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Dez empresas amigas dos acionistas

A PROTESTE INVESTE selecionou dez empresas baratas que remuneram os acionistas a uma taxa acima de 5%. O dividendo é muito importante para aumentar o rendimento da sua carteira de ações, mas não deve ser o único critério de escolha

No dia 9 de Fevereiro, a Europa acordou em sobressalto. Os mercados bolsistas estavam a 'derreter' e a fuga de capitais para os refúgios - ouro e dívida alemã - dava sinais de que o caso era sério. No final do dia, os piores cenários confirmaram. O índice bolsista de banca perdeu quase 30%, as quedas da bolsa oscilavam entre os 18,5% de Frankfurt e os quase 40% de Atenas, com os índices a regressarem à década de 90. O receio em torno da fragilidade financeira da Europa, com o Deutsche Bank à cabeça, assustou muita gente. Dois dias depois, a tempestade desapareceu do mapa.
Bloomberg
03 de Maio de 2017 às 12:46
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Há duas formas de ganhar dinheiro ao investir em ações: através das eventuais mais-valias geradas pela diferença entre o preço de venda e o preço de compra do título e através dos dividendos, que correspondem à fração dos lucros de uma empresa que é distribuída aos acionistas. Ambas são importantes, embora muitos investidores tendam a focar-se mais nas subidas e descidas diárias das cotações, esquecendo-se da importância que os dividendos podem ter numa estratégia de investimento a longo prazo.

A título de exemplo, se considerarmos que os dividendos recebidos eram reinvestidos na compra de ações da mesma empresa (reinvestimento dos dividendos), o desempenho da bolsa de Lisboa nos últimos 15 anos passa de muito negativo a positivo.

De facto, o índice PSI-20 acumulou uma queda de 37,6% neste período. Mas se incluirmos os dividendos, há uma evolução positiva de 5,9%. Dito de outra forma, passamos de uma variação negativa de 3,1% ao ano para uma subida anual de 0,4%.

Energia lidera escolhas

A forma mais usual de medir a rentabilidade do dividendo é compará-lo com a cotação da ação (rácio dividendo/cotação). É o que se designa por rendimento do dividendo ("dividend yield" na terminologia inglesa), que é expresso em percentagem. De facto, um dividendo de 50 cêntimos por ação não tem a mesma rentabilidade para uma empresa cotada a 10 ou a 20 euros, sendo de 5% e 2,5%, respetivamente.

Por norma, nos períodos em que as bolsas estão em alta, como acontece atualmente, o rendimento médio dos dividendos tende a diminuir e vice-versa, porque a variação das cotações é superior à dos dividendos. Prova disso é o facto de as dez ações eleitas nesta edição com base neste critério terem um rendimento médio esperado do dividendo de 6,3%, contra 7,3% dos títulos escolhidos em 2016.

Mais importante do que os dados históricos é o rendimento do dividendo estimado para os anos seguintes, já que isso permite ter uma ideia mais precisa do que esperar do investimento. Por isso, utilizámos nas nossas escolhas o valor do dividendo antes de impostos estimado para 2017, que será recebido apenas em 2018.

Além disso, restringimos a seleção apenas às ações que têm conselho de compra (37 atualmente), já que, apesar da sua importância, o rendimento do dividendo nunca deve ser o único critério de escolha de uma ação. É preciso considerar outros fatores. Daí que o modelo de avaliação de ações da PROTESTE INVESTE resulte da combinação de vários indicadores, como os rácios cotação/lucro, cotação/"cash flow", cotação/valor contabilístico e o rendimento esperado a longo prazo (com base no modelo dos dividendos descontados) relativamente ao risco.

Assim, à semelhança do que fizemos noutros anos, selecionámos dez ações com conselho de compra que se destacam pelo elevado rendimento do dividendo, prevendo-se que em todas elas seja superior a 5%. O setor energético é claramente o mais representado, sendo que, como este foi o critério primordial, a diversificação da carteira obtida é diminuta, o que lhe confere um risco superior. Isso justifica também o facto de estas escolhas diferirem um pouco da carteira de ações recomendada pela PROTESTE INVESTE, que pode ser acompanhada em www.deco.proteste.pt/investe/carteira-acoes.

Sinal de vitalidade financeira

Quando um investidor compra uma ação está a adquirir uma parte da empresa. Torna-se coproprietário e, por isso, tem direito a receber a parte correspondente dos resultados da sociedade, caso esta decida distribuí-los pelos acionistas. Obviamente, os lucros podem ficar retidos na empresa para investir, diminuir a dívida ou satisfazer outras necessidades futuras. Se a empresa tiver uma tesouraria robusta, tenderá a distribuir dividendos mais elevados.

Logo, a distribuição de dividendos é, por norma, um sinal de vitalidade financeira da firma, embora a não distribuição não deva ser encarada necessariamente como uma mau sinal. Nas empresas que estão em fase de crescimento, é compreensível e até saudável que não haja distribuição de dividendos elevados porque necessitam do capital para investir.


