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O ataque dos juros

Não será amanhã, mas mais juros vêm a caminho. A PROTESTE INVESTE explica-lhe como vão mexer com as suas poupanças e como deve reagir.

21 de Março de 2017 às 10:45
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A taxa de juro é, muitas vezes, definida como o preço do dinheiro. É o preço que o banco paga ao cliente por um depósito e o que exige quando concede um empréstimo para compra de casa. Estes exemplos demonstram que não existe "uma" taxa de juro, mas uma grande variedade de taxas, embora se encontrem relacionadas. Existem igualmente as taxas diretoras fixadas pelo Banco Central Europeu (BCE), as taxas Euribor, que refletem o financiamento entre os bancos, as taxas das obrigações que espelham o custo que os Estados e as empresas suportam quando contraem empréstimos nos mercados financeiros, entre outras. Na zona euro, o BCE usa sobretudo as taxas diretoras, sobre as quais tem controlo direto, para influenciar as restantes taxas. E, ao mexer nos juros, tem como objetivo final manter a estabilidade dos preços.

Nos últimos anos, o fraco dinamismo económico levou a taxa de inflação para valores perto de zero, ou seja, muito aquém da meta de 2% desejada pelo BCE. Para inverter essa situação, a instituição de Frankfurt utilizou diversos instrumentos para baixar os juros, estimular a procura e dar um impulso aos preços. O BCE conseguiu colocar as taxas Euribor abaixo de zero, baixando as prestações do crédito. Muitas famílias portuguesas beneficiaram de um alívio no orçamento. Só que, como em todas as políticas, há o reverso da medalha. Se aliviou os agentes económicos endividados e facilitou o acesso a quem procurava financiamento, também trouxe mais dificuldades para quem poupa.

Mudanças...em breve

A curto prazo, o próprio BCE não prevê alterar o rumo da sua política. No entanto, a médio prazo, o panorama vai mudar: a inflação está a aumentar, nomeadamente devido aos preços da energia. Mais tarde ou mais cedo, o BCE terá de se ajustar e o resultado serão taxas de juro mais elevadas. Nos Estados Unidos, os juros já estão a subir. A subida terá implicações óbvias nos depósitos a prazo, mas também noutros produtos de capital garantido e nas bolsas, com impacto naqueles que aplicam em fundos, obrigações e ações.

Ao mesmo tempo, é importante não esquecer que se prevê uma subida da inflação nos próximos anos. Com os preços a subirem mais depressa, o poder de compra é mais penalizado e o aumento do rendimento de algumas aplicações financeiras acabará por ser, pelo menos, parcialmente diluído. Ter um rendimento de 1% quando a inflação é nula é idêntico a receber 3% e a viver com uma taxa de inflação de 2%. Não se pode cair na ilusão monetária.

Impacte no aforro tradicional

As primeiras alterações terão lugar quando as taxas Euribor começarem a subir. Os Certificados de Aforro e as Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV), cujo rendimento está indexado à Euribor, estarão na linha da frente. Seguem-se os depósitos a prazo. Com o financiamento nos mercados a ficar mais caro, os bancos irão preferir recolher fundos junto dos clientes, cativando-os com taxas um pouco mais apelativas. O mesmo raciocínio se aplica ao Estado, que terá interesse em preferir o financiamento junto dos particulares, emitindo novas séries de Certificados do Tesouro Poupança Mais (CTPM) e de OTRV. O rendimento destas últimas depende da Euribor, mas cada nova série tem sido emitida com uma indexação menos vantajosa. No futuro próximo, é quase inevitável que o Estado venha a oferecer rendimentos mais elevados nas emissões de OTRV e, eventualmente, criando uma nova série de CTPM. Outra implicação da subida das taxas é que passará a ser mais interessante preferir depósitos com prazos mais curtos, para depois reinvestir beneficiando de juros mais elevados, do que imobilizar o dinheiro em contas com vencimentos muito longos. Contudo, é um cenário que ainda não chegou. Por isso, esteja atento às nossas análises.

