Presidente-executivo da TAP desde Fevereiro, Antonoaldo Neves revelou em entrevista ao Expresso, publicada este sábado, que a empresa terá 15 novos aviões e 15 novas rotas no próximo ano. E frisou que o potencial da companhia aérea "é muito maior" do que imaginava. Se em 2014, quando decorria o processo de privatização, a companhia tinha cerca de 70 aviões, tem margem para "poder chegar a 130 aviões até 2025. Isso é dobrar o tamanho da empresa em dez anos", revelou.
O presidente-executivo da TAP referiu que a companhia "tem de continuar a ser uma empresa dominante no Atlântico Sul e passar a ser uma empresa relevante no Atlântico Norte", além de ter "padrões globais de eficiência e excelência no serviço". Para atingir essas metas, "cumprimos todos os objectivos do plano estratégico, temos mais 1.700 colaboradores em Portugal do que antes da privatização, mantivemos o 'hub' e aumentámos a representação da TAP em Lisboa, que estava a cair para menos de 35% e passou para 54% no que diz respeito à Europa", sublinhou.
Questionado sobre as previsões para contratações, Antonoaldo Neves explicou que actualmente a TAP tem 1.000 pilotos e 3.000 comissários. "Até 2025 devemos passar para 1.800 pilotos e 5.500 comissários. Hoje a TAP tem aproximadamente 90 aviões, no final do próximo ano vai ter 105. Será a primeira vez na história da TAP que se adicionam 15 aviões num ano só. Vou precisar de muitas contratações, os 300 pilotos que estou a contratar este ano são para atender aos aviões que vão chegar no ano que vem. Anunciámos a contratação de 700 comandantes mas acabarão por ser à volta de 950 nos próximos meses. Há um pico de contratação este ano e no próximo, depois em 2020 diminui um pouco e em 2021 e 2022 volta a ser grande", detalhou.
Quanto a novas rotas, no próximo ano, haverá três novas rotas a partir do Porto e onze a partir de Lisboa e o voo Porto/Newark [Nova Iorque] passará a diário.
"Pontualidade da TAP é vergonhosa"
Os cancelamentos de voos por falta de tripulação "acabaram em Agosto", "não há mais", disse Antonoaldo Neves. "Uma companhia aérea, para operar de forma adequada, só pode ter no máximo 1% de cancelamentos. O ideal é 0,75%", sublinhou para depois revelar que a TAP "chegou a ter 3% por dia". "Houve incapacidade da TAP de colocar a sua máquina de formação de pilotos a funcionar. Treinar um piloto é um processo muito complexo, é preciso tirá-lo da sua actividade durante meses. Precisámos de treinar 44 pilotos por mês e não conseguimos chegar a esse número", explicou.
Quanto à pontualidade, apesar das medidas já tomadas, ainda há trabalho a fazer. "A nossa ambição é ter uma empresa que está acima dos 80% de pontualidade. E a nível de cancelamentos, a minha ambição é ter 99% no mínimo de regularidade, já estou lá. Mas na pontualidade estamos muito longe, abaixo dos 50%, estou muito mal. É uma pontualidade vergonhosa", disse Antonoaldo Neves.
Para o conseguir, "tomámos medidas muito importantes. Em Agosto tivemos dois aviões reserva no médio curso e um no longo curso, no ano passado não tínhamos isso. Investimos muito na contratação de 300 comissários e isso leva tempo na formação. Fizemos uma gestão muito forte no aeroporto. Tínhamos 100 pessoas no aeroporto de Lisboa no ano passado, este ano tivemos 210. Assinámos um novo contrato com a Groundforce e o volume de minutos de atraso por conta da Groundforce em Agosto foi muito menor do que o de 2017", resumiu.
Na mesma entrevista, Antonoaldo Neves disse ainda que o Aeroporto Humberto Delgado está "totalmente esgotado", com a infra-estrutura a "ser usada no limite" e que isso causa "severas limitações" à operação da TAP. "No ano passado fizemos 14 milhões de clientes, este ano vamos fazer 16 milhões, estamos a colocar pressão no sistema. O nível de serviços cai porque o aeroporto não consegue processar. No próximo ano vamos adicionar mais um milhão e meio de passageiros", realçou o presidente-executivo da TAP que acrescentou que pode haver um colapso total do aeroporto no próximo ano.
Daí que o novo aeroporto do Montijo é urgente, mas a TAP recusa financiar a sua construção. Se houver essa tentativa, irá para os tribunais. "Nós desejamos [o aeroporto do Montijo] (...) A TAP quer o Montijo porque é uma válvula de escape para este aeroporto", adiantou o presidente-executivo da TAP.
"A TAP não pode operar no Montijo e o Montijo não vai ter operação de longo curso, eu tenho que continuar aqui na Portela. Então, naturalmente, pela forma que foi desenhada, é uma solução que não é para a TAP, mas até gostaria que o Montijo já estivesse pronto e que todas as companhias aéreas fossem para lá. É preciso que fique muito claro: a TAP não vai financiar o Montijo. A nossa visão é muito clara: é ilegal subir as tarifas na Portela para pagar o Montijo, se isso acontecer vamos recorrer aos tribunais, a gente vai às últimas consequências contra isso", concluiu.