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As malas que leva para a cabine podem estar a atrasar o seu avião

O número excessivo de malas de mão com rodinhas a bordo dos aviões tem provocado atrasos na partida dos aviões um pouco por todo o mundo. A Ryanair vai começar a colocar essas malas no porão no próximo dia 15. A Airbus promete uma solução em 2020.

Bloomberg
Bruno Simões brunosimoes@negocios.pt 07 de Janeiro de 2018 às 11:00

Se tem voado nos últimos tempos já deve ter reparado que os últimos passageiros a entrar no avião já não conseguem meter as malas nas bagageiras de bordo. E é natural: é que embora hoje em dia quase toda a gente prefira levar os seus pertences para junto de si quando anda de avião, para não ter de esperar pelas malas (nem arriscar ficar sem elas), as aeronaves não foram concebidas para acomodar toda essa bagagem na cabine.

Tanto assim é que na generalidade dos aviões de médio curso da família Airbus A320 (que equipam a frota da TAP ou da Easyjet, por exemplo) só cabem a bordo 60% das malas, caso cada passageiro decida levar para bordo a mala de mão a que tem direito, certificou a construtora sediada em Toulouse. No Boeing 737, o modelo operado pela Ryanair e por dezenas de companhias aéreas em todo o mundo (como a Transavia ou a Turkish Airlines), a percentagem é ligeiramente inferior: quase 50%, ou 90 malas em 182 passageiros.

De acordo com as estatísticas do Gabinete de Estatísticas dos Transportes dos EUA, a percentagem de atrasos por responsabilidade da companhia aérea (onde se inclui o carregamento de bagagem mas também o abastecimento ou a manutenção) foi de 32,6% em 2016, acima dos 23,7% por responsabilidade do controlo de tráfego aéreo ou por condições atmosféricas. Na Europa, os dados da Eurocontrol mostram que no passado mês de Julho (de pico), 54,2% dos voos saíram atrasados, com atrasos médios de 30 minutos.

 

Neste momento, a acomodação das malas de mão na cabine é um dos principais problemas a afectar a pontualidade da indústria aérea.

 

A Ryanair já percebeu que estes atrasos estão a ter custos e vai adoptar novas regras a partir de 15 de Janeiro, que proíbem o transporte de malas de mão a bordo a não ser que pague cinco euros (só mochilas que caibam debaixo dos bancos) – oficialmente, a companhia diz que continua a permitir duas peças de bagagem a bordo para quem não tem Embarque Prioritário, embora a maior seja colocada "gratuitamente" no porão.

"Esta nova política de bagagens reflecte o facto de demasiados clientes estarem a usufruir da melhoria na política de bagagens da Ryanair, que passou a permitir duas peças de bagagem de mão gratuitas a bordo. Conjugando este factor com os nossos índices de ocupação elevados – com valores líderes de 96% - o espaço nos compartimentos superiores de cabine torna-se insuficiente para esse volume de bagagem de mão, o que tem vindo a causar os atrasos no embarque/voos que vimos mencionando", justifica a companhia irlandesa em declarações ao Negócios.

A Ryanair não explica qual a percentagem de voos que tem saído atrasado por causa da acomodação das malas que não cabem no porão, embora diga que é "relativamente pequena". Ainda assim, "quando uma companhia aérea é tal forma focada no modelo low cost e em eficiência operacional como a Ryanair, mesmo uma percentagem reduzida acaba por ter um peso bastante significativo".

Uma renovação que diminuiu o espaço para as malas

A TAP também tem registado diversos atrasos devido à acomodação de malas a bordo: por mês, o número de aviões que sai com atraso por este motivo ultrapassa a centena. Em regra, estes atrasos não ultrapassam os 20 minutos, embora possam significar, depois, a perda do "slot" (período em que o avião pode descolar) do aeroporto. Oficialmente, a companhia nada diz sobre os atrasos, mas reconhece que a renovação da cabine (retrofit) que está a ser feita não ajudou.

