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Só este mês, o sistema de tráfego aéreo de Lisboa falhou duas vezes

O sindicato dos controladores de tráfego aéreo diz que o software de gestão dos voos está “esgotado”. Este ano houve quatro falhas, em que as informações dos aviões desapareceram dos ecrãs, o que gerou atrasos na operação.

Bruno Simão/Negócios
17 de Outubro de 2017 às 17:50
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O sistema de controlo de tráfego aéreo de Lisboa está "no limite" e desde o início do ano registou "quatro falhas técnicas significativas". Só no corrente mês de Outubro foram registadas duas falhas, afirmou esta manhã Carlos Valdrez, presidente da direcção do Sindicato dos Controladores de Tráfego Aéreo (Sincta). Embora "a segurança não tenha ficado em causa" nessas quatro ocasiões, as falhas "geraram atrasos".

 

"Foram falhas ao nível do processamento dos dados de voo. No fundo, deixámos de ver os ‘callsigns’ dos aviões", explicou Carlos Valdrez, durante uma sessão de esclarecimento para jornalistas esta manhã em Lisboa. "Temos 20 ou 30 aviões no ecrã e ficamos sem saber quem é quem", detalhou ainda. As falhas têm sido "momentâneas, de um ou dois minutos", mas são situações de "pressão enorme" e "não é aceitável que se repita".

 

Essas falhas foram registadas a 11 de Março, 2 de Agosto, 2 de Outubro e 9 de Outubro, precisou. O que significa que este mês já se registaram duas falhas. A avaria de 11 de Março durou quatro horas levou à redução de 50% da capacidade de gestão do tráfego aéreo, assumiu a empresa responsável pelo tráfego aéreo em Portugal, a NAV.

 

O aeroporto de Lisboa tem crescido de forma exponencial e muito acima de qualquer previsão. "O volume de tráfego que hoje temos era o que se previa para 2025", acrescentou Carlos Valdrez, sublinhando que "nos últimos quatro anos, o aumento de tráfego foi de 39%". Por isso, a "substituição do sistema é cada vez mais necessária", defendeu. Isto porque "quanto mais aviões houver maior é a dificuldade de processamento".

 

Sem um novo sistema de controlo de tráfego aéreo – que deverá ser fornecido pela francesa Thales, com um custo a rondar "30 a 40 milhões de euros", o número de movimentos por hora no aeroporto de Lisboa vai manter-se limitado aos actuais 40, mesmo que o aeroporto do Montijo esteja operacional. "Sem novo sistema, falamos de 40 movimentos havendo os aeroportos que houver", destacou, porque não haverá possibilidade de gerir um acréscimo de tráfego para 72 movimentos por hora – 46 em Lisboa, 24 no Montijo e dois em Tires (Cascais).

 

Segundo anunciou Carlos Valdrez, o Governo comprometeu-se com o Sincta a avançar para a compra do novo sistema de tráfego aéreo até final do corrente mês, além de se ter também comprometido a nomear o novo presidente nesse mesmo período (o ex-presidente Albano Coutinho demitiu-se no final de Setembro). À Lusa, fonte oficial do gabinete do Ministério do Planeamento e Transportes garantiu que o Governo não se comprometeu com prazos.

O sistema de gestão de tráfego aéreo não serve apenas a torre de controlo do aeroporto de Lisboa mas também as que se localizam no Região de Informação de Voo (RIV) de Lisboa: aeródromo de Tires, o aeroporto do Porto, de Faro, Funchal e Porto Santo. O "centro nevrálgico" do sistema é o Centro de Controlo de Lisboa. Todos os dias há 1.700 aviões a cruzar o espaço aéreo português, o maior da Europa e equivalente a 60 vezes o território continental.

Nos Açores, o tráfego aéreo é controlado pelo Centro de Controlo de Santa Maria.

 

Congestionamento do aeroporto prejudica Lisboa

 

Em média há 500 movimentos – aterragens ou descolagens – por dia no Aeroporto Humberto Delgado, valor que sobe para perto de 600 em Julho e Agosto. Em 2016, houve 182.564 movimentos só em Lisboa. Rui Marçal, da direcção do Sincta, afirmou que apesar de o aeroporto de Lisboa ser apenas o 28.º da Europa em número de movimentos, é o terceiro mais movimentado considerando aqueles que têm apenas uma pista (o primeiro é Londres Gatwick e o segundo Sabiha, na Turquia).

 

Com o aeroporto a registar um movimento inesperado, é cada vez mais difícil para as companhias conseguirem aterrar no horário ("slot") que desejam. Olhando para os dados relativos à semana de 24 de Julho e 30 de Julho, disponibilizados pelo Sincta, entre as 6:00 e as 19:00, só num pequeno período de terça-feira (às 16:00) é que existia disponibilidade para as aeronaves aterrarem ou descolarem. Quase todos os outros períodos estavam esgotados, ou muito perto disso.

 

Isto leva as companhias a escolherem outros destinos que não estejam congestionados. "Uma companhia que voe desde a China para Lisboa e queira aterrar de manhã não consegue. Por isso, pode escolher Madrid como alternativa. E perde-se competitividade em Lisboa", exemplifica Rui Marçal, da direcção do sindicato.

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