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O plano B

Chama-se BTeam e é a mais recente iniciativa de Sir Richard Branson para introduzir uma nova versão no capitalismo. Com lançamento efectivo agendado para Janeiro de 2013, o excêntrico multimilionário pretende reunir, numa única plataforma, líderes globais de excelência que, de uma vez por todas, coloquem o lucro em plano de igualdade com os dividendos sociais e ambientais. E que realmente passem da teoria à prática

O plano B
19 de Outubro de 2012 às 16:09
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Sir Richard Branson é um personagem que não gera consensos. Mas ninguém o pode acusar de ficar de braços cruzados a ver o seu (rico) mundo passar. Irrequieto por natureza, empreendedor por obsessão e activista social por convicção, desde os anos 60 que o patrão do império Virgin teima em querer mudar o estado “normal” das coisas. Desta feita, e no seguimento das já conhecidas iniciativas The Elders e The Carbon War Room, integradas na Virgin Unite, a sua organização sem fins lucrativos que pretende revolucionar o mundo dos negócios, Branson anunciou, no início do mês, a criação da BTeam, que pode ser interpretada como uma “versão melhorada do capitalismo”, como a apelidou o Economist ou pela necessidade de o mundo empresarial ter um Plano B, aliando os ganhos financeiros aos dividendos sociais e ambientais.

Branson não está sozinho nesta nova cruzada, nem sequer a ideia é pioneira. Todavia, a forma como está a pensar organizar esta alteração na mentalidade de CEOs e outros líderes de negócio mundiais, com vista a uma mudança de fundo na forma como se fazem negócios, merece atenção.

Em conjunto com o CEO da Puma, Jochen Zeit, também reconhecido como um líder “sustentável”, Branson pretende trabalhar com parceiros e outros líderes de negócios em todo o mundo, numa plataforma global, para encontrar um novo modelo que coloque o lucro em plano de igualdade com as pessoas e o planeta (os famosos três Ps da sustentabilidade: People, Planet, Profit).

Até ao lançamento oficial desta nova plataforma, em Janeiro de 2013, a B Team pretende ouvir e retirar lições de líderes empresariais, e do público em geral, para identificar os principais obstáculos que impedem as empresas de contribuir para um bem maior. A B Team reuniu-se, a 3 de Outubro, com um conjunto de jovens influenciadores com o objectivo de recolher o feedback desta nova geração de líderes sobre em que áreas e de que forma é que a sua iniciativa global poderá ter o maior dos impactos.

No início de 2013, a equipa fundadora da B Team, que elegeu como CEO Derek Handley, um jovem e apaixonado empreendedor, pretende anunciar o grupo inicial de líderes de negócios que ficarão responsáveis pelos denominados “Grandes Desafios”. Um destes desafios poderá ter como enfoque a criação de uma norma global para ajudar as empresas a ter em conta os impactos ambientais das suas operações, na medida em que os modelos de negócio tradicionais não contabilizam nem valorizam o capital natural. A ideia, ainda em construção, passará por um trabalho conjunto com parceiros vários para se estabelecer uma metodologia sólida através da qual as empresas possam medir, valorizar e reportar os seus impactos nos bens e serviços ambientais nos quais confiam para manter a sua rentabilidade e assegurar a sua sustentabilidade de longo prazo.

Como refere o próprio Derek, “encaramos a B Team como um movimento catalisador e desafiador que irá alterar o curso dos negócios de forma a que a próxima geração de líderes possa assumir como garantia que um negócio deve ser uma situação win-win para todos os stakeholders, incluindo a natureza e a sociedade”. E, para nos movermos para este futuro desejável, de acordo com Derek, é necessário um Plano B: “reconhecer o trabalho e os sucessos do que já foi alcançado por muitos, aperfeiçoá-lo e, de forma colectiva, traduzi-lo em acções, implementando-as de seguida para redefinir as práticas de negócio”, acrescenta.

Empresas têm de deixar de fazer parte do problema e passarem a ser parte da solução
A ideia de tornar o capitalismo mais sustentável ou mais humano tem sido apregoada por várias personalidades ligadas ao mundo académico, da filantropia ou dos negócios. Há muito que Muhammad Yunus o defende, nomeadamente com a sua definição de negócios sociais. Mais recentemente, uma visão similar foi defendida por Al Gore e pelo ex-banqueiro de investimento da Goldman Sachs, através do lançamento de um manifesto e também Michael Porter e Mark Kramer, co-fundadores do Foundation Strategy Group, defendem uma nova forma de fazer negócios, que coloca as questões sociais no centro da estratégia das operações das empresas, à qual deram o nome de “criação de valor partilhado”. John Elkington, o homem que cunhou a famosa “triple bottom line”ou os famosos três pilares da sustentabilidade, há muito que clama também por “um novo caminho schumpeteriano” ou uma inovação disruptiva, com os empreendedores sociais a assumirem o papel de grandes agentes da mudança necessária para que os novos modelos de negócio sejam simultaneamente lucrativos e sustentáveis. Ou ainda o chamado capitalismo criativo de Bill Gates, que foi devidamente aplaudido em Davos, em 2008, ainda a procissão da Grande Recessão ia no adro.

É verdade que todas as revoluções – e o termo parece ser bem aplicado neste contexto – são, geralmente, iniciadas da base para o topo. Mas, e como defende o já citado John Elkington num artigo recente publicado na Fast Company, as dinâmicas inversas podem também ter um papel crítico na transformação dos sistemas económicos. O problema é que, apesar de serem já muitas as boas vontades expressas, não existem ainda líderes suficientes que levem suficientemente a sério esta urgência de um novo modelo para os seus negócios, que ofereça crescimento e inclusão social, que tenha respeito pelos recursos finitos do planeta e que eleja os frutos do longo prazo em detrimento dos lucros imediatos.

Por isso e como Branson tem defendido nos últimos anos, e também no seu último livro com um título esclarecedor e muito ao seu estilo – Screw Business as Usual -, são as empresas, através dos seus líderes, que têm a obrigação de mudar o mundo para melhor. Assim, a ideia de eleger CEO e líderes de negócios globais, provenientes dos mais diversos sectores e tanto de países desenvolvidos como em desenvolvimento, para “tomarem conta” e implementarem os “Grandes Desafios” que ainda serão definidos, pode ser não só uma boa ideia, como o caminho a percorrer para a sua transformação em acções realmente tangíveis.

Adicionalmente e como sabemos, Branson não é propriamente virgem nestas andanças. O projecto The Elders, fundado em 2007 por Nelson Mandela (e que conta com nomes como Jimmy Carter, Desmond Tutu, Kofi Annan, Graça Machel ou Gro Harlem Brundtland), teve o apoio da Virgin Unite e de outros doadores (como Peter Gabriel) e arrecadou, para o seu arranque, cerca de 18 milhões dólares. A ideia de juntar um grupo de proeminentes líderes globais que trabalhassem em conjunto pela paz e pelos direitos humanos foi genial: o trabalho inspirado pelo papel que os mais velhos têm nas sociedades tradicionais, nas quais servem de fonte de aconselhamento, sabedoria e experiência, e aplicá-lo em áreas críticas como o Sudão, o Médio Oriente ou o Zimbabué, através não só de aconselhamento político, mas também abordando questões globais como a igualdade de género ou as alterações climáticas, tem vindo a contribuir, de forma eficaz, para apoiar causas tão distintas como a democracia reclamada pela Primavera Árabe ou para a luta contra o casamento infantil.


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