6,3%
Este é o rendimento médio esperado das dez ações eleitas pela PROTESTE INVESTE.

5,9%
Nos últimos 15 anos, o índice PSI-20 teve uma evolução acumulada positiva graças aos dividendos.


A decisão de aplicação dos resultados do exercício e, consequentemente, da distribuição ou não de dividendos e do seu montante, cabe à assembleia-geral de acionistas, sob proposta da administração. Na prática, o seu valor é creditado diretamente na conta de títulos do investidor junto do intermediário financeiro.

Em Portugal, regra geral, o dividendo é pago uma vez por ano, normalmente em abril e maio, após a divulgação dos resultados do ano anterior. Mas há empresas que pagam, com regularidade, dividendos mais do que uma vez por ano, por exemplo, semestralmente, como é o caso da Galp Energia. Outra possibilidade é a empresa pagar dividendos através da emissão de novas ações, que são distribuídas gratuitamente aos acionistas.

Não compre só para receber dividendos

Para ter direito aos dividendos não é preciso ser acionista da empresa durante um determinado período de tempo. Basta que possua as ações no final da sessão anterior ao chamado dia de ex-dividendo. Este dia é o primeiro em que as ações negoceiam sem direito a receber o próximo dividendo e, em Portugal, ocorre três dias úteis antes do pagamento do mesmo. Ou seja, basta deter as ações no final do quarto dia útil anterior à data-valor (data efetiva) de pagamento do dividendo. Em algumas ações estrangeiras, a data ex-dividendo pode ocorrer várias semanas antes do seu pagamento efetivo.

Por esta razão, na ânsia do "ganho" rápido de curto prazo, muitos investidores tendem a comprar ações de empresas que distribuem dividendos nas vésperas da data ex-dividendo. Esta é uma estratégia errada, que não aconselhamos. Além de muitas vezes não haver outros critérios na escolha dos títulos, quando a firma distribui dividendos há uma saída de valor da empresa para o acionista. Logo, na data ex-dividendo, a cotação da ação tende a descer num montante equivalente a esta saída de capital, pelo que o seu património fica inalterado: o que recebe em dividendos equivale ao que a ação cai em bolsa. Em resumo, não compensa comprar uma ação para ter direito ao dividendo e vendê-la no dia seguinte.

Em termos teóricos, não terá qualquer ganho. Pelo contrário, terá uma perda equivalente ao efeito fiscal (ver caixa Fiscalidade dos dividendos) e aos custos de transação em bolsa. Obviamente, na prática, na data ex-dividendo a cotação até poderá subir ou cair mais do que o valor do dividendo, mas devido a outros motivos alheios à distribuição de dividendos.

O princípio fundamental que a PROTESTE INVESTE defende para investir em ações é sempre o mesmo: não invista a pensar no curto prazo. Mesmo numa estratégia de caça aos dividendos, o horizonte temporal deve ser sempre o longo prazo. A título de exemplo, a seleção de ações elaborada em 2016 pela PROTESTE INVESTE com base no dividendo rendeu apenas 0,7% (em euros e com reinvestimento dos dividendos) em 11 meses, ainda assim, acima da evolução da bolsa nacional (-4,4%). Mas, o período de análise é muito curto. É pouco tempo para tirar conclusões definitivas, até porque investimos sempre numa perspetiva de longo prazo.


Empresas que superam os 5%

Das 37 empresas da nossa seleção cuja compra recomendamos, selecionámos dez com um rendimento bruto do dividendo previsto para este ano superior a 5%.

CTT


Apesar do declínio estrutural do seu negócio tradicional (serviços postais), a política de distribuição de elevados dividendos mantém-se graças à boa solidez financeira do grupo.



GTT


O grupo francês, líder tecnológico no transporte de gás natural liquefeito, beneficia de algumas melhorias da conjuntura setorial e confirmou a manutenção do seu elevado dividendo em 2016 e 2017.


REN


O baixo risco da sua atividade, que é muito regulada, a relativa estabilidade dos resultados e a prudência na estratégia de internacionalização permitem à REN pagar bons dividendos.


EDP


A elétrica combina um perfil de baixo risco com boas perspetivas de crescimento, sobretudo nas renováveis, e gera liquidez suficiente para distribuir bons dividendos, apesar de a dívida ser um pouco elevada.


ENAGAS


É uma empresa sólida, que transporta, armazena e gaseifica gás natural. A sua atividade é muito regulada, pelo que os resultados são estáveis, o que lhe permite pagar bons dividendos.


Vodafone Group


Especializada em comunicações móveis, tem reforçado as suas ofertas combinadas (móvel, fixo, internet e televisão). Esta aposta deverá estimular os resultados, até porque as necessidades de investimento são agora menores.

