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Decida se é um euro-optimista ou um catastrofista. Decida-se com ponderação, mas decida-se depressa: as melhores soluções de aforro dependem da sua convicção sobre o futuro

30 de Julho de 2012 às 10:22
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A crise económica vivida em Portugal, as hesitações dos governos europeus, o mau exemplo grego, o estado calamitoso de muitos bancos espanhóis. Estes são alguns dos motivos que fazem muitos portugueses temer pela segurança das suas poupanças. Ainda há poucos anos, a solidez da nossa banca e a presença de Portugal no euro eram factos incontestados. Com o pedido de auxílio financeiro externo em 2011 e o regresso do FMI a Portugal, voltaram a soar os alarmes. Além disso, a comparação com a Grécia é inevitável, o que naturalmente deixa muitos investidores inseguros. Será que caminhamos para o abismo? A PROTESTE INVESTE acredita que não.

A crise política, económica e financeira que assola a Zona Euro não pode ser ignorada. A incerteza é elevada e há vários desfechos possíveis para Portugal e para o euro. Contudo, também não existem razões objetivas para esperar uma catástrofe. Mostramos-lhe, por ordem decrescente de probabilidade, quatro cenários para o futuro de Portugal e do euro e indicamos-lhe os investimentos mais adequados para enfrentar esses futuros alternativos.

Realista e prudente
Acreditamos que Portugal continuará no euro e que o Estado não irá renegociar a dívida pública. Com base nos dados atuais, consideramos que esse é o cenário com maior probabilidade de acontecer. Porém, seria um erro crasso considerar que a crise económica na Zona Euro, particularmente em Portugal, não tem implicações diretas nos investimentos.

A dívida pública nacional tem maior risco que há alguns anos e a bolsa de Lisboa reflete necessariamente o mau desempenho económico nacional. Por isso, aconselhamos carteiras de investimento nas quais predominam mercados fora do euro. Todavia, mantemos um máximo de 20% aplicado em certificados do Tesouro nas carteiras e aconselhamos a compra de algumas ações nacionais. Defendemos que uma carteira prudente deve equilibrar a procura de aplicações financeiras mais rentáveis com um nível de risco aceitável.

Reestruturação da dívida pública
É consensual que a situação vivida em Portugal é muito distinta da testemunhada pela Grécia. O nosso país tem cumprido o acordo estabelecido com a Comissão Europeia (CE), o FMI e o Banco Central Europeu (BCE). A situação económica portuguesa apesar de muito grave, é consideravelmente melhor que a grega. Até agora, o produto interno bruto (PIB) grego caiu 17% face a 2007, enquanto por cá a queda acumulada está em 6 por cento. Esta menor contração da atividade tem permitido limitar a expansão do peso da dívida pública e não obrigou Portugal a renegociar com os credores, tal como fez a Grécia.

Tudo indica que os nossos parceiros continuarão a financiar Portugal se, por motivos externos, o país não puder voltar a contrair empréstimos junto dos mercados internacionais. Por isso, é muito remota a hipótese do Estado português ter de reestruturar a dívida.

Embora seja uma hipótese remota, se Portugal fosse pelo caminho grego, o que aconteceria aos seus investimentos? O impacto direto seria naturalmente na dívida pública: Certificados de Aforro, Certificados do Tesouro e Obrigações do Tesouro. Uma reestruturação, mesmo que feita com o acordo dos investidores, significa que as condições iniciais não são cumpridas pelo Estado. Há vários resultados possíveis. O menos lesivo implica que os credores recebem os juros e o capital mas mais tarde. Outra hipótese é a redução ou eliminação dos juros. A solução mais negativa para o investidor, como aconteceu na Grécia, implica que boa parte do capital nem sequer é reembolsado. Assim, se antevê que o Estado português não irá respeitar os seus compromissos financeiros, fique afastado da dívida pública nacional.

A bolsa de Lisboa também seria bastante penalizada por um incumprimento estatal. O setor financeiro seria a grande vítima, mas todo o tecido empresarial português iria sofrer consideravelmente pela falta de crédito. Até hoje, a bolsa de Lisboa recuou 66% face ao máximo de 2007, mas Atenas perdeu mais de 90% num período semelhante. "Queimados" pelos prejuízos causados pelo Estado, a maioria dos investidores internacionais abandonaria a praça lisboeta e não concederia crédito às empresas. As consequências seriam transversais ignorando por completo a especificidade dos negócios. Até as empresas menos expostas ao mercado interno seriam arrastadas pela espiral negativa. Se acredita num cenário de reestruturação da dívida pública, fique afastado também da bolsa nacional.

