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Farfetch: Uma "viagem" com destino ao Oriente

No próximo ano, o único unicórnio português completa o décimo aniversário. José Neves sente “como se estivesse no início da jornada”. A viagem da Farfetch é em direcção ao Oriente, onde estão os desafios e as oportunidades.

Bruno Simão/Negócios
19 de Novembro de 2017 às 22:00
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A "viagem" começou há pouco mais de nove anos, mas José Neves sente "como se estivesse no início da jornada".

Em 2008, pouco tempo antes da falência do Lehman Brothers, José Neves decidiu criar a Farfetch, uma empresa de comércio electrónico de artigos de luxo, pelo "amor e carinho por este sector [tecnologia] e por esta indústria [moda]". Diz, em entrevista ao Negócios, "que não é um cliché" e que estes foram "anos fantásticos, em que a empresa cresceu de zero para mais de dois mil colaboradores, 11 escritórios e quase dois milhões de clientes em todo o mundo".

"Foi uma montanha-russa. Foi uma sensação de aceleração incrível todos estes anos... e continua. Por isso, uma viagem fantástica", resume com entusiasmo.

Actualmente, o principal mercado para a luso-britânica é o dos Estados Unidos da América, destino de cerca de 30% das vendas. A Ásia-Pacífico está já muito perto (27%) – até porque "está a crescer mais rápido" – e, por isso, José Neves não tem dúvidas: "Vai ser, com certeza, o maior mercado para a Farfetch." Mas esta área do globo não tem apenas oportunidades, tem também desafios. O facto de o ecossistema tecnológico ser "completamente diferente" é uma das barreiras. "As ferramentas que aqui [no Ocidente] usamos para aquisição e retenção de clientes – através do Instagram, Facebook, Google, Youtube – não existem na China. Existe acesso, mas muito limitado a essas formas de comunicar a nossa marca com os clientes. É um ecossistema local. A própria forma como os chineses utilizam a internet é completamente diferente", refere.

Para fazer frente a este obstáculo, a empresa, que em 2015 obteve o estatuto de unicórnio (ou seja, tem uma avaliação de mil milhões de dólares), tem uma equipa de engenharia em Xangai "a trabalhar em cima da plataforma que é desenvolvida  em Portugal". Além disso, firmou uma joint-venture com a JD.com, gigante chinês do "e-commerce".

Na face oposta da moeda estão as oportunidades que "são incríveis". A China vai provavelmente ser o maior mercado de comércio electrónico do mundo, e onde "a penetração ao nível do luxo online é ainda muito baixa". "O luxo é dos poucos sectores em que os chineses ainda querem as marcas europeias e americanas". 98% do consumo de luxo dos chineses é de marcas não locais. "Isso dá-nos uma vantagem que a Uber não tinha quando foi para a China", explica.

Profissão solitária
Em entrevista ao Negócios – que aconteceu durante o Web Summit onde foi falar da "vida de um líder" –, José Neves admitiu que ser presidente executivo é "a profissão mais solitária do mundo porque o CEO tem de ter cuidado com aquilo que diz aos seus colaboradores, aos colegas de equipa, ao exterior e aos seus próprios investidores".

No momento em que está prestes a comemorar o décimo aniversário da Farfetch, José Neves – que integra a lista das 500 pessoas que mais influenciam a indústria da moda, segundo o site inglês The Business of Fashion – confessa que "traçar cenários de futuro a três anos é quase impossível".  Mas assume que a empresa tem uma estratégia clara: estar nos grandes mercados de luxo e fazer parte da revolução do que é o retalho de luxo. Mas, "prognósticos, como diz o outro, só no fim do jogo".

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José Neves: empreendedor sonhador

Em 2018 a Farfetch faz dez anos. Nasceu, contou José Neves na primeira entrevista ao Negócios, "em Outubro de 2008 e o Lehman Brothers foi à falência praticamente duas semanas depois". A crise não tardou, as portas dos investidores estavam fechadas e José Neves (agora com 43 anos), teve de suportar todo o investimento inicial. Mas o bichinho do empreendedorismo não era novo para o português, natural de Guimarães. Antes da Farfetch, já tinha lançado duas firmas. Em 2007, na Paris Fashion Week, surgiu a ideia de criar a Farfetch. Quase dez anos depois sente "com se estivesse no início da jornada" e agradece "ter tido a sorte" de fazer aquilo que gosta, "aquilo que sempre foi o meu sonho".



A loja do futuro como a Farfetch a vê

José Neves acredita que "a moda não pode ser digitalizada". E as lojas físicas "não vão desaparecer", mas algo vai acontecer neste mundo. "A forma como compramos roupa numa loja – onde um caixa tem uma máquina de leitores de cartões de crédito – acabou. Isso não é viável porque os consumidores e as empresas vão começar a exigir que todas as ferramentas que eles conseguem utilizar noutras áreas da sua vida estejam também disponíveis no retalho físico. É essa a base do nosso projecto da ‘Store of the Future’ [da loja do futuro] e da nossa estratégia de augmented retail [retalho com realidade aumentada]", acrescenta. Este projecto passa por a Farfetch ser a pioneira não só no comércio electrónico de luxo à escala global, mas também no retalho, explicou o CEO. "A nossa oportunidade está em reinventar essa experiência nas lojas físicas porque a verdade é que no retalho físico estamos nos anos 80", defende o CEO da Farfetch.

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