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Deputados britânicos usam WhatsApp para tudo, menos para política

No Reino Unido, as conspirações políticas passaram das entranhas do Palácio de Westminster para os grupos secretos do WhatsApp, as salas esfumaçadas do século XXI - pelo menos segundo a crença popular.

Bruno Simão/Negócios
18 de Fevereiro de 2018 às 11:00
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A realidade, segundo os parlamentares, é bem diferente. Muitas vezes desprovidos de políticas e até mesmo de rumores políticos, os grupos de WhatsApp têm mais fotos de gatos e de jantares em sítios que não são assim tão exóticos e comentários sobre a programação televisiva da noite anterior do que intrigas de verdade.

 

O uso da aplicação do Facebook para grupos de conversas criptografadas e fáceis de criar é comum no Parlamento. Há um grupo de deputadas do Partido Trabalhista, um de deputados do Partido Conservador sem cargos ministeriais, um dos autodeclarados moderados do Partido Trabalhista, um dos conservadores que representam assentos do norte da Inglaterra e diferentes grupos para cada novo segmento. Ou seja, o WhatsApp transformou a política britânica - mas não da forma que muitos supõem.

 

"Quem imagina conspirações estilo ‘House of Cards’ ficaria bastante decepcionado", afirmou o deputado conservador James Cleverly, eleito em 2015 e reeleito no ano passado, através, obviamente, de uma mensagem de WhatsApp. "A maior parte das conversas do WhatsApp são mundanas, tipo ‘pode-me substituir numa comissão?’, ou fotos partilhadas da corrida parlamentar anual de panquecas e cachorros."

 

Alguns grupos contêm "verdadeiros debates políticos" ou mensagens urgentes à procura de quóruns em comissões, segundo a deputada trabalhista Jess Phillips, também eleita pela primeira vez em 2015.

 

Outros claramente não.

 

"O melhor, de longe, é o criado especificamente para discutir Love Island, no qual usamos lousas e votos em bloco em prol de nossos candidatos favoritos", disse Phillips - também pelo WhatsApp -, referindo-se a um "reality show" da estação televisiva ITV.

 

Leão e unicórnio 

Até mesmo uma conversa do sigiloso Grupo Europeu de Análise, que ganhou notoriedade por servir de base de poder dos parlamentares conservadores - muitos deles defensores do chamado Brexit duro -, é menos interessante do que parece à primeira vista, revelou um dos mais de 90 integrantes sob a condição do anonimato.

 

Isto apesar do logotipo, que retrata o HMS Victory, navio-almirante da Marinha Real Britânica que ajudou a derrotar a frota de Napoleão em 1805, sob um leão, um unicórnio e a coroa britânica.

 

Mas não há conspirações no ERG/DexEU/DIT Support Group - para citar o nome completo do grupo -, segundo o parlamentar. Na verdade, é um fórum para discutir qualquer assunto relativo ao Brexit, e entre os integrantes há vários ministros e apoiantes de uma relação mais próxima com a UE.

 

Ainda assim, este é um exemplo de como os grupos podem gerar alarme a quem fica de fora. Os aliados do secretário de Estado do Meio Ambiente, Michael Gove, criaram um grupo chamado Phoenix, o que, segundo o jornal Mail on Sunday, preocupou a equipa da primeira-ministra Theresa May, que pensou que a manobra representava uma fénix elevando-se das cinzas e os planos de Gove de derrubá-la. Depois descobriu que se tratava do nome do pub onde os integrantes costumavam encontrar-se.

 

"O WhatsApp é terrível", disse a deputada do Partido Trabalhista Lucy Powell, depois de acidentalmente criticar colegas num grupo com mais integrantes do que ela imaginava. "Aprendi uma dura lição. Foi triste."

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