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Jovens do Porto "resgatam" finalistas de Benidorm
A ALA Viagens nasceu no liceu e ganhou asas com o canudo na mão e a liberalização das agências. Já levou mais de 20 mil finalistas para destinos alternativos e combate a sazonalidade com visitas escolares e transporte para concertos.
Quando estavam a terminar o secundário, Artur Veloso Vieira e Diogo Batista Oliveira não encontravam "ofertas melhores do que apenas discoteca e praia" para a viagem de finalistas, sobretudo na costa mediterrânica de Espanha. Propuseram então à turma da Escola Aurélia de Sousa organizar eles próprios uma visita a Barcelona. Três anos mais tarde, perto de concluírem os cursos de Economia e de Gestão e ao pensaram na transição para o mercado de trabalho, os dois amigos de infância resgataram a ideia e fizeram-se sócios na ALA Viagens.
A marca e o conceito já tinham sido formalizados no início do percurso académico, que ambos cumpriram na Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP). Foi em regime de "joint venture" que testaram o conceito, cedendo a utilização da marca à Solnorte, uma das mais antigas agências de viagens do Norte do país. Até que no final de 2013, já com os canudos quase na mão, deixaram os recibos verdes e fundaram a Veloso Vieira & Batista Oliveira Lda. para autonomizar a marca e um negócio que já transportou mais de 20 mil finalistas.
Além de "contrariar a oferta monolítica" no mercado para as viagens de finalistas, contrapondo, com um preço médio de 300 euros, várias capitais europeias a destinos clássicos como Benidorm ou Lloret de Mar, Artur Veloso Vieira contou ao Negócios que diversificaram para outros dois segmentos, também para combater a sazonalidade. As viagens escolares "com uma forte vertente pedagógica e cultural", concentradas entre Dezembro e Março; e o serviço ALA Festivais, que trata da logística e do transporte para eventos de música calendarizados entre Maio e Agosto, como o NOS Alive, o Super Bock Super Rock e o Musa Cascais.
"Foi uma evolução natural. Tem a ver com o nosso público-alvo bastante jovem e que procura ofertas muito ligadas às experiências e, ao mesmo tempo, com um preço bastante baixo", detalhou o sócio-gerente. O volume de vendas vai chegar ao meio milhão de euros no final deste ano – o mesmo em que atingiram o ponto de equilíbrio operacional – e estima um crescimento à volta de 20% em 2017. Cada uma das áreas de negócio representa um terço da facturação global.
Artur Veloso Vieira justificou a procura inicial de um parceiro com as "muitas restrições" à abertura de agências de viagens, nomeadamente os requisitos de um capital social mínimo de 150 mil euros e os 12 mil euros que custava o alvará do Turismo de Portugal. A liberalização do sector, a reboque da transposição de uma directiva comunitária e protagonizada pelo ex-secretário de Estado, Adolfo Mesquita Nunes, extinguiu e amenizou estas regras – pagaram "apenas" 1.250 euros pelo alvará e o preço já foi outra vez reduzido –, o que levou os portuenses a avançar com o registo e a constituir a agência, um segmento que o grupo Pestana acaba de abandonar em definitivo.
Nascidos há 29 anos e habituados quase desde o berço a ouvir discutir os negócios dentro de casa – ambos familiares, um de distribuição de produtos agrícolas e outro na indústria têxtil –, o investimento inicial nesta firma da área turística, em que o tempo médio de pagamento é superior ao de recebimento, acabou por ser "negligenciável". Artur detalha que adoptaram "uma estratégia de ‘bootstrapping’" (sem investimento externo, usando os próprios recursos e pouco dinheiro), aproveitando "o ciclo dos fluxos de caixa para sustentar o investimento no crescimento da operação".
Os serviços também estão à venda nos balcões de algumas agências parceiras, mas o objectivo é que venha a ser, por inteiro, uma operação simples através da Internet, em que todo o processo é tratado online, incluindo o pagamento e a emissão de títulos. E como chegam aos clientes? "Fazemos campanhas direccionadas para o nosso público-alvo, que está muito na Internet. Os meios de comunicação digital são essenciais. E depois temos também uma presença local forte. Por exemplo, fazemos dezenas de apresentações em escolas de todo o país, aos estudantes e aos pais", responde o empreendedor nortenho.
Com sede no Porto – tal como a Nomad, que se especializou em levar pequenos grupos aos cantos mais recônditos do mundo –, a ALA Viagens emprega actualmente cinco pessoas a tempo inteiro, incluindo os dois sócios, um gestor de produto, uma assessora da administração e outra para a comunicação. No terreno, contratados provisoriamente para cada projecto, tem ainda cerca de 40 monitores para acompanhar em permanência os jovens viajantes. São eles que asseguram a orientação dos grupos no destino, o trabalho de logística e a segurança.
Sendo uma agência de cariz organizador – ou seja, não vende pacotes feitos por outros operadores –, tanto a própria escolha como a relação próxima que mantém com os fornecedores é apontada como "fundamental para controlar todo o processo de organização da viagem, do início ao fim". As cadeias hoteleiras do Groupe Louvre e da Accor ou a transportadora Transdev são algumas das parceiras nesta operação orientada para o turismo juvenil.