Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Divisas para reinar

É o maior mercado financeiro do mundo. Funciona 24 horas e movimenta mais de 5 biliões de dólares por dia. Exige preparação e dedicação (quase) total para ganhar dinheiro. Há quem enriqueça, mas o risco de perder tudo é real.

26 de Novembro de 2019 às 11:00
  • ...
Conhecido como forex (acrónimo da expressão em inglês foreign exchange) ou, simplesmente, FX, o mercado cambial anda nas bocas do mundo como se fosse a árvore das patacas e pudesse deixar milionário qualquer investidor de um momento para o outro. Pululam na internet cursos rápidos e vídeos a explicar como investir e ganhar dinheiro.

Em que consiste o forex? Trata-se de um mercado internacional de divisas no qual são transacionadas todas as moedas do mundo. Movimenta por dia mais do que todos os mercados de títulos (ações e obrigações) juntos. Não funciona em nenhum edifício, nem é regulamentado como a bolsa. É apenas digital. Basta ter um computador ou outro dispositivo ligado à internet.

Funciona cinco dias por semana, 24 horas por dia. A abertura coincide com a bolsa de Sydney (às 22 horas de domingo, em Lisboa) e o encerramento de Nova Iorque (às 21 horas de sexta-feira, em Lisboa). Ou seja, só não opera ao fim de semana.

Todos os dias, bancos centrais e privados, multinacionais, fundos de investimento e corretoras negoceiam divisas. São os maiores "players" do mercado. Uns fazem-no para influenciar o curso da sua divisa, outros para se precaverem contra as oscilações monetárias.

Nos últimos anos, porém, os investidores privados e especuladores começaram a investir cada vez mais. Sobretudo depois do lançamento da plataforma Meta Trader, que tornou o processo mais simples e compreensível, e contribuiu para o aparecimento de centenas de operadoras online.

Uma boa dose de especulação

No início, o mercado de divisas tinha como objetivo principal fazer funcionar o sistema monetário internacional para reduzir o risco cambial nas transações. Atualmente, uma boa parte do volume transacionado resulta de pura especulação (conhecida em inglês por "trading for profit"). Ou seja, os particulares entraram na festa, que antes era apenas dos "big players".

Todo este fluxo de transações, de compra e venda influencia a taxa de câmbio de uma moeda, num determinado momento, que valoriza ou desvaloriza, segundo a lei da oferta e da procura. Cada divisa é reconhecida por um trigrama e 85% das negociações quotidianas recaem sobre apenas sete: dólar americano (USD), dólar australiano (AUD), libra esterlina (GBP), dólar canadiano (CAD), euro (EUR), iene japonês (JPY) e franco suíço (CHF).

A compra de uma moeda envolve sempre a venda simultânea de outra. Por isso, são negociadas em pares. Por exemplo, EUR/ USD. Neste caso, o euro é a divisa de base e o dólar a divisa de preço ou de cotação. EUR/USD = 1,10414 significa que 1 euro vale 1,10414 dólares. Por outra palavras, ao preço de compra ("bid") corresponde um preço de venda ("ask"). Na prática, o investidor não está a comprar euros ou dólares, mas uma taxa de câmbio entre duas moedas, que está constantemente a mudar. Para ganhar, precisa de acertar se vai subir ou descer.

Como as taxas de câmbio alteram milésimas de fração, os ganhos ou as perdas são medidos em pip ("point in percentage"), também conhecidos como pontos. Correspondem à quarta casa decimal de um par de moedas, que é a menor unidade. Única exceção: o iene japonês, em que conta a segunda casa decimal. Vamos a um exemplo: se investir 100 mil euros num lote no EUR/USD e a cotação subir 10 pip a seu favor, ganha 100 euros (100.000×0,0010 = 100).

Todo o cuidado é pouco com a alavancagem

O que torna o forex tão apetecível é o facto de poder proporcionar ganhos muito elevados. O risco, porém, também é altíssimo. Num abrir e fechar de olhos, o montante investido pode ficar reduzido a zeros.

A maioria das corretoras "empresta" dinheiro aos investidores para negociar.

Chama-se a isso alavancagem. O objetivo é multiplicar os ganhos. Por exemplo, imagine que tem 2 mil euros e a corretora propõe-lhe uma alavancagem de um para trinta. Na prática, a sua posição de negociação será de 60 mil euros.

Se ganhar 4,5 pip, recebe 27 euros, em vez de 90 cêntimos.

Contudo, não há bela sem senão.

Da mesma forma que a alavancagem potencia os ganhos, faz disparar as perdas. Por essa razão, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) impôs limites aos riscos que os investidores não profissionais podem incorrer.

Os intermediários financeiros não podem, de acordo com um regulamento publicado em julho, oferecer uma alavancagem superior a 30 vezes para seis das principais divisas (EUR, USD, GBP, CHF, CAD, JPY), e 20 vezes para as restantes. E quando o valor da conta cai para menos de metade da margem inicial, são obrigados a fechar a posição para garantir que o investidor não perde mais dinheiro do que aquele que depositou na conta. A CMVM proibiu ainda a publicidade a CFD (contratos diferenciais), um instrumento financeiro que permite ganhar (ou perder) dinheiro com a diferença entre o preço de compra e de venda de divisas ou outros produtos.

