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Défice do sono: o assassino da performance

Há várias décadas que se estuda a relação da privação do sono com a produtividade e a performance cognitiva e os resultados, se devidamente analisados, deveriam provocar insónia aos executivos de topo que ainda acreditam que, quanto mais horas trabalharem, mais produtivos serão os seus colaboradores. Uma viagem à fisiologia do sono e a alguns estudos que comprovam a sua importância não só para a produtividade corporativa mas, e sobretudo, para a saúde dos trabalhadores

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No universo das culturas corporativas, são muitas as que continuam a confundir a capacidade de se trabalhar longas horas seguidas com vitalidade e elevada performance. É comum assistir-se a uma espécie de concursos entre os mais ambiciosos dos gestores que, a todo o custo, pretendem ganhar o Óscar de quem mais horas trabalha, nem que seja somente para impressionar as chefias. Mas a verdade é que são também as empresas, especialmente, mas não só, nas áreas mais ligadas à consultoria, ao mundo financeiro ou às tecnologias, que estimulam – e premeiam – as longas jornadas de trabalho. Nada mais errado. Há mais de duas décadas que se estuda a relação da privação do sono com a produtividade e a performance cognitiva e os resultados, se bem analisados, deveriam provocar insónia aos executivos de topo que ainda acreditam que quanto mais horas trabalharem, mais produtivos serão os seus colaboradores.

 

Por outro lado, a somar aos exigentes horários de trabalho, as tecnologias cada vez mais omnipresentes na vida dos humanos, estão igualmente a contribuir para que se durma cada vez menos e pior, e apesar de os estudos sobre o sono não serem uma área de todo nova, os avanços na biologia e na neurociência dos últimos anos têm vindo a demonstrar o verdadeiro pesadelo em que a questão se está, crescentemente, a tornar. Não só para a produtividade das empresas, mas e mais importante que tudo o resto, para a nossa própria saúde.

 

De acordo com um estudo realizado em 2011, intitulado "Insomnia and the US Workforce", publicado na revista Sleep, os custos associados à privação e outras desordens do sono representam 11,3 dias perdidos de trabalho por ano, 2,280 dólares anuais por empregado, ou a módica quantia de 63,2 mil milhões de dólares para o total da força laboral norte-americana.

Apesar de ainda incipiente, a consciencialização por parte de algumas empresas no que respeita à forte relação entre o sono dos seus empregados e a sua produtividade começa a dar alguns sinais de interesse. Como afirmaStewart D. Friedman, professor de gestão e director do programa Wharton’s Work/Life Integration Project, ele próprio um acérrimo defensor e praticante de sestas, "estamos a começar a dar um excelente passo em frente, com base no movimento de potencial humano que teve início nos anos de 1960 e 1970, que visa apostar no bem-estar geral dos trabalhadores". Para o professor da Wharton School of Management, e no artigo Wake-up Call: Why Everyone Needs More Sleep, tal deve-se, em grande parte, "à economia dos cuidados de saúde e às evidências científicas que provam que a produtividade, em conjunto com a atracção e retenção de talentos, está dependente de se cuidar da pessoa ‘enquanto um todo’ para que tal seja positivo para as empresas, para as famílias e para as comunidades". Em contrapartida, e sendo esta uma questão cultural – a ideia de que ao se sacrificar as horas do sono em prol do trabalho é uma virtude – muito há ainda a fazer para que a questão do sono seja considerada como uma prioridade corporativa e também de saúde pública.

 

Assim sendo, talvez ajude levantar um pouco o véu da denominada "biologia do sono" pela mão de um dos mais reconhecidos especialistas da área, Charles Czeisler, professor de Medicina do Sono na Harvard Medical School, e que defende que as culturas empresariais que continuam a encorajar as longas jornadas de trabalho estão, simplesmente, a praticar a "antítese da boa gestão".

 

Fisiologia do sono e performance cognitiva

 

Numa longa entrevista publicada pela revista de Harvard, de acordo com Czeisler, existem quatro factores por excelência relacionados com o sono que afectam a nossa performance cognitiva. E o tipo de trabalho, em conjunto com as viagens que os executivos de topo são obrigados a fazer, representa desafios sérios para a sua capacidade de funcionar adequadamente, de acordo com estes mesmos factores.

 

  1. 1. O número de horas consecutivas em que se está acordado

O primeiro factor está relacionado com o mecanismo homeostático que conduz ao sono durante a noite, determinado em larga escala pelo número de horas consecutivas durante as quais nos mantemos acordados durante o dia. A maioria das pessoas está convencida que controla a altura em que vai adormecer e aquela em que tem de acordar, mas a verdade é que quando nos sentimos sonolentos, é o cérebro que, involuntariamente, assume o controlo. Quando a pressão homeostática para dormir fica "elevada o suficiente", alguns milhares de neurónios existentes no cérebro "ligam" a ignição do sono, como descobriu Charles Czeisler. Assim que tal acontece, o sono apodera-se do cérebro como se de um piloto ao volante de um automóvel se tratasse. E se, por acaso, estivermos mesmo atrás de um volante nessa altura, bastam três ou quatro segundos para sairmos da estrada.

 

 

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