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Deixou de ser pecado gerar empresas nas universidades

A mentalidade está a mudar, masa crise ameaça o papel das universidades como incubadoras de start-ups.

Bruno Simão/Negócios
25 de Março de 2014 às 11:00
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As universidades portuguesas ainda não conseguiram "gerar" nenhum Facebook, mas já existem casos de sucesso. A Critical Software começou na Universidade de Coimbra e dá cartas pelo mundo. E a Ydreams começou no Técnico e tem sido incubadora de várias empresas. Se noutros tempos era uma "heresia" lançar empresas a partir da universidade, hoje essa ideia está a relativizar-se. Mas ainda há muito trabalho a fazer. Como obstáculo adicional estão as restrições orçamentais que podem pôr em causa muitos projectos.

Gonçalo Quadros foi "atraído" pela universidade, o que lhe permitiu constituir a Critical Software. "Julgo que a faculdade não estava preparada. Hoje a forma de pensar é um bocadinho diferente. Havia um contexto em que se olhava para aqueles que se queriam dedicar às empresas como alguém que estava vendido", recordou o co-fundador da tecnológica.

Na visão do reitor da Universidade de Lisboa, António Cruz Serra, a realidade nacional difere entre universidades. "As coisas mudaram e sou de opinião que deveríamos não só fomentar a criação de empresas, como a universidade deveria participar no capital das empresas (não mais de 10%)", adiantou.

O co-fundador da Critical Software admite que "as coisas estão a mudar". Mas lembra que "a minha geração ainda foi treinada da seguinte forma: o aspecto essencial era garantir um futuro estável, ir para uma empresa grande, para a função pública. A grande parte dos meus colegas são quadros de grandes empresas e esse poderia ser o meu caminho".

Olhando para o outro lado do Atlântico, nomeadamente para os EUA, é das universidades que têm saído as empresas mais valiosas do mercado de capitais. "A cultura é gerada e moldada pelo ecossistema. As universidades dos EUA motivam essa mentalidade e o crescimento dá-se através do exemplo", defende Quadros, para quem o facto de a dimensão do mercado permitir atingir um crescimento muito superior ao da Europa é também um estímulo. "Nos EUA, a pessoa sabe que pode enriquecer, sabe que pode falhar, mas se correr bem faz uma grande diferença", acrescenta, dizendo: "na Europa não se aceita o falhanço, nos EUA isso é currículo".

Se foi a bolsa da Universidade de Coimbra que lhe deu um empurrão, Gonçalo Quadros sabe que as actuais restrições orçamentais podem comprometer o futuro das universidades. "Para ter 10 cérebros muito bons, se calhar tem que apostar na formação de 30. E esta asfixia que se vive nas universidades vai se pagar mais à frente", diz. No sentido de colmatar essa lacuna, Cruz Serra defende que o caminho poderia passar pela utilização dos fundos comunitários. "Sugeri ao Governo que se utilizasse uma linha do QREN nas universidades para fomentar o empreendedorismo, mas até agora nada", lamentou o reitor da Universidade de Lisboa.

 
Empresas que surgiram no seio das universidades

Critical Software

Tudo começou na universidade de Coimbra. Gonçalo Quadros foi convidado a fazer o mestrado naquela instituição, onde conheceu os restantes fundadores da tecnológica que hoje dá cartas no mundo.

 

Ydreams

Foi fundada em Junho de 2000 por António Câmara, Edmundo Nobre, José Miguel Remédio, Eduardo Dias e Nuno Correia, investigadores e professores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. Ainda hoje, a sede é no Monte da Caparica.

 

Caviar Portugal

É uma empresa criada a partir da Universidade do Algarve que vai começar a produzir caviar em 2015 numa unidade no Alentejo, com capacidade para exportar até cinco toneladas por ano.

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