Portugal diz adeus ao euro
A austeridade imposta pelo acordo celebrado com a troika (FMI, CE e BCE) tem implicado grandes sacrifícios para a maioria dos portugueses. O Governo terá de manter os compromissos assumidos, isto é, continuar a política de austeridade para continuar a receber o auxílio financeiro. Mas será que não há alternativas? Sim: além de reestruturar a dívida, Portugal pode sair da Zona Euro. Ao enveredar por esse caminho, poderia converter a dívida que tem em euros numa nova moeda (por exemplo, o novo escudo). O Banco de Portugal voltaria a dispor de autonomia, podendo emitir moeda para que o Estado pagasse as dívidas. Além disso, um novo escudo possibilitaria uma desvalorização cambial e a recuperação da competitividade das empresas nacionais.

Esta teoria parece uma rosa, mas é preciso não esquecer os espinhos: a saída da Zona Euro teria implicações catastróficas para Portugal ou qualquer outro país que seja forçado a abandonar a moeda única. O país teria de impor controlo de capitais e ficaria isolado do mundo.




Quem é que venderia bens a Portugal em troca dos novos escudos? Os nossos credores, como o FMI, decerto não iriam aceitar receber em escudos os milhares de milhões que nos emprestaram. Ninguém emprestaria dinheiro a Portugal durante anos! O Estado, as empresas, as famílias perderiam todo o acesso ao crédito. O setor financeiro nacional implodiria, os preços dos bens importados disparariam e a economia entraria em completo colapso. A queda do PIB atingiria dimensões incalculáveis e o desemprego dispararia para valores ainda mais elevados. Perante esse cenário, a atual austeridade seria apenas uma ligeira dor de cabeça A crise da dívida aumentou os riscos para Portugal, mas é altamente improvável que deixemos a Zona Euro.

A inexistência de precedentes e de um enquadramento legal para a saída de um país do euro torna extremamente difícil saber que investimentos são seguros nessa eventualidade. Há numerosas questões técnicas e legais que ninguém sabe responder.

Os depósitos seriam convertidos na nova moeda, perdendo grande parte do seu valor real. Mas o que aconteceria às contas em bancos estrangeiros, incluindo os que atuam em Portugal? Qual a autoridade legal do Estado? E os fundos de investimento em ações e obrigações estrangeiras: tendo em conta que esse património não está efetivamente em Portugal, o seu valor deveria manter-se intocável.

Há outra questão mais prática: o que aconteceria às moedas e às notas de euros? Estas continuariam a ser aceites no resto da Zona Euro, pelo que talvez fosse mais seguro ter todo o dinheiro debaixo do colchão do que no banco.

Sem respostas inequívocas não é possível delinear uma estratégia clara. Em termos económicos, todos os depósitos e investimentos realizados fora de Portugal, diretamente ou através de fundos, não seriam atingidos pela nossa saída da Zona Euro. O valor das unidades de participação de um fundo de ações norte-americanas estaria tão protegido como um depósito num banco suíço. Contudo, numa situação extrema, como a saída do euro, é altamente provável que o Estado tomasse medidas que, no enquadramento atual, seriam consideradas ilegais. Congelamento de contas, controlo de capitais, conversão forçada para a nova moeda são alguns exemplos. Nesse cenário, o seu património financeiro dificilmente estaria totalmente a salvo. Uma solução mais segura passaria por abertura de conta no estrangeiro, mas mesmo nesse caso poderia ser difícil aceder ao seu património. O Estado poderia taxar substancialmente as transferências de dinheiro para Portugal.

Euro "kaput"
O fim da moeda única europeia é pura e simplesmente impensável. A desintegração da área do euro e o regresso às moedas nacionais teria consequências catastróficas para a economia mundial. Os créditos, os investimentos, os depósitos, os acordos internacionais... tudo o que está em euros passaria para moedas cujo valor seria totalmente desconhecido. Mas, na maior parte dos casos, valeria muito menos do que antes. O sistema financeiro internacional entraria em colapso. Se a falência do banco norte-americano Lehman Brothers provocou a maior crise económico-financeira desde a Grande Depressão, imagine-se a falência em catadupa dos bancos e de muitos Estados. As garantias dos depósitos tornar-se-iam ínfimas e totalmente irrelevantes. O comércio internacional ficaria paralisado, as bolsas seriam dizimadas e a economia mundial retrocederia vários anos. Neste cenário de catástrofe, todo o seu património financeiro esfumar-se-ia e até o valor do património imobiliário ficaria consideravelmente minguado. Os únicos ativos que manteriam valor seriam os metais preciosos (ouro, prata) ou pedras preciosas (como diamantes). Também é expectável que as notas de dólares conservassem boa parte do seu valor real, dada a característica de refúgio desta moeda, sobretudo em caso de desaparecimento do euro.

Caso queira estar preparado para um cenário de catástrofe, não pode ignorar os custos dessa opção. A Zona Euro pode continuar a sua vida, enquanto os metais preciosos e os dólares que comprou para a pior das eventualidades, podem perder valor. Além disso, o dinheiro que aplicou nesses refúgios poderia ter sido investido em aplicações bem mais rentáveis. O ouro e o papel-moeda não rendem juros nem pagam dividendos.




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