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Geração mais jovem é a mais indiferente à ética

Leu bem e tal não significa necessariamente que são os mais velhos que são mais éticos – pelo contrário, dão um mau exemplo – mas este é um dos mais preocupantes resultados divulgado pelo EY EMEIA Fraud Survey 2017. Com um universo de 4100 inquiridos, provenientes de 41 países, o presente estudo confere uma visão desoladora face ao estado da ética no ambiente empresarial. E mesmo tendo em conta o ambiente particularmente periclitante em que vivemos, com tensões geopolíticas, económicas e sociais a contribuírem para um enfoque cada vez mais centrado na obtenção de lucro a todo o custo, tal não pode ser desculpa. Mesmo

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As alterações políticas, muitas delas inesperadas, que temos assistido em particular nos últimos dois anos, e que terão impacto certo no mundo como o conhecemos por um tempo longo e indeterminado, representa não só um ambiente novo para as empresas, com um conjunto significativo de novos desafios à medida que os negócios procuram formas alternativas para ir ao encontro dos seus ambiciosos objectivos de lucro.

E, na verdade, todas estas tensões geopolíticas, económicas e sociais significam que as normas tradicionais de compliance podem estar em falência e já não serem válidas para os dias que correm. Em simultâneo, e com o enorme escrutínio que paira sobre as empresas na actualidade,em conjunto com a demanda pública para que os negócios ajam de forma transparente e responsável, obrigou a uma maior regulação, liderada por parte dos países integrantes do G20, pela OCDE e pelo Banco Mundial, os quais estão a reforçar – ou a tentar – medidas regulatórias nacionais mas em intercooperação.

A unidade de investigação da Ernst&Young (EY) publicou agora o seu relatório de 2017 sobre fraude nos países pertencentes à região EMEIA (Europa, Médio Oriente, Índia e África), com entrevistas a 4100 executivos espalhados por 41 países, Portugal incluído. E os resultados em termos de comportamentos não éticos não são muito animadores, antes pelo contrário.

Apesar de o inquérito ter revelado que a maioria dos respondentes é a favor de maior regulação, uma proporção significativa dos inquiridos continua a justificar a falta de ética como forma de ajudar o negócio a sobreviver ou como meio de aumentar os seus próprios benefícios. E, o mais preocupante de tudo é o facto de, entre todos os respondentes, ser a geração Y, a mais nova (aqui considerada como aqueles que têm entre 25 a 34 anos), aquela que mais disposta se mostrou a justificar este tipo de maus comportamentos.

Uma outra conclusão revelada por este inquérito alargado demonstra que enquanto no passado os indivíduos se mostravam motivados pelo desejo de protegerem a empresa para a qual trabalhavam, actualmente os seus níveis e lealdade são, sobretudo, para com a sua própria unidade de negócio ou para com os seus ganhos individuais. E, mesmo quando se mostram preocupados com o comportamento errado dos seus pares, não sabem como ou hesitam no reportar de informação sobre os vários tipos de conduta imoral com os quais convivem quotidianamente.

Assim, e como alerta Jim McCurr, responsável pela região EMEIA e pelos serviços de investigação de fraude e disputas da EY, num ambiente crescentemente digital e automatizado, e no qual os empregados ou não justificam falhas éticas ou hesitam em reportá-las a quem de direito, as empresas devem, e rapidamente, adoptar novas tecnologias, em conjunto com a lógica computacional, para identificar e detectar maus comportamentos. Aliás, o presente relatório tem como questões iniciais as seguintes: Instinto Humano vs Lógica das Máquinas: em qual deles mais confia na luta contra a fraude e a corrupção?

Para este especialista, a adopção de novas tecnologias que permitam melhor detectar e identificar possíveis falhas éticas nos processos das empresas não só as dotará a de mais e melhor informação, novas abordagens e novas formas de trabalhar, como lhes permitirá "atacar" os riscos e abraçar novas oportunidades neste mundo cheio de incertezas. Todavia e ao ter escolhido este relatório para analisar, não é no ambiente tecnológico que o VER se irá focar. Depois de uma visão geral sobre os seus principais resultados, a questão da falta de ética, sobretudo entre os jovens, aqueles que serão responsáveis por liderar as empresas no futuro não muito longínquo, parece-nos de crucial importância.

