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Corrida tecnológica

A última geração da internet móvel ultrarrápida está em marcha. Promete muito, mas lança vários desafios aos envolvidos, como às operadoras de telecomunicações. Conheça os títulos que podem ser mais beneficiados.

5G é o foco da feira deste ano
Reuters
21 de Julho de 2020 às 12:04
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Quinta geração da internet móvel (5G) é uma tecnologia que promete velocidades de download 100 vezes superiores às da atual 4G. Tal permitirá, por exemplo, descarregar um filme em HD em menos de um segundo. A redução da latência da rede, isto é, o tempo de transferência de um pacote de dados (0,01 segundos em comparação com os 0,27 segundos da 4G) e a possibilidade de dividir a rede em secções, atribuindo-lhes capacidades específicas, são outras vantagens.

O advento do 5G abre, assim, novas possibilidades para um mundo ultra conectado: carros autónomos, objetos ligados à rede, cirurgias remotas, realidade aumentada, etc. É a chamada internet das coisas. A sua implantação em larga escala também permitirá o acesso de banda larga a quem não tem fibra ótica. Perante este conjunto de oportunidades, todas as empresas e todos os países querem estar bem posicionados. Contudo, este cenário requer novas infraestruturas de telecomunicações, incluindo antenas de retransmissão, que terão de ser mais numerosas. Caso contrário, as vantagens diluem-se: se não houver condições ideais, as velocidades de download serão semelhantes às que seriam obtidas com a extensão da 4G.

O atraso da Europa

Ao Velho Continente, a 5G ainda não chegou verdadeiramente. Há algumas semanas, a Proximus, uma das maiores empresas de telecomunicações móveis da Bélgica, anunciou, com grande alarido, o lançamento de uma oferta 5G em mais de 30 municípios do país. Trata-se, na realidade, de uma 4G aprimorada, que passa por redes 3G antigas já não usadas, e não de uma 5G real. Outras operadoras de telecomunicações europeias estão a usar os mesmos truques publicitários para se destacarem da concorrência. É inegável que a Europa está a ficar para trás em matéria de avanços tecnológicos, um atraso indisfarçável. Uma vez mais, asiáticos e americanos lideram. Na Coreia do Sul, a cobertura de todo o território nacional é uma realidade há já um ano. Os Estados Unidos, embora ainda não tenham disponível uma 5G real, estão muito adiantados. Ao contrário, a Europa está longe do objetivo fixado pela Comissão Europeia no plano de ação apresentado em 2016, que previa a cobertura 5G de uma grande cidade por Estado-membro, a partir de 2020, e de todas as áreas urbanas e dos principais eixos de transporte, em 2025. Os problemas com a Huawei, fornecedor chinês de equipamentos de telecomunicações, que foi banido nos Estados Unidos, mas está muito presente na Europa, está a atrasar ainda mais o processo. Os leilões promovidos pelos Estados para a atribuição de frequências 5G às operadoras de telecomunicações ainda não foram realizados em todos os países, tendo sido adiados. Reino Unido, Alemanha, Itália e Espanha são dos poucos onde o processo está mais adiantado. O dossiê Huawei acarretará custos adicionais para as operadoras de telecomunicações, mas também benefícios para os seus concorrentes europeus, Ericsson e Nokia.

A ameaça da Huawei

Cristiano Amon, presidente da Qualcomm, grande fabricante americana de chips para smartphones, disse que a 5G não alimentará apenas as telecomunicações, mas também grande parte da atividade económica, razão pela qual as redes sem fios serão uma infraestrutura crítica. Se a Huawei tiver permissão para construir partes dessas redes 5G, teoricamente, terá poder para causar estragos em nome do Estado chinês. Por exemplo, teme-se que, em caso de conflito entre a China e o Ocidente, a empresa possa desligar a rede de um inimigo e, em última instância, transformar muitos dispositivos, como os carros sem motorista, em armas potenciais. Embora seja um cenário improvável, o risco existe. A recolha de dados pela Huawei é outro fator de risco, embora mais diminuto, porque provavelmente a empresa seria identificada e poderia ser barrada através de criptografia (codificação de informações). Estes riscos potenciais são argumentos suficientes para os Estados Unidos não quererem que a China domine as redes móveis 5G. Mesmo que não exista um conflito sério, o controlo pode ser um trunfo estratégico importante na guerra entre os dois países pela hegemonia económica mundial.

