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Depois do cabaz de rebuçados, toca-e-foge de Trump está a deixar investidores exaustos

É demasiado, queixam-se os investidores. Esta aparente bipolaridade dos EUA no que diz respeito às fricções comerciais com a China está a fazer disparar a volatilidade e a trazer um amargo de boca depois dos rebuçados oferecidos por Trump.

Reuters
06 de Abril de 2018 às 21:43
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Nos Estados Unidos, no que diz respeito às tensões comerciais com a China, diz-se uma coisa de manhã, outra de tarde e ainda outra diferente à noite. Os investidores estão exaustos com esta correria - a falta de coerência nas mensagens que são passadas está a penalizar fortemente o bom registo que Donald Trump tinha em matéria de desempenho de Wall Street no seu primeiro ano de presidência.

 

E, de facto, no primeiro ano foi tudo bonito. Foi a redução de impostos, sobretudo para as empresas, foi a promessa de uma política pró-crescimento e de mais investimento em infraestruturas… e todos gostaram dos doces oferecidos pela Administração Trump. O mercado aplaudiu e as bolsas tiveram performances dignas de nota.

 

Mas as tensões comerciais mudaram tudo. Numa altura em que ainda se debate a permanência dos EUA no Acordo de Comércio Livre da América do Norte (NAFTA), onde os norte-americanos contam com o México e o Canadá como parceiros privilegiados, Trump decidiu disparar para novos lados.

 

Em Março, o chefe da Casa Branca disse que iria impor tarifas aduaneiras agravadas às importações de aço e de alumínio. Acabou por isentar alguns países, incluindo a União Europeia, mas não livrou a China. Só que não se ficou por aí, ao vir depois dizer que agravaria as taxas aduaneiras à entrada de produtos chineses num valor que poderia ir até 60 mil milhões de dólares - mostrando-se descontente com a transferência de tecnologia e propriedade intelectual norte-americana para a China.

 

O governo chinês reagiu a esta medida, aplicando tarifas adicionais à importação de um conjunto de produtos norte-americanos – como fruta, carne de porco e vinho - mas foi mais brando no impacto, já que apenas incidiriam sobre o equivalente a três mil milhões de dólares de importações.


Perante isto, Donald Trump apresentou esta semana uma lista de 1.300 produtos chineses [como tecnologia industrial, produtos médicos e ligados aos transportes] que serão taxados com tarifas de 25% à entrada nos EUA e que abrangem 50 mil milhões de dólares em importações. Menos de 11 horas depois, já Pequim estava a responder com uma lista de 106 produtos [como soja, milho, aviões, automóveis, carne de bovino e produtos químicos] – e a incidir sobre o mesmo valor: 50 mil milhões de dólares.

 

Como nessa lista de Pequim se inclui a soja, ontem os investidores já esfregavam as mãos de contentamento. É que muitos analistas afirmavam que os EUA iriam recuar nalgumas frentes porque esta oleaginosa é um dos principais produtos agrícolas nos Estados Unidos em matéria de exportação.

 

A ameaça que pende sobre as exportações da soja norte-americana foi assim vista como uma poderosa arma para Pequim, dado o potencial impacto no Iowa e noutros Estados que apoiaram Donald Trump nas eleições presidenciais de 2016. No entanto, Trump parece não estar muito preocupado, uma vez que hoje renovou as fricções ao ameaçar impor ainda mais taxas aduaneiras agravadas a produtos chineses – podendo ascender aos 100 mil milhões de dólares. Mas os chineses não se deixaram ficar e já ameaçam retaliar na mesma medida.

 

A temperar todos estes avanços e recuos ao longo da semana esteve o tom conciliador do embaixador da China nos EUA, bem como de altos responsáveis norte-americanos, todos eles apontando para a via da negociação na procura de uma solução que agrade às duas potências mundiais.

 

Só que hoje os investidores disseram ‘basta’. A falta de consenso nas mensagens passadas pela Administração Trump acabou por deixar o nervosismo ao rubro. E Trump, que no seu primeiro ano de mandato presidencial – de 20 de Janeiro de 2017 a 20 de Janeiro deste ano – se gabou de ser o responsável pela subida de 32% do Dow Jones, vem agora dizer, perante o tumulto em Wall Street desde finais de Janeiro, que esta perturbação bolsista é "dor de curto prazo".

 

Até pode ter razão, mas se houver uma melhoria não será, provavelmente, devido às suas tiradas e constantes tweets que deixam os investidores estonteados – mas sim porque está prestes a arrancar a época de divulgação dos resultados do primeiro trimestre das cotadas norte-americanas, que se esperam robustos.

 

Este nervosismo que paira nas bolsas do outro lado do Atlântico, e que contagiou os mercados do resto do mundo, levou então a que Wall Street regressasse hoje ao vermelho.

 

O Dow Jones encerrou a cair 2,34% para 23.932,76 pontos, e o Standard & Poor’s 500 cedeu 2,19% para 2.604,47 pontos.

 

Por seu turno, o Nasdaq Composite perdeu 2,28% para 6.915,10 pontos.


(notícia actualizada às 22:29)

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