© DR


Restaurar a confiança à força?


Descontentamento popular com a globalização, instabilidade política e crescimento mais lento nos mercados emergentes são algumas das forças que estão a pressionar, de forma crescente, as empresas que, um pouco perdidas, tentam encontrar formas alternativas para atingir os seus objectivos de lucro, cada vez mais ambiciosos e "obrigatórios".

Em termos gerais, e dada a persistente crise de confiança que há muito caracteriza o ecossistema empresarial, não é de estranhar que a fraude e a corrupção continuem a constituir um dos mais gritantes desafios para as empresas. No total, 77% dos 4100 inquiridos para este estudo afirmam apoiar a posição mais firme das instâncias internacionais para uma maior e mais direccionada regulação, em particular defendida pelos países emergentes. Ou seja, quase 80% dos inquiridos afirma concordar com novas iniciativas que responsabilizem, de forma individual, os executivos que incorrem em actos de má conduta. Por seu turno, em África, 63% dos inquiridos acreditam que a regulação tem um impacto positivo no comportamento ético, versus 52% na Índia.

Mas e por outro lado, no que respeita às escolhas éticas dos empregados, um em cada três presidentes pertencentes a conselhos de administração ou em posições de gestão sénior admite justificar pagamentos em dinheiro vivo para "ganhar ou reter negócios". Ou seja, os resultados do inquérito indicam que comportamentos não éticos e níveis elevados de desconfiança face aos colegas fazem parte "normal" do ecossistema organizacional da actualidade, em particular entre executivos de topo, mas também nas gerações mais jovens. A prova reside no facto de, tal como os seus superiores hierárquicos, também um em cada quatro jovens pertencentes à geração Y consideram "comum" a oferta de dinheiro para "pagar" um novo negócio ou a manutenção de outro já existente. Enquanto líderes do futuro, e a não ser que acções eficazes sejam tomadas para definir e fazer cumprir padrões éticos elevados, a falta de ética poderá aumentar, ainda mais, no futuro.

Assim, monitorizar dados para melhor perceber os comportamentos dos empregados é uma hipótese a qual, e como é óbvio, encerra um conjunto importante de outras questões que, naturalmente, encontram uma enorme resistência, nomeadamente no que à privacidade diz respeito.

Como sabemos, a competitividade global em crescendo traduz-se na certeza de que, e mais do que nunca, os activos das empresas se encontrarem mais fragilizados, com um risco aumentado de roubo, danos e manipulação por parte de insiders (e não só). E se os reguladores pressionam, por um lado, para serem as empresas a auto-reportar exemplos de má conduta, também estas precisam de se apetrechar de tecnologias mais avançadas para identificar e mitigar ameaças internas.

Mas a solução não é, em si mesma, ética. Estas ameaças internas podem ser dificilmente detectadas sem a recolha e análise de dados proveniente de um número significativo de fontes, incluindo a comunicação por email e o acesso remoto aos computadores dos empregados. Assim, não é difícil de compreender que apesar de 75% do total dos respondentes concordarem que as empresas devem monitorizar os dados que por ela "transitam", 89% consideram, em simultâneo, que tal é uma violação da sua privacidade. De acordo com os responsáveis por este estudo, e por motivos de força maior, as equipas de gestão precisam, contudo, de assegurar que os seus empregados compreendam o valor de analisar e potenciar esses dados e explicar as perturbadoras implicações para a própria empresa caso exista roubo ou fuga de informação.

Se o whistleblowing (os mecanismos de delação internos) funcionasse, o problema poderia ser mais facilmente abordado. O estudo revela que quando os inquiridos se mostram preocupados com actos de má conduta por parte dos seus superiores ou colegas, ou hesitam como reportá-los ou nem sequer sabem como fazer a denúncia. Mas o facto mais interessante assenta na seguinte realidade: quando os empregados se sentem dispostos a fazer algum tipo de denúncia, a maioria (73%) prefere reportar externamente, ou seja, às autoridades reguladoras, às entidades legais ou aos media. Ou seja, para a empresa, este processo torna-se muito mais difícil de gerir.


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