Utilizadores das redes 5G

A tecnologia 5G não trata apenas de aumentar a velocidade e permitir downloads mais rápidos, mas ainda de conectar à rede milhões de dispositivos. É certo que os principais beneficiários da quinta geração serão os grandes utilizadores de largura de banda. É o caso das empresas especialistas em computação em nuvem e das que fornecem serviços de streaming de vídeo. Mas a lista de companhias envolvidas ou que serão favorecidas, direta ou indiretamente, pela chegada da 5G, é longa. O setor tecnológico, como um todo, é o grande vencedor desta corrida desenfreada.


Mercados financeiros

Telecomunicações versus bolsas mundiais


O rendimento das operadoras de telecomunicações, acumulado nos últimos 10 anos, incluindo o reinvestimento dos dividendos, foi um pouco inferior à média das bolsas mundiais: de 7,2% e 8,7% ao ano, respetivamente. Mas a fraca sensibilidade do setor ao contexto económico é uma vantagem em tempos de crise. Pode investir com seletividade, sem se expor muito.



Empresas
Quem ganha o quê

| Operadoras de telecomunicações

Para estas empresas, o advento do 5G é, provavelmente, mais um desafio do que uma oportunidade. Com o crescimento estagnado há vários anos e geralmente muito endividadas, as operadoras de telecomunicações terão de fazer investimentos colossais, cuja rentabilidade está longe de garantida. Antes de explorar as frequências móveis 5G, precisam de adquirir licenças aos Estados através de um leilão que envolve vários interessados. O licenciamento ainda está em curso em vários países europeus. Com a exceção do Reino Unido, onde os leilões atingiram valores razoáveis, os preços nos outros países são altos, o que ameaça a rentabilidade dos investimentos. Além disso, as infraestruturas necessárias têm de ser construídas (cabos, postes, etc.), o que representa mais um custo enorme. As grandes operadoras de telecomunicações europeias têm outro "petisco" nada fácil de digerir. Em alguns países, como Alemanha e Bélgica, as autoridades planeiam aproveitar o licenciamento da 5G para promover a chegada de uma quarta operadora móvel ao mercado, fortalecendo, assim, a concorrência e a pressão para uma descida dos preços das telecomunicações. Em simultâneo, alguns contratos com a fornecedora de equipamento chinesa Huawei têm de ser revistos. A Comissão Europeia não lhe fechou definitivamente a porta, mas impôs condições rigorosas para que operem com a Huawei. O Reino Unido preferiu afastar a empresa chinesa do coração das suas redes de telecomunicações, por considerar que são ativos estrategicamente muito sensíveis. Esta decisão tem, porém, custos para as operadoras, que a BT Group estima em quase 600 milhões de euros e a Vodafone em 200 milhões. Neste contexto difícil, as operadoras europeias estão a tentar economizar dinheiro de várias formas, nomeadamente através da partilha de infraestruturas. Nota-se também uma tendência generalizada para vender infraestruturas de comunicações móveis (por exemplo, antenas) a empresas especializadas, como a espanhola Cellnex Telecom, a quem a NOS vendeu, em abril, 2000 torres de telecomunicações, ou a fundos de investimento. Ponderam ainda pôr em bolsa empresas do grupo que gerem essas infraestruturas. Reduzir os dividendos, em regra muito generosos no setor das telecomunicações, pode ser outra forma. Foi o que fizeram recentemente a Proximus e a Deutsche Telekom. Outras operadoras deverão fazer o mesmo nas próximas semanas, à medida que as perspetivas económicas resultantes da pandemia se deteriorarem. Apesar de positivas, estas medidas podem não ser suficientes, sendo de admitir fusões e aquisições para aumentar as margens operacionais e revitalizar o setor. As autoridades europeias da concorrência parecem agora mais recetivas a estes cenários de consolidação, mas os obstáculos entre as operadoras e os países europeus continuam difíceis de ultrapassar. Em conclusão, as operadoras de telecomunicações podem não ser as grandes vencedoras da 5G, mas continuamos positivos em relação ao setor, cujas receitas recorrentes, elevados dividendos, baixa valorização em bolsa e sensibilidade limitada dos resultados à conjuntura económica, são trunfos.