"Foi feito um esforço de optimização das bagageiras ocupadas com material de equipamento de emergência e material de suporte à operação, traduzindo-se num aumento do espaço disponível para o armazenamento de bagagens de mão", explica fonte oficial. Com a remoção do armário da tripulação (onde era possível pendurar casacos dos passageiros) foi possível aumentar o número de lugares a bordo. Mas "uma vez que o aumento do número de lugares foi superior ao aumento do volume das bagageiras, a percentagem de bagagens por passageiro baixou", assume a mesma fonte.

Fontes sindicais dizem que a percentagem de malas de mão por passageiro que cabe a bordo caiu para 55%, até porque agora a tripulação tem que "disputar" os armários com os passageiros - a TAP diz apenas que se mantém "na ordem" dos valores anunciados pela Airbus, ou seja, 60%. Ainda assim, a companhia portuguesa diz que, em comparação com a concorrência, é das mais generosas na indústria, oferecendo "sempre ao nosso passageiro a hipótese de levar consigo o item pessoal acrescido da bagagem de mão, sem qualquer encargo adicional".

 

Solução da Airbus chega em 2020 ou 2021

 

A Airbus, que fornece em exclusivo as aeronaves que compõem a frota da TAP, confirma que as companhias aéreas estão preocupadas com esta situação – umas mais que outras. "Os potenciais problemas dependem do tipo de operação aérea", isto é, "aviões de fuselagem estreita dificilmente têm a capacidade necessária porque só existem dois armários por fila" e são usados para rotas mais curtas – entre países europeus, por exemplo, onde "uma maior proporção de passageiros evita despachar mala para o porão".

 

Ou seja, a situação é mais difícil de gerir em companhias low-cost, numa "operação típica de curta distância, onde uma rotação aeroportuária eficiente é essencial". Numa operação de longo curso, naturalmente, estes problemas não se colocam com tanta premência – até porque há bastante mais espaço a bordo. De acordo com dados da Airbus, dentro dos actuais A330 que compõem a frota da TAP já cabem 70% das malas de mão. Mas neste tipo de voos, várias pessoas preferem despachar a mala – até porque no porão podem transportar malas maiores e mais pesadas (dependendo da tarifa).

 

Mas se actualmente os aviões de médio não têm espaço para pouco mais de metade das malas dos passageiros a bordo, isso deverá mudar dentro de um par de anos. A Airbus tem estado a renovar os seus aviões, tornando-os mais eficientes e económicos – são os modelos neo (new engine option, ou nova opção de motor). As mudanças não ficarão pela mecânica, e a Airbus está a desenhar uma nova cabine, Airspace, que será mais espaçosa e moderna.

 

Os novos A330 neo, que serão estreados mundialmente pela TAP a partir do próximo mês de Julho, já contarão com esta nova cabine, que promete armários com capacidade para 90% das malas de mão a bordo. E em 2020 ou 2021, de acordo com contas da companhia portuguesa, a Airbus deverá começar a instalar este novo conceito de cabine nos aviões da família A320 neo. Uma das principais novidades são os armários XL, tão espaçosos que as malas de mão poderão ser arrumadas de lado.
 

Com estas bagageiras XL, que poderão ser instaladas mais tarde (através de retrofit, mesmo que não venham de origem nos aviões), passará a haver espaço a bordo para 95% das malas de mão, o que deverá significar o fim destes atrasos. A TAP diz estar em "conversações com a Airbus e está a considerar a instalação destas bagageiras tanto nos NEO como também em retrofit das aeronaves actuais". No passado mês de Dezembro, a American Airlines já encomendou à Airbus a instalação destes novos armários em 202 dos seus aviões Airbus A321, o que a construtora descreve como o "maior projecto de retrofit" na sua história.

 

A Boeing não respondeu às questões do Negócios, mas de acordo com sua página na internet, percebe-se que a construtora americana já pensou numa solução para os 737, o "Space Bin", que aumentará em 50% o espaço de cada armário. A Ryanair, contudo, não vai utilizar esta nova solução. "A frota de MAX irá ter capacidade para aproximadamente o mesmo número de malas dos nossos aviões actuais, permitindo no entanto reduções no consumo de combustível e o aumento de lugares a bordo e do espaço para pernas para cerca de 78,7 cm".

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