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"Não temos infraestrutura para grandes eventos"
A estratégia turística de Portugal conta, num dos pilares, com a realização de eventos. Há 41 novos conquistados para 2017. Contudo, nem todos no sector do turismo acreditam nesta estratégia. João Silva, da Team Quatro, diz mesmo que ela poderá afastar outras oportunidades.
"Não temos infraestrutura para grandes congressos. Queremos dar a ideia de que captamos e fazemos. Se estiverem cá 24 mil pessoas, onde há que há lugar para mil pessoas jantar em Lisboa?"
É deste modo que João Silva olha para o segmento dos congressos em Portugal. O administrador da agência de viagens Team Quatro chega mesmo a dizer que os congressos, apesar da sua grande dimensão, se estendem por pouco tempo, acabando por impossibilitar a realização de outros eventos.
"Acho que é bom dizer que temos 40 congressos, mas também é bom saber que há eventos [de maior duração] que ficam de parte por causa disso", afirmou, reagindo às informações divulgadas esta semana pela secretária de Estado do Turismo de que o país tinha conseguido captar 41 novos congressos internacionais em 2017.
Sobre a estratégia do Governo para captar estes congressos para zonas não tradicionais e fora das épocas altas, João Silva lembra que a actividade turística já não se organiza segundo o critério de Verão e Inverno. "É perigoso dizer que estamos a conquistar congressos para quando não existe muito negócio", advertiu.
"No período em que houve o Web Summit não se pôde fazer mais nada no destino. Tudo o que vinha nessa altura teve de ser cancelado ou não veio", acrescentou. Questionado sobre o lançamento do Pavilhão Carlos Lopes, destinado a este fim, o empresário reagiu: "Lisboa precisa de centros de congressos como de pão para a boca".
O líder da Team Quatro mostra-se "muito avesso" aos apoios do Turismo de Portugal para a captação destes eventos e acredita que a entidade está a criar uma "distorção concorrencial no mercado. "Promover Portugal não é dar subsídios. É dar muito dinheiro para tornar Portugal conhecido. Agora, não é a pagar a clientes e dar-lhes desconto no centro de congressos", rematou.
Num painel dedicado aos factores de competitividade da indústria de eventos e congressos em Portugal, João Silva não deixou de referir a "disfuncionalidade fiscal" no que diz respeito à aplicação do IVA a 23% neste ramo – posição, aliás, partilhada pela própria APAVT, que pede uma redução do imposto.
Na mesma sessão esteve também Joaquim Pires, responsável pelo programa de captação de congressos internacionais do Turismo de Portugal. Sobre os congressos já conquistados para 2017 afirmou que "a maioria é esforço anterior de todos os agentes que estão nesta actividade".
Não houve uma resposta directa às posições de João Silva. Joaquim Pires preferiu focar as suas palavras na importância do país "contar as suas histórias" para conseguir captar este tipo de eventos. "Tenho já congressos previstos para 2023", sublinhou.