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Islândia quer retomar turismo, mas só para os visitantes ricos
Há uma nova rota de fuga para quem procura escapar à segunda onda de restrições da pandemia de coronavírus. No início do mês, a Islândia implementou silenciosamente mudanças no seu programa de vistos de trabalho remoto para cidadãos fora do Espaço Schengen da Europa.
Cidadãos norte-americanos - e qualquer estrangeiro dispensado de visto para entrar na Islândia - terão permissão para permanecer na terra do fogo e do gelo durante seis meses consecutivos, mesmo com as fronteiras internacionais do país ainda praticamente fechadas.
Mas há algumas letras miúdas: é preciso ter um emprego remunerado noutro lugar e rendimentos de quase seis dígitos.
"Acho que a ideia é atrair profissionais de elevados rendimentos de Silicon Valley ou de São Francisco para gastar o dinheiro aqui, e não lá", explica a antiga deputada do Partido Pirata Asta Gudrun Helgadottir. Embora visitantes de longa duração não sejam tecnicamente turistas, a esperança é que aluguem Airbnbs não utilizados, ocupem as mesas vazias dos restaurantes e sigam para o campo nos fins de semana para explorar o país como turistas sem pressa. Mas que também tenham os bolsos cheios.
A Islândia não é o primeiro país a atrair os que podem trabalhar de qualquer lugar com isenções de longa duração. Bermudas, Barbados, Ilhas Caimão e Estónia também usaram a estratégia para captar receitas estrangeiras durante a pandemia, que afetou o turismo.
Mas a estratégia da Islândia é a única que visa estritamente os ricos (não que o destino tenha sido alguma vez uma opção económica). A Islândia exige prova de um salário mensal de 1 milhão de coroas islandesas (cerca de 7.360 dólares), ou cerca de 88.000 dólares por ano, e os candidatos devem cumprir os requisitos de seguro saúde suplementar.
O ministro da Justiça, que supervisiona vistos de trabalho e requisitos de entrada, divulgou informações limitadas sobre o novo programa e a justificação por trás da sua abordagem, mas não respondeu a um pedido de comentário.
Os moradores entrevistados acreditam que o objetivo é fomentar o investimento sem multidões e, mais importante, sem sobrecarregar o sistema nacional de saúde, que poderia entrar em colapso facilmente, dada a população de cerca de 357 mil habitantes do país. A Islândia parece estar a controlar uma nova vaga de covid-19 e registou apenas 5 mil casos e 25 mortes desde março.
Também há esperança de que, com o desemprego a aumentar em todo o mundo, a comprovação de rendimentos impeça residentes temporários de competir com os islandeses por empregos locais.
Tudo isso pode soar estranho para um país que se orgulha de ideais socialistas e é sensível à sua própria homogeneidade.
Helgadottir é rápida em destacar que os novos regulamentos de vistos provavelmente favorecerão visitantes brancos de classe alta dos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Mas esta pode ser a Islândia do futuro: menos focada em atender às massas e mais feliz em oferecer turismo de luxo para poucos.