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Sérgio Monteiro: "TAP não tinha como comprar 53 aviões. Nem os 12 conseguia pagar à Airbus"

O antigo secretário de Estado dos Transportes revelou que a TAP "não tinha fundos para fazer pagamentos à Airbus" e que a fabricante de aeronaves já demonstrava "impaciência".

Bruno Simão
24 de Março de 2023 às 16:19
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Sérgio Monteiro garante que não tem conhecimento se a renegociação da compra de 53 aviões à Airbus pelo acionista da TAP David Neeleman foi feita com fundos da fabricante europeia de aeronaves. Mas a companhia aérea só não "incumpriu" com a Aribus em 2015, no contrato que tinha para a compra de 12 aviões, porque "escalonou o pagamento" em falta, revelou o antigo secretário de Estado dos Transportes, ouvido no Parlamento por requerimento do PS.

Face aos problemas de tesouraria que enfrentava à data, a TAP estava com dificuldade em cumprir o plano de pagamento dos aviões que tinha comprado à Airbus. Era, por isso, necessário renegociar, explicou. Uma tarefa que, segundo contou o antigo secretário de Estado dos Transportes, não terá sido fácil. 


"O que eu ouvi foram palavras de impaciência por parte da Airbus", revelou. "A Airbus já não acreditava no que Fernando Pinto [presidente executivo da TAP na altura] dizia. A TAP [pública] não tinha fundos para fazer face ao pagamento à Airbus", recordou. Nesse sentido, era preciso "escalonar pagamentos", apontou. Sérgio Monteiro revelou ainda que em 2015 a TAP tinha dívidas à Galp relativas ao combustível e à ANA no que toca ao pagamento de taxas aeroportuárias.

Sobre a renegociação feita pelos então acionistas da TAP [David Neeleman e Humberto Pedrosa] e a Airbus, referiu: "Não sei se foram feitos com fundos da Airbus ou não. Não há nenhum documento que reflita isso", defendeu. Mas há uma coisa de que tem a certeza: "A TAP não tinha como comprar 53 aviões. Nem os 12 conseguia pagar" à Airbus, garantiu Sérgio Monteiro, que foi secretário de Estado das Obras Públicas, Transportes e Comunicações entre junho de 2011 e outubro de 2015, durante o Governo de Passos Coelho, lidando com dossiês como as privatizações da TAP, da ANA e dos CTT.

No final do ano passado, o então ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, revelou que o Governo tinha enviado para o Ministério Público a auditoria realizada pela administração da TAP à compra de aviões durante a gestão de David Neeleman. Na altura, a TAP desistiu do contrato para o leasing de 12 aeronaves A350 que tinha com a Airbus e celebrou um novo contrato com a mesma empresa para a compra de 53 novos aviões. Em causa estão suspeitas de a companhia ter pago mais pelos aviões do que os concorrentes e o dinheiro ganho com esta operação terá sido usado por Neelman para entrar no capital da companhia aérea. 

Questionado sobre estes "fundos Airbus", Sérgio Monteiro começou por referir que a expressão "parece ter uma origem duvidosa ou que é estranho um fornecedor financiar, no sentido de entregar por conta do rappel comercial de uma encomenda". Além disso, considerou que a estratégia de financiamento dos aviões  "era do parceiro privado, não dizia respeito ao Estado". "Serem fundos Airbus não nos preocupou", acrescentou.


Os socialistas anunciaram, a 16 de fevereiro, quererem ouvir o antigo ministro da Economia Pires de Lima, e o ex-secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações para prestarem esclarecimentos no parlamento sobre o processo de privatização da TAP em 2015, argumentando estar "em causa a utilização de dinheiro da TAP, e de contratos da TAP, para financiar a entrada de um operador privado na companhia aérea nacional". 


O requerimento do PS surgiu após várias notícias, entre as quais uma divulgada pelo jornal ECO, que referem que a privatização da companhia aérea em 2015 terá sido ganha por David Neeleman com dinheiro da própria companhia aérea. Em causa, segundo o presidente do Grupo Parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, podem estar crimes de assistência financeira e gestão danosa.


Estas audições têm lugar fora do âmbito da comissão parlamentar de inquérito à tutela política da gestão da TAP, proposta pelo Bloco de Esquerda (BE). 

Entretanto, o Grupo Parlamentar do PS anunciou que também vai chamar ao parlamento o antigo secretário de Estado e atual vice-presidente do PSD Miguel Pinto Luz e a ex-governante Isabel Castelo Branco sobre o processo de privatização da TAP.

(Notícia atualizada às 18h50)

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