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Louboutin quer salvar Melides de ser uma vítima do excesso de turismo
A região, a sul de Lisboa, já foi uma zona costeira adormecida. Agora, tornou-se um "parque de diversões" para os ricos. A enchente de residências e outros projetos de luxo tem feito escalar os preços na região. Os habitantes sentem-se excluídos, e o dono dos saltos de sola vermelha luta por um equilíbro entre os novos turistas e a autenticidade de Melides.
"Os preços são absurdos. Quase não há casas a preços acessíveis no mercado". A referência poderia ser sobre uma das grandes cidades de Portugal, mas surge dos habitantes locais de Melides.
Nos últimos anos, a região a 90 minutos a sul de Lisboa, tem sido inundada por uma enchente de novos projetos imobiliários, clubes de praia, campos de golfe e parques de campismo - mas a valores de luxo. Chamam-lhe um "parque de diversão dos ricos". A zona costeira, outrora isolada e um dos últimos trechos quase intocados da costa atlântica em Portugal, tem visto vários projetos a nascer: uma comunidade residencial de luxo propriedade do magnata do sector imobiliário americano Mike Meldman ou o "resort" da bilionária espanhola Sandra Ortega, filha do fundador da Inditex.
Mas não são só os estrangeiros a investir milhões na zona. Entre os projetos nacionais, estão o clube de praia JNcQUOI, perto da aldeia da Comporta, da empresária Paula Amorim, e as construções da imobiliária Vanguard Properties, cujo investimento chegará a mais de mil milhões de euros, também na zona da Comporta (incluindo dois campos de golfe).
Entre os magnatas que decidiram investir em Melides está o dono dos sapatos de sola vermelha, Christian Louboutin. Contudo, o investimento numa habitação isolada na região já tem quase duas décadas. A explosão dos empreendimentos turísticos e de luxo em Melides faz soar os alarmes entre os habitantes locais, que estão preocupados com o impacto ambiental e o "excesso de turismo".
"Os turistas vêm aqui pela beleza deste lugar", disse o designer francês, em entrevista à Bloomberg. "Por isso, temos de o manter assim", acrescentou.
A verdade é que o município e a área circundante beneficiam de dinheiro e de empregos, segundo o presidente da câmara municipal de Grândola, António Mendes, que garantiu à agência de notícias contrariar a tendência de escalada de preços. O município quer proibir o desenvolvimento ao longo da costa e reduzir em 40% o número de camas turísticas já aprovadas.
No entanto, a mudança abrupta do estilo de vida de Melides parece estar a aumentar a desigualdade de acesso e recursos de acordo com as queixas dos habitantes, ouvidos pela Bloomberg.
Loubotin, que possui um pequeno hotel em Melides, diz não se opor ao turismo de luxo na localidade com 1.500 habitantes. Quer, no entanto, uma gestão e proteção mais responsável do ambiente por parte dos turistas e das empresas que lá investiram, integrando um grupo local que trabalha nesse sentido - a Intertidal Melides.
Em junho deste ano, o Negócios foi saber mais deste projeto com Noemi Marone Cinzano, que partilha o cargo de fundadora com o designer de luxo. Os dois traçaram um plano sustentável para garantir a sobrevivência da lagoa de Melides - a que chamam "barragem da endiabrada". Conseguiram mudar os hábitos e métodos de trabalho dos agricultores da região e chamar a atenção de celebridades para o projeto.
"As pessoas são tocadas pela autenticidade e temos de a manter assim", afirmou Louboutin à Bloomberg. "Não esperem que Melides se torne um St. Tropez. Não vai acontecer."