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Fortune “descobre” empresas que estão a mudar o mundo
Em 1955, a reconhecida revista Fortune estreou-se na classificação das empresas mais poderosas do planeta, através do seu mais do que famoso ranking “Fortune 500”, o qual funcionaria como uma espécie de bíblia para o mundo dos negócios. Mas só 60 anos depois, mais precisamente em Agosto último, tomou a decisão de publicar, pela primeira vez, uma listagem das empresas que, com modelos alternativos e tendo em conta critérios ambientais e sociais, estão a percorrer os mais do que urgentes caminhos da sustentabilidade. “O nosso contributo para as novas formas de capitalismo”, afirma
Fundada em 1929, a revista Fortune iria para as bancas, pela primeira vez, em Fevereiro de 1930, em plena Grande Depressão. Com o preço de um dólar, uma base inicial de 30 mil assinantes, a primeira edição da revista teria 184 páginas e, sete anos passados, contava já com uma base de 460 mil leitores e meio milhão de dólares em lucros anuais. Conhecida e reconhecida pela profundidade dos seus artigos lança, em 1955, o talvez mais famoso ranking do mundo – o Fortune 500 – que lista, desde então, as mais lucrativas empresas do planeta, numa espécie de ode ao capitalismo bem-sucedido.
Todavia, e como mudam os tempos e também as vontades, a famosa revista norte-americana não deixou de seguir as tendências do "mundo moderno" e, 60 anos depois da sua estreia na hierarquização do poder empresarial, publica, pela primeira vez, a lista das empresas que (melhor ou mais?) "mudam o mundo". Para além da não originalidade do título que escolheu para este ranking – Change the World -, no qual constam 51 empresas, o editorial explicativo dos motivos que levaram a Fortune a enveredar pelas denominadas "novas formas de capitalismo" e estimar o valor das empresas de acordo com critérios não financeiros parece representar um esforço "abusivo" relativamente à pertinência deste ranking. Como explicou ao programa televisivo CBS This Morning, uma das editoras da revista, "temos vindo a reparar numa enorme mudança no capitalismo, o qual está sob ataque, para um capitalismo consciente ou ‘preocupado’".
No mínimo, esta "tomada de consciência" é um bocado tardia. E continua: "as empresas estão a começar a ir mais longe e a tentar, realmente, resolver os problemas do mundo. E isto não é filantropia. Não estamos a declarar que estas empresas são 100% ‘de ouro’, mas a verdade é que estão ter um efeito mensurável em tornar o mundo melhor".
Mais uma vez, a ideia que dá é que a Fortune acordou agora para uma realidade que já existe há uns bons anos e, apesar de mais valer tarde do que nunca, os seus próprios argumentos não são facilmente compreensíveis à luz do que parece representar este ranking. Considerados quatro critérios – o grau de inovação no negócio em causa, o impacto mensurável em termos de escala ou de um importante desafio social, o contributo das actividades de valor partilhado para a rentabilidade da empresa e para a sua vantagem competitiva e o significado dos esforços de valor partilhado para o negócio na sua totalidade – a Fortune escreve ainda que esta lista não deve ser encarada como um ranking da "bondade" generalizada das empresas ou da sua "responsabilidade social", na medida em que essa tarefa "está para além da nossa competência".
Uma última questão que merece também ser divulgada: o ranking foi feito em estreita parceria com o FSG, o think tank/consultora liderado por Mark Kramer e Michael Porter, os mesmos que inauguraram o conceito de criação de valor partilhado em 2011 (um movimento bem-sucedido e meritório que o VER tem vindo a acompanhar e sobre o qual fez um dossier especial) e também pela própria Shared Value Initiative (da qual ambos os autores fazem, obviamente, parte). Apesar de serem várias as empresas aderentes a este novo modelo de responsabilidade social, mais alargado, que o estão a cumprir com sucesso, e pese embora o facto de a própria Fortune afirmar que a responsabilidade final das empresas listadas (entre cerca de 200 candidatas)ter cabido aos editores da revista, com tantos outros modelos que estão também a ter resultados positivos e bem visíveis, talvez o ranking pudesse ter incluído outras empresas, ao mesmo tempo que a própria Fortune poderia ter explicado melhor a metodologia utilizada para a classificação das que o integram.
Todavia, as 51 eleitas conferem já um cenário promissor e incluem exemplos, transparentes, de umas quantas que, devido a más práticas passadas (como é o caso da 37ª classificada, a Nike), foram obrigadas a redimir-se e a fazer esforços genuínos de mudança para o tal mundo melhor. Na medida em que o espaço não permite elencar todas as empresas do ranking, o VER seleccionou algumas que, pelo seu impacto a uma escala considerável, merecem ser (re)conhecidas, e não propriamente pelo lugar melhor ou pior que alcançaram no mesmo.
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