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"Bilionário anónimo" em destaque no Brasil depois de ganho de 1.000%
O fundo Alaska Black Master está a gerar uma rendibilidade de 143% em 2016, o que compara com o ganho de 33% do principal índice brasileiro, o iBovespa. A aposta no Magazine Luiza foi determinante.
Luiz Alves Paes de Barros é uma espécie de enigma nos círculos financeiros de São Paulo. Aos 69 anos, é conhecido como "bilionário anónimo" por acumular fortuna de forma silenciosa ao apostar em acções que quase ninguém mais parece querer. Com o Magazine Luiza, Barros pode ter feito uma das suas melhores apostas até agora.
Desde o fim de 2015, a firma de Barros, a Alaska Investimentos, transformou a abatida empresa de retalho num dos seus principais activos, uma jogada ousada num país que atravessa a pior recessão em mais de 100 anos. Funcionou. O Magazine Luiza disparou mais de 1.000% depois de sofrer uma queda recorde há um ano, o que a transformou na melhor acção de um dos mercados de melhor desempenho do mundo. O "rally" transformou o Alaska Black Master, que Barros gere com Henrique Bredda e Ney Miyamoto, no segundo fundo com melhor desempenho entre os 569 focados em acções brasileiras, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
O último sucesso de Barros apenas aumenta a intriga em torno de um dos investidores mais célebres do Brasil, apesar de recatado. No início da carreira, negociou commodities e foi sócio de Luis Stuhlberger, uma estrela da gestão de fundos na firma que se transformou na Credit Suisse Hedging-Griffo. Barros passou depois cerca de meio século a investir apenas o seu próprio dinheiro, quase exclusivamente em acções brasileiras.
No que diz respeito à gestão do dinheiro dos outros, Barros é um principiante, já que ajudou a fundar a Alaska em Julho de 2015. Mas o seu método de investimento continua a ser o mesmo. Diversifica pouco as suas acções, prefere empresas cujas cotações estão deprimidas e normalmente compra quando todos os outros estão a vender.
"Aperfeiçoar a paciência é tudo o que fiz nos últimos 50 anos", diz Barros. "Adoro quando as coisas ficam feias. Quando está feio, eu compro."
Durante duas entrevistas, primeiro no pequeno escritório da Alaska no coração do distrito financeiro de São Paulo e depois no seu escritório pessoal, na avenida comercial mais antiga da cidade, o grisalho gestor de activos explica o que o levou às acções do Magazine Luiza e a cotadas que são agora a sua aposta, como a Fibria Celulose, Braskem, Marcopolo e Vale. "O mercado esqueceu essas acções", refere.
A Alaska começou a acumular participações na fabricante de petroquímicos Braskem há cerca de quatro meses (a acção subiu 48% desde meados de Agosto após uma queda de 20% desde o início do ano) e na fabricante de celulose Fibria alguns meses depois. Barros gosta de ambas as empresas porque têm fundamentos sólidos - e porque apresentam múltiplos baratos. A relação entre o preço das acções e o lucro da Braskem é de 8,3, menos da metade do nível registado há três anos. A avaliação da Fibria é de menos da metade da média dos últimos dois anos.
A fabricante de camiões e autocarros Marcopolo é uma aposta na recuperação do Brasil da recessão, enquanto a mineradora Vale beneficiará quando os investidores internacionais voltarem a procurar mais valor do que segurança. Não existe expansão económica no Brasil sem investimentos em infra-estrutura, argumenta.
"A Vale não será um desastre para ninguém. Quando os preços do minério de ferro subirem novamente, a Vale vai voar", assinala.
Se essas acções renderem apenas uma fracção do retorno obtido com o Magazine Luiza, terão sido investimentos espectaculares. No total, a Alaska adquiriu quase 40% das acções do Magazine Luiza. No terceiro trimestre de 2016, a Alaska desfez-se de metade da sua participação. A restante posição da Alaska no Magazine Luiza vale actualmente cerca de 111 milhões de reais (33 milhões de dólares).
Questionado sobre como sabia que o Magazine Luiza iria ter um bom desempenho, admite que não sabia. "Sabia apenas que estava barato". O facto de a retalhista de electrodomésticos e produtos electrónicos apresentar na altura um valor de mercado de 180 milhões de reais - apesar de um banco ter oferecido 300 milhões de reais pelo direito de oferecer garantias aos produtos do Magazine Luiza - deixou isso bem claro. "Ou o banco estava maluco ou havia valor ali", diz Barros.
O fundo Alaska Black Master está a gerar uma rendibilidade de 143% em 2016, o que compara com o ganho de 33% do principal índice brasileiro, o iBovespa. O desempenho foi também impulsionado pela participação na Companhia de Saneamento do Parana, empresa de tratamento de águas conhecida por Sanepar, que quase triplica de valor este ano.
Apesar do desempenho, a Alaska é ainda um pequeno "player" no mercado brasileiro, que apresenta um valor de 2,38 biliões de reais. Emprega apenas 11 pessoas, incluindo a pessoa que serve os cafés, gerindo activos de 1,6 mil milhões de reais. Três quartos deste valor é dinheiro de Barros, mas o fundo procura novos clientes. Porquê agora, depois de 50 anos sozinho? "Porque penso que o mercado vai valorizar", responde.