| Empresas proprietárias das antenas

Nos últimos anos, empresas especializadas em infraestruturas de telecomunicações compraram às operadoras de telecomunicações, altamente endividadas, a totalidade, ou parte, das suas antenas de retransmissão (torres GSM), registando um forte crescimento, fruto do aluguer dessas infraestruturas, em particular, das antenas GSM. Como são as operadoras de telecomunicações a recorrer a estes equipamentos com maior frequência, o equilíbrio de forças nas negociações pende, frequentemente, para o lado das empresas que detêm as antenas, conseguindo negociar condições vantajosas, com alugueres confortáveis e de caráter recorrente. Em consequência, as suas cotações nos mercados financeiros têm subido bastante. Na Europa, os líderes de mercado cotados em bolsa são a espanhola Cellnex Telecom e a italiana Infraestrutture Wireless Italiane (INWIT). Nos Estados Unidos, as principais companhias são a American Tower, a Crown Castle e a SBA Communications. Contudo, aos preços atuais, nenhuma está suficientemente atrativa para merecer o conselho de compra.


| Fabricantes de equipamentos de telecomunicações

Para configurar as suas infraestruturas e implantar a rede 5G, as operadoras de telecomunicações precisam dos fabricantes de equipamentos. O 5G é um motor de crescimento muito desejado pelos gigantes do setor, que não tinham um "driver" de crescimento tão importante desde a implantação da infraestrutura 4G. Esta desaceleração foi explorada pelas chinesas Huawei e ZTE para roubar quota de mercado à Ericsson e à Nokia, que enfrentam dificuldades. A sueca Ericsson foi forçada a iniciar uma profunda reestruturação, enquanto a finlandesa Nokia embarcou numa fusão perigosa e, com consequências finais catastróficas, com a Alcatel-Lucent. Em 2019, a decisão dos Estados Unidos de banir a Huawei e a ZTE do seu território, e de incentivar os aliados ocidentais a fazerem o mesmo, redistribuiu um pouco as cartas dentro do setor em benefício da Ericsson e da Nokia. Apesar das ameaças americanas aos aliados que se recusassem banir a Huawei das suas redes, apenas a Austrália, o Japão e a Nova Zelândia acataram o pedido. Até o Reino Unido permitiu, em janeiro, que as suas operadoras usassem, com limitações, os equipamentos da Huawei. Além disso, os kits da empresa chinesa tendem a ser mais baratos do que os da Ericsson e da Nokia, e a qualidade não é inferior. Mesmo a Vodafone e a BT Group, que excluíram a Huawei da parte mais sensível das suas redes, continuam com os seus equipamentos em partes mais periféricas. A Deutsche Telekom continua a trabalhar com a Huawei e há outras operadoras que se mantêm indecisas, até porque os custos associados à troca de fornecedores são colossais. Ainda assim, espera-se que as duas gigantes europeias venham a ganhar quota de mercado. Pode manter as ações da Ericsson, mas as da Nokia, que continuam a sofrer as consequências da fusão catastrófica com a Alcatel, estão demasiado sobrevalorizadas. O mesmo acontece com as ações da ZTE, um título muito arriscado.

| Fabricantes de componentes e materiais eletrónicos

Muitas empresas tecnológicas irão beneficiar da 5G e das novas utilizações que a tecnologia permitirá. É o caso dos fabricantes de componentes e/ou equipamentos eletrónicos. Alguns têm um vínculo direto com as infraestruturas, como a Corning, fornecedora de componentes para fibra ótica, que conectará as inúmeras antenas de retransmissão, e a Cisco, que produz equipamentos de comunicação, como routers e comutadores. Os novos smartphones 5G estão a ser gradualmente lançados no mercado. Prevê-se, por isso, um renascimento das vendas, que beneficiará, além de fabricantes como a Apple e a Samsung Electronics, companhias especializadas em componentes para smartphones, como a Qualcomm, a Qorvo e a Skyworks Solutions. Outros gigantes do setor de semicondutores, como a Applied Materials, a Broadcom e a Intel, também serão favorecidas pela esperada explosão do tráfego de dados móveis, fruto da proliferação de terminais 5G (incluindo objetos conectados) e das necessidades de processadores e de chips eletrónicos cada vez com melhor desempenho.

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