicional abordagem de comprar ações – o que lhe valeu o Nobel da Economia em 1990.
A sua teoria – conhecida como teoria moderna do portfólio ou teoria de Markowitz – foi apresentada em 1952, num artigo publicado no Journal of Finance, e mudou a forma como se cria uma carteira de investimento, tendo como foco gerar o maior retorno possível, com o menor risco possível.
Basicamente, Markowitz rompeu com a tradicional análise de investimento, centrando-se na combinação de ativos em vez de se focar nos títulos de forma individual. Ele demonstrou que o risco, em qualquer carteira, está menos dependente do grau de risco das ações e outros ativos que compõem o portfólio do que com a forma como se relacionam entre si. Foi a primeira vez que os benefícios da diversificação foram codificados e quantificados, explica o The New York Times. E, para isso, o economista recorreu a estatística e matemática avançada – de modo a calcular correlações e variações (desvios) a partir da mediana.
A sua teoria assenta em três pontos principais: retornos esperados, risco e correlação dos ativos. Ou seja, o foco está na diversificação.
Para Markowitz, os investidores que colocavam todo o seu dinheiro numa qualquer ação que tivesse o mais alto valor esperado estavam errados. Em vez disso, o economista via como melhor opção aquilo a que chamava de portfólio eficiente, que equilibrava os retornos (a recompensa) e o risco.
Com base na correlação entre os ativos, Markowitz comprovou que existem carteiras com os maiores retornos possíveis para determinados níveis de volatilidade – e que essas carteiras estão presentes na chamada fronteira eficiente (ou seja, são carteiras com uma otimização do risco e do retorno), sublinha o grupo de "research" Suno.
A sua solução de diversificação dos ativos numa carteira de investimento não agradou a todos. Nassim Nicholas Taleb, autor de "O cisne negro", disse que os investidores que perderam dinheiro na crise financeira de 2008 podiam "agradecer" ao comité do Prémio Nobel por prestar honras a Markowitz e a outros economistas que criaram equações que fazem as ações parecer menos arriscadas do que aquilo que de facto são, refere a Bloomberg. Já Markowitz não concordava com esta visão e em 2008 chegou a dizer que o verdadeiro problema estava nas "camadas de produtos fruto de engenharia financeira dos últimos anos, a par com elevados níveis de endividamento".
Em 2009, recorda a Bloomberg, Markowitz afirmou que a forte queda dos mercados acionistas ocorrida no ano precedente [na sequência da crise do "suprime" nos EUA, quando estoirou a bolha do mercado imobiliário e se percebeu que tinha sido concedido crédito hipotecário a muitas famílias sem grande qualidade creditícia] só vinha reforçar a sua convicção de que as ações se movimentam de forma imprevisível, como um "rebanho em debandada".
(notícia atualizada às 18h35)