Obrigações sob fogo

As obrigações são a vítima imediata quando sobem os juros. Como tipicamente pagam cupões fixados à partida (exemplo, Obrigações do Tesouro - OT), as novas emissões surgem com rendimentos mais vantajosos. Os investidores vendem os títulos antigos, baixando o seu valor (cotação) para comprar as mais recentes. Deste modo, a subida dos juros penaliza a cotação das obrigações já existentes. Esse mesmo fenómeno atingirá os fundos de obrigações, cujas carteiras são sobretudo compostas por títulos de taxa fixa, como as OT, e que são as mais comuns. Claro que o inverso também é verdade. O recuo das taxas ao longo dos últimos anos favoreceu a rentabilidade dos fundos de obrigações de taxa fixa. O problema é que, na conjuntura atual, a probabilidade de mais descidas são ínfimas. Pode ver essa relação na figura, onde colocamos lado a lado a evolução das taxas de juro das obrigações na zona euro e o valor do fundo Fidelity Euro Bond. A correlação nunca é exata, mas uma subida em 1% na taxa de juro de mercado (obrigações) tenderá a implicar, em média, uma desvalorização de 5% num fundo com estas características. O nível de solidez dos emitentes e a maturidade das obrigações selecionadas também influenciam a sensibilidade de cada fundo.

Ações não escapam

Quanto às ações, se isolarmos o efeito da subida dos juros, também será negativo, mas bastante menos direto do que nas obrigações. Em primeiro lugar, quando o financiamento fica mais caro, as empresas têm mais custos, gerando menos lucros e pagando menos dividendos. Em segundo, com os mercados obrigacionistas a gerar rendimentos mais elevados, as ações ficam comparativamente menos interessantes. Até agora, com as obrigações a renderem quase nada, a maioria das empresas oferecia perspetivas de ganhos apelativos. Ao longo dos próximos trimestres, a comparação será mais exigente para as ações.

Recomendações

O ideal é, como sempre, manter uma boa diversificação. Nas poupanças aplicadas a curto prazo é importante estar atento à evolução da oferta de depósitos e de dívida pública. Atualmente, os CTPM são a melhor opção para quando se quer o capital garantido, mas os próximos meses poderão trazer outras opções interessantes.

No que concerne às poupanças investidas a longo prazo, não deve descurar as obrigações que possam retirar ganhos dos fatores cambiais e que não dependem apenas do comportamento das taxas de juro. É com essa premissa que recomendamos fundos de dívida denominada em coroa sueca (SEK) e norueguesa (NOK).

Os fundos de obrigações euro de taxa fixa, por não terem potencial cambial, são os mais expostos à subida dos juros. Contudo, esse risco não é muito elevado, pois o Banco Central Europeu tentará evitar uma subida abrupta das taxas na zona euro. Além disso, se o aumento dos juros for demasiado acentuado, coloca perigo o crescimento global, atingindo as bolsas e os fundos de ações. Nesse cenário, os investidores irão procurar refúgio nas obrigações de melhor qualidade (emitentes sólidos). Ou seja, será pouco prudente colocar toda a carteira em fundos de ações. Por enquanto, os fundos de obrigações de taxa fixa em euros continuam a ser uma opção para as carteiras recomendadas. Pode consultar as estratégias atuais no site da PROTESTE INVESTE".

Quanto ao investimento direto, como as Obrigações do Tesouro, continuamos a não recomendar. O nível de juros ainda não é apelativo e, ao contrário dos fundos, são pouco adequadas para diversificar. Por seu turno, a compra de OTRV teve os seus atrativos e recebeu a nossa recomendação desde que pudesse aplicar mais de 5 mil euros. Aguardamos as características das novas emissões...


Este artigo foi redigido ao abrigo do novo acordo ortográfico.


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