Engie


Num contexto de queda dos preços da energia, a Engie divulgou bons resultados em 2016, apostando na venda de ativos e na redução dos custos. Assim, a remuneração aos acionistas deverá manter-se atrativa.


Axa


A aposta em produtos mais rentáveis, nos mercados emergentes e na era digital potencia o crescimento do grupo, que continua a fazer apenas pequenas aquisições e a distribuir um dividendo elevado graças à sua boa solidez financeira.

Generali


A aproximação ao banco Intesa Sanpaolo (que nos parecia difícil) não avançou, e apesar de a conjuntura italiana ser um pouco incerta, a ação está barata e o grupo reafirmou o compromisso com uma política de dividendos generosa.

Telefônica Brasil


A filial da espanhola Telefónica no Brasil é líder de mercado e tem uma situação financeira confortável. Apesar de a conjuntura atual ser difícil, as perspetivas a longo prazo são positivas e o grupo distribui bons dividendos.

Fonte: PROTESTE INVESTE
(1) Cotações de 28/fevereiro/2017


FISCALIDADE DOS DIVIDENDOS

Fique a par das opções fiscais que tem ao seu dispor

A fiscalidade dos dividendos, que retira aos acionistas uma parte do rendimento gerado pelo investimento em ações, sempre foi um assunto complexo e alvo de muitas alterações ao longo dos anos. Fique a par das opções fiscais que tem ao seu dispor.

Ações nacionais
O pagamento de dividendos está sujeito a uma taxa de retenção na fonte, que, desde 2012, é de 28%. Assim, no caso de ter 1.000 ações de uma empresa nacional que distribua um dividendo bruto de 0,5 euros por ação, em vez de 500 euros irá receber apenas 360 euros (1.000 x 0,5 x (1 - 28%)). Os restantes 140 euros serão retidos pela entidade pagadora, que depois entrega esse valor ao Estado. Caso não opte pelo englobamento na declaração de IRS, esta é a carga fiscal final que terá de suportar nos dividendos de ações nacionais.

Ações estrangeiras
Quando recebe dividendos de ações estrangeiras é sujeito a uma dupla tributação, no país de origem e em Portugal. Ou seja, terá de suportar a taxa em vigor no país onde os dividendos são pagos e, se utilizar um intermediário financeiro nacional, será aplicada em Portugal a taxa de retenção na fonte de 28% sobre o montante bruto dos dividendos a receber. Vejamos um exemplo: se receber, através de um intermediário financeiro nacional, 100 euros de dividendos de uma empresa belga, pagará 30 euros de imposto na Bélgica (onde a taxa de retenção passou em 2016 de 27 para 30%) e mais 28 euros (100 x 28%) em Portugal. Logo, receberá apenas 42 euros, menos de metade do valor bruto.

Como evitar a dupla tributação?
Tem duas hipóteses: a primeira é acionar uma das convenções internacionais de eliminação da dupla tributação que o Estado português assinou com dezenas de outros países. Assim, antes de receber os dividendos, peça nas Finanças um certificado de residência fiscal e entregue-o junto da empresa estrangeira que lhe pagará os dividendos. Este serviço pode ser prestado pelo seu intermediário financeiro mas o seu custo poderá ser elevado, pelo que, na prática, é inexequível para pequenos investidores. A segunda, mais simples e menos dispendiosa, é pedir o crédito de imposto quando preencher a sua declaração de IRS, independentemente de ter acionado a convenção internacional. Basta declarar os dividendos recebidos do estrangeiro no anexo J, sem os englobar no anexo E, e a administração fiscal fará as contas e devolverá parte ou a totalidade do imposto pago lá fora.

Compensa englobar?
Ao receber dividendos, pode optar ou não pelo seu englobamento aos restantes rendimentos obtidos nesse ano. Se optar pelo englobamento, terá de englobar também obrigatoriamente todos os outros rendimentos dessa categoria, embora já não tenha de englobar as mais-valias mobiliárias e outros rendimentos de capitais, como acontecia até à declaração entregue em 2015. Na maioria dos casos, não compensa englobar porque a taxa marginal de imposto é superior à taxa de retenção na fonte. Ainda assim, o englobamento poderá compensar quando o rendimento coletável é inferior a 7.035 euros, caso em que é aplicada uma taxa de imposto de 14,5%. Caso opte pelo englobamento, a taxa de imposto incide apenas sobre 50% dos dividendos recebidos, no caso das empresas nacionais (com sede ou direção no nosso país). Nas empresas estrangeiras, a taxa é aplicada à totalidade dos dividendos, pelo que já não usufrui desta isenção parcial de imposto. Se optar por não englobar, não terá de declarar os dividendos recebidos. Além disso, como o englobamento é opcional, os bancos não são obrigados a enviar ao contribuinte declarações anuais de dividendos. 


(Este artigo foi redigido ao abrigo do novo acordo ortográfico)
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