Dedicação, disciplina e vontade

Antes de se aventurar, deve responder às seguintes questões: faz ideia dos movimentos do mercado cambial? É disciplinado a ponto de acompanhar de perto as suas posições (não se esqueça de que o forex está aberto 24 horas por dia)?

Assume apenas riscos calculados? Tem tempo disponível para negociar? Se a resposta a qualquer uma destas questões é negativa, então não invista. O mais certo é engrossar a lista de perdedores.

Um investidor de sucesso usa sempre ferramentas para decidir a direção dos "trades". Procura ter, de forma consistente, um número de posições ganhadoras superiores às perdedoras e utiliza "stop losses" - ordens para os ativos serem vendidos se caírem abaixo de um certo valor -, para controlar o risco e evitar grandes perdas que lhe anulem os ganhos.

Infelizmente, somos impelidos a fazer o contrário do que ditam as boas práticas.

São os chamados "viés comportamentais" ("behavioral biases"). A aversão às perdas leva muitos investidores a ficarem agarrados a posições perdedoras na esperança de que recuperem. Ou, então, vendem demasiado cedo as posições vencedoras com medo de perder os ganhos obtidos. É também frequente o excesso de confiança (acreditar que se tem melhor informação do que o mercado) ou a ganância (fazer umas poucas "apostas em grande", em vez de procurar metodicamente ganhos menores mas com risco limitado).

Razões suficientes para defendermos que apenas os profissionais ou especuladores, com a perfeita noção do risco em que incorrem, possam investir. Se não é esse o seu caso, fique afastado. Lembre-se de que, segundo a Autoridade Europeia dos Valores Mobiliários e dos Mercados, entre 74% e 89% dos investidores em forex perdem dinheiro. Não é a árvore das patacas, sendo terreno fértil para propostas desonestas, que prometem ganhos rápidos e fáceis. É caso para dizer que, quando a esmola é grande, o pobre desconfia.


1. Por sua conta e risco

Dificilmente ganhará dinheiro depois de fazer um curso de negociação no forex em apenas um fim de semana. É um mercado complexo que precisa de ser bem estudado. Exige persistência, vontade e dedicação. Uma forma de ganhar experiência é treinar numa conta de demonstração grátis disponibilizada por muitas corretoras. Pode consultar as nossas previsões para as diferentes divisas em https://www.deco.proteste.pt/investe/investimentos/mercados-moedas.

Vantagens
• Decide as ordens de negociação como bem entende.

Desvantagens
• Se não é um "trader" com experiência, arrisca-se a perder muito dinheiro.

O nosso conselho
Antes de escolher uma corretora, verifique se está registada na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) ou noutra entidade supervisora estrangeira. As corretoras de confiança contêm o número de registo e de licença, informações de contacto e, de preferência, os termos e condições. Observe também os dados bancários do site de "trading". A informação que encontra em fóruns ou sites, que comparam corretoras, nem sempre é fiável.

Muitas vezes, têm interesses financeiros por trás. Esteja atento aos alertas da CMVM sobre as entidades não autorizadas a desenvolver qualquer atividade de intermediação financeira. Preste também atenção às corretoras que dão consultoria. Esta não é a sua função. Estão proibidas de dar sugestões de investimento ou garantir lucros. Desconfie. As corretoras servem apenas para executar ordens de mercado. As boas e sérias fornecem uma lista de preços e estatísticas das ordens executadas. Por último, nunca invista dinheiro emprestado (atenção à alavancagem) ou de que não possa abdicar.


2. Faça você mesmo, mas use sinais

A maioria dos investidores não tem tempo, nem disciplina para acompanhar a evolução do mercado. É, no entanto, possível negociar com a ajuda de sinais, que mais não são do que recomendações. Basta pesquisar no Google "sinais forex" ou "alertas forex" e encontrará centenas de fornecedores. Alguns são gratuitos, mas a maioria custa entre 100 e 300 euros por mês. Após subscrever o serviço, os sinais são comunicados através da internet, enviados para o seu telefone, email ou WhatsApp. Sempre em inglês. Alguns têm de ser inseridos manualmente, outros funcionam de forma automática na conta.

Apenas tem de deixar a plataforma aberta para o sistema copiar para a sua conta todas as operações que o sinal emite.

Vantagens
• Funcionam e estão vigilantes 24 horas por dia;
• Podem ser usados em qualquer corretora;
• Permitem o acesso a estatísticas sobre os sinais que estão na conta;
• Permitem configurar o valor das entradas e das perdas máximas.

Desvantagens
• Há muitos fornecedores de sinais não credíveis;
• Não conseguem antecipar a evolução do mercado com exatidão.

