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Fernando Pinto nega que negócio com Airbus tenha lesado a TAP

Sobre a acumulação de funções na TAP e no consórcio candidato à privatização, liderado por Neeleman e Pedrosa, garante ser "alheio" à situação. No depoimento enviado à comissão de inquérito à TAP, explica ainda os 1,6 milhões que recebeu para prestar consultoria à empresa já depois de ter deixado de ser CEO.

Miguel Baltazar
Sara Ribeiro sararibeiro@negocios.pt 20 de Junho de 2023 às 16:16

Fernando Pinto rejeita que a renegociação com a Airbus tenha lesado a companhia aérea considerando até que que foi "muito benéfica" sendo hoje um dos motores da recuperação da empresa, de acordo com o depoimento por escrito enviado à comissão parlamentar de inquérito à gestão da TAP e a que Negócios teve acesso.


"Quando comprámos os A350 foi em condições de mercado excecionais (preço baixo), mas ao longo do tempo a especificação do avião foi mudando e o novo modelo passou a não ser tão interessante para a TAP", começou por explicar o antigo presidente executivo da empresa, cujo nome foi referido bastantes vezes durante as 46 audições presenciais do inquérito à TAP.


Fernando Pinto, que admite ter tido conhecimento do processo de negociações dos aviões desde o início,  detalhou ainda que "a Airbus tinha interesse em ficar com os A350 para outros clientes e, portanto, interessou-se não só por fazer a troca dos modelos e até a injetar algum dinheiro adicional na TAP, atendendo não só a essa troca mas também às novas encomendas dos restantes modelos de aviões".

"Na minha opinião, além dos A330neo, a aquisição dos 321Neo foi extraordinária para a TAP, pois era um avião novo e que tinha um potencial imenso nas nossas ligações internacionais para os EUA e nordeste do Brasil. Entendo que os novos modelos adquiridos estão a ajudar hoje a empresa na sua recuperação", acrescenta. 

Ao longo do depoimento, de 17 páginas, refuta por mais do que uma vez a ideia de que os aviões foram pagos cima do valor de mercado. E relembra que foram realizadas três avaliações (pela Ascend, Avitas e Comercial Aviation Services). "Todas apresentaram, valores superiores aos que foram negociados com a Airbus", recorda.

Nesse sentido, reforça que, na sua opinião, a operação que ficou conhecida como fundos Airbus, "foi muito benéfica para a atividade da TAP e em preços  competitivos à época". 

No final do ano passado, Pedro Nuno Santos enviou a auditoria realizada pela administração da TAP à compra de aviões durante a gestão de David Neeleman para o Ministério Público (MP). Em causa estão suspeitas de a companhia ter pago mais pelos aviões do que os concorrentes e de que o dinheiro ganho com esta operação terá sido usado por Neeleman para entrar no capital da companhia aérea. As conclusões do inquérito ainda não são conhecidas.

Na altura, a TAP desistiu do contrato para o leasing de 12 aeronaves A350 em troca de 53 aeronaves de uma nova gama e uma "contribuição" superior a 200 milhões de euros da fabricante ao empresário, que os terá utilizado para capitalizar a TAP, conforme previsto no acordo de privatização.

Questionado se teve conhecimento público dos resultados da auditoria feita pela empresa Airborne, que não só diz que as avaliações de 2015 estariam incorrectas  como ainda afirma que os valores pagos estão acima do valor de mercado, afirma que só teve conhecimento pelas notícias que saíram."As avaliações feitas em 2015 foram realizadas por três empresas muito reputadas no mercado e com os dados dessa época. Não vislimbro nenhum motivo objetivo para serem colocadas em causa", acrescentou. 

Fernando Pinto garantiu não ter conhecimento em detalhe a auditoria da Airborne, cuja "credibilidade e experiência" sublinha desconhecer, mas admite que "houve alterações relevantes no mercado entre 2015 e a presente data".



A consultoria e a acumulação de cargos

Sobre a acumulação de funções de presidente executivo da TAP e de gerente da Atlantic Gateway- ainda antes do consórcio de Neeleman e Pedrosa terem comprado a companhia aérea em 2015 garante desconhecer a situação.

"Nunca fui convidado para integrar os  órgãos sociais [da Atlantic Gateway] e nunca exerci funções nessa empresa antes da privatização", defende. "Soube que essa situação terá resultado de um erro, ao qual sou alheio", sublinhou. acrescentando que "esse erro acabou por ser corrigido".

Sobre o contrato de consultoria no valor de 1,6 milhões de euros, prestado após deixar a liderança da TAP (em 2018), Fernando Pinto aproveitou para explicar os números e revelar que o mesmo foi "em alternativa" a um cargo no "board" para o  qual o antigo CEO não se mostrou disponível.

"Atendendo aos meus quase 20 anos de experiência na liderança da comissão executiva da TAP e de 50 anos no setor da aviação. Os acionistas pretenderam continuar a contar com o meu contributo profissional, quer no apoio à nova gestão privada (sem qualquer experiência na TAP), quer em questões estratégicas fundamentais para a empresa". referiu. 

"Assim, em alternativa a um cargo de administração (para o qual eu não estava disponível), a empresa propôs-me um contrato de prestação de serviços de 24 meses, com remuneração igual à que eu recebei (mas paga em 12 meses e não em 14, como acontecia anteriormente) e contemplando duas componentes fulcrais para a TAP: a minha prestação de serviços em exclusividade para a empresa e a minha obrigação de não concorrência". fatores que sublinha serem "relevantes", uma vez que "sabiam que eu tinha empresas concorrentes interessadas em contar com os meus serviços".

Questionado por exemplos concretos da consultoria prestada à TAP, ao longo de todas as audições apenas Lacerda Machado admitiu recorrer a este serviço, Fernando Pinto refereiu que ao longo da duração do contrato foi, "por diversas vezes", solicitado o seu "apoio e conselhos por parte do Sr. Antonolado Neves em questões estratégicas e cruciais da empresa, como por exemplo, no âmbito da relação com os poderosos sindicatos da empresa e do setor, bem como nas relações com o Governo e outras empresas e associações do setor da aviação". 

(Notícia atualizada às 16h52)

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