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Cinco razões para as fortes quedas das acções do BCP
O BCP está a ser um dos protagonistas na bolsa nacional. Tem sofrido quedas atrás de quedas, atirando a cotação para mínimos. Conheça as razões que estão a ditar a forte desvalorização dos títulos do banco liderado por Nuno Amado.
O BCP continua sem conseguir estancar as quedas. Esta semana já cai 11,5%, tendo recuado para mínimos de dois anos a valer apenas 4,06 cêntimos. Com estas quedas, o banco elevou para 34,23% a desvalorização acumulada em 2015. Mas o que está a determinar este desempenho tão negativo? Há várias razões. A Polónia e o Novo Banco são os principais factores de pressão. Mas há mais.
Novo Banco preocupa
O Banco de Portugal decidiu, este mês, cancelar o concurso para a venda do Novo Banco, comprometendo-se a iniciar um novo processo dentro de alguns meses. Esta decisão surgiu depois do regulador do sector bancário português não ter ficado satisfeito com as condições apresentadas pelos três candidatos à compra do antigo BES. A Moody’s estima que o adiamento da alienação dificulta a venda a um "preço satisfatório", uma perspectiva que tem pesado no desempenho do sector financeiro, especialmente no BCP. Com um negócio a um preço inferior aos 4,9 mil milhões de euros injectados pelo Fundo de Resolução no banco, a diferença terá de ser suportada pelas restantes instituições. "Uma vez que o BCP é o segundo maior contribuidor", diz Pedro Lino, administrador da Dif Broker, os investidores temem a dimensão da factura.
Conversão de créditos na Polónia é ameaça
A legislação em torno da conversão de créditos indexados ao franco suíço para a moeda polaca é um dos principais riscos que permanece sobre o BCP, uma vez que ainda não se conhecem os custos que terão que ser suportados pelas instituições financeiras. A percentagem de encargos a suportar pelos bancos na Polónia, onde o BCP detém o Millennium Bank, poderão ser mais ou menos significativos dependendo o partido que ganhar as eleições, no final de Outubro. "Os títulos do BCP continuam a sofrer fortes desvalorizações em resultado de um agregado de factores amplamente negativo", destaca João Lampreia. Para o analista do BiG "a incerteza na conversão dos créditos disponibilizados em francos suíços" é um dos pontos de pressão sobre o banco. Além da legislação para a conversão de créditos, o BCP será ainda afectado por uma proposta de um partido na oposição, caso este vença as eleições. O Lei e Justiça já anunciou pretender aumentar os impostos sobre as grandes empresas, nomeadamente aos sectores da banca e do retalho, altamente dominados por grupos estrangeiros que viram a sua entrada no país facilitada pela adesão da Polónia ao espaço comunitário.
Reembolso ao Estado e aumento de capital
O elevado custo das obrigações de capital contingente (Coco’s) é outra das razões que tem pressionado as acções. O banco já manifestou a sua intenção de reembolsar antecipadamente os 750 milhões de euros que ainda deve ao Estado e que têm um custo elevado. No entanto, e ainda que libertar-se deste encargo ajudasse a rentabilidade da instituição, o BCP já negou a possibilidade de realizar um aumento de capital para o fazer, tal como o Société Générale adiantou que poderia acontecer em 2016. Com os accionistas actuais com pouca disponibilidade para acompanhar um aumento de capital e o ambiente pouco propício à venda de activos, o BCP poderá ser obrigado a adiar o reembolso do empréstimo estatal, suportando os encargos inerentes.
Crise em Angola gera incerteza
"A incerteza quanto à operação angolana nomeadamente devido ao enfraquecimento da economia de Angola" é outra das razões que está a arrastar as acções do banco, diz Pedro Lino. A economia angolana, onde a banca portuguesa está presente, tem atravessado vários problemas devido à crise do petróleo. No seu relatório de estabilidade financeira, publicado em Maio, o Banco de Portugal alertava justamente para a elevada exposição dos bancos portugueses a Angola.
Desafio para manter resultados positivos
A capacidade de apresentar resultados positivos continua a pesar sobre o sector financeiro português. Apesar de ter regressado aos lucros nos primeiros três meses de 2015, após três anos de prejuízos, a rentabilidade é um dos principais desafios do sector. "O ambiente de baixas taxas de juro vai manter pressionada a margem financeira", destaca o administrador da Dif Broker. Para João Lampreia, "este item de resultados do BCP até evoluiu de forma relativamente favorável no último trimestre". À medida que se consolida a recuperação da economia nacional e aumenta a concessão de crédito, isto deverá sustentar os resultados do sector financeiro.