O nosso conselho
Testámos durante dois meses uma dezena de sinais para saber se valia a pena subscrever o serviço. Três quartos revelaram ser exatos, enquanto os restantes mostraram ser tão fiáveis como atirar uma moeda ao ar. Ficámos surpreendidos com o vaivém infindável de sinais, bem como com a quantidade de fornecedores bons e maus.

Os bons foram úteis em três quartos das negociações.


3. Recorra a um robô

A terceira opção consiste em comprar ou alugar um robô que negoceie por si. A plataforma MetaTrader, por exemplo, tem centenas à escolha, desenhados por especialistas, uns mais famosos do que outros, que pode escolher consoante a estratégia que pretende seguir, seja principiante ou profissional. Na prática, o robô mais não é do que um programa que transaciona no mercado, seguindo uma estratégia que se pode basear em análise técnica, na atualidade económica, sobre os movimentos do mercado, etc. O custo varia entre nada e vários milhares de euros. A maioria cobra entre 100 e 300 euros.

Vantagens
• Operam de forma autónoma, 24 horas por dia, o que significa mais oportunidades de negociar;
• Registam os histórico de todas as ordens. Pode consultá-las e estudá-las em qualquer momento;
• Não têm emoções. Por isso, são disciplinados, não hesitam nem têm medo de negociar quando o mercado está instável;
• Determinam os valores de "stop loss" e não os alteram. Ao contrário, muitos investidores deixam a operação aberta na esperança de que o preço reverta, acabando por perder ainda mais dinheiro.

Desvantagens
• É preciso saber separar o trigo do joio, ou seja, escolher bem o tipo de robô. Alguns não funcionam bem.

O nosso conselho
Após testarmos uma dezena de robôs apreciados por um grande número de utilizadores, durante alguns meses, concluímos que havia apenas dois que funcionavam bem (Battefield V2 e Thunder Bird V8). Três obtiveram resultados ligeiramente inferiores à média e alguns avariaram.


4. Siga a estratégia de outra pessoa

Porquê aventurar-se sozinho no mercado de divisas se há pessoas mais competentes e pode copiar as ordens delas? Chama-se a isso "copytrade". Como funciona? Subscreva uma plataforma de sinais "copytrade" e siga as estratégias dos profissionais selecionados. Cada vez que é dada uma ordem, é enviado um sinal que automaticamente executa a mesma transação na sua conta. Custa entre 20 e vários milhares de euros por mês.

Vantagens
• Mesmo sem qualquer experiência em negociação, pode lucrar copiando as ordens de operadores profissionais, desde que credíveis e eficazes.

Desvantagens
• É preciso encontrar um "copytrader" digno de confiança, e experiente. Mesmo que o encontre, os ganhos do passado não são garantia de ganhos futuros;
• Um "copytrader" não se preocupa com o montante que o investidor tem na conta, ou se este quer assumir mais ou menos risco.

O nosso conselho
O sistema está ao alcance de todos e é fácil de implementar. A dificuldade é escolher.

Para saber se está perante um bom ou mau "copytrader", esteja atento aos resultados das suas negociações. Isso permite ver o que ganharam e perderam, em quantas transações foram bem ou malsucedidos, e qual a perda máxima em cada. Contudo, não é porque um profissional fez um bom trabalho ou correu poucos riscos no passado que será bem sucedido no futuro. Não faltam testemunhos de investidores, que foram abandonados de repente por bons "copytraders", ou que derraparam e assumiram demasiados riscos, derretendo os ganhos.


5. Confie a conta a um terceiro

Esta opção consiste em contratar um profissional que negoceia em seu nome, confiando-lhe os dados pessoais de acesso à plataforma. Na prática, está a delegar a negociação a uma terceira pessoa, que atua de acordo com o seu perfil. Escusado será dizer que a gestão do risco é, nesta opção, essencial. O serviço, como imagina, não é gratuito. Em regra, o gestor pede um terço do que ganhar por semana. Mas há quem cobre metade.

Vantagens
• Um bom gestor fará tudo para que ganhe, gerindo a conta de forma prudente. Ambos saem beneficiados.

Desvantagens
• É preciso descobrir um bom profissional, e de confiança, que não corra riscos desnecessários ou contra a sua vontade. Isso requer tempo e a pesquisa de informações. Ainda que encontre, não há garantia de ser bem-sucedido.

O nosso conselho
A confiança é o elemento-chave desta forma de negociar no mercado de divisas. O desejável é que o gestor possa fazer tudo ou quase tudo, menos tirar dinheiro da conta. O ideal é que os dois saiam a ganhar, ainda que tenha de abdicar de até metade dos lucros. O pior é se lhe sai na rifa um gestor pouco escrupuloso, que aposta com o dinheiro dos outros e, por isso, pode arriscar demasiado. Neste caso, o seu dinheiro pode esfumar-se.

A menos que tenha uma fonte fiável que lhe garanta que aquele gestor é confiável para negociar em seu nome, achamos que é demasiado arriscado depositar numa terceira pessoa essa tarefa. Não faltam por aí especuladores que o tentarão seduzir com promessas baseadas em ganhos obtidos no passado.
Ver comentários
Saber mais deco proteste divisas
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio