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O CD, a gota de sangue e a análise em cinco minutos

A Biosurfit é uma empresa nacional que desenvolveu uma solução que permite a realização de análises ao sangue em cinco minutos. E só com um gota de sangue. Presente em oito países, a start-up quer continuar a crescer e chegar a mais geografias ainda este ano.

Bruno Simão
30 de Abril de 2017 às 13:00
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A época áurea dos CD de música pode pertencer já ao passado. São ainda comercializados, mas a inovação tecnológica permitiu que novas formas de ouvir música tenham surgido. Ainda assim, a utilização dos CD é relativamente simples. Tira-se da caixa, coloca-se no leitor, fecha-se e carrega-se no "play". Lá dentro, o CD começa a rodar e a música flui.

A ideia subjacente ao Spinit, solução desenvolvida pela biotecnologia portuguesa Biosurfit, tem algumas semelhanças com os CD de música. Mas é algo aplicado às análises de sangue. Com esta solução, é possível fazer análises ao sangue, usando apenas uma gota e o resultado é mostrado em cinco minutos.

Com o Spinit, é recolhida uma gota de sangue que vai ser colocada num disco e selado. Antes disso, é pressionada uma pequena bolsa - está no CD - para libertar o reagente. O CD, selado e já com o sangue, é colocado na Spinit (equipamento também desenvolvido pela empresa que pesa cerca de 4 quilos e tem um ecrã na parte da frente) e é feita a análise. O resultado surge no ecrã cinco minutos depois.

"O que fizemos foi construir as diferentes peças de um puzzle que permitem que, todas combinadas, consigam dar um resultado em quatro minutos, com performance semelhante àquilo que é feito em laboratórios centrais. Há muita ciência e tecnologia por detrás de uma coisa que parece muito simples, que é um CD onde a pessoa põe uma gota de sangue e uma máquina que tem um ecrã 'touch'", conta ao Negócios, João Garcia da Fonseca (na foto), CEO.

O local onde é colocado o sangue para análise tem a forma de um disco até porque "usamos a rotação para fazer diferentes operações". "É um bocadinho como na electrónica. O que temos são circuitos, mas de líquidos a uma escala microscópica onde fazemos a manipulação dos diferentes componentes do sangue".

Actualmente, a Biosurfit tem discos disponíveis para três análises: Hemoglobina glicada (HbA1c); proteína C-reactiva (CRP) e o Hemograma. Entretanto, a biotecnológica está a trabalhar no desenvolvimento de mais. João Garcia da Fonseca explica que criação dos testes assenta naquilo que é mais frequentemente pedido pelos especialistas de medicina geral e familiar e pediatria.

Menos sangue e menos tempo

O que distingue este sistema do que é feito nos laboratórios tradicionais é, nomeadamente, o tempo e o volume de sangue. Com o Spinit é necessário apenas uma gota de sangue e cinco minutos, algo que pode ser relevante em casos em que há uma necessidade urgente de ter acesso aos resultados. Num laboratório, o volume de sangue é superior e são necessários alguns dias para os dados sejam divulgado. "Também há uma mudança e um ‘empowerment’. Soluções como a da Biosurfit encaixam bem nesta mudança de paradigma de pôr o paciente no centro do tratamento. Ou seja, está consciente dos resultados das análises", diz João Garcia da Fonseca.

Quando se fala sobre concorrência, o CEO da biotecnológica aponta que os laboratórios não são rivais. "Não encaramos os laboratórios como concorrentes. Os nossos principais clientes na Holanda são os laboratórios. Vendemos os nossos equipamentos a laboratórios que colocam os equipamentos nas clínicas mas que continuam a acompanhar a gestão de qualidade", refere.

"Somos os primeiros a ter um hemograma com uma gota de sangue. O que existe hoje em dia são soluções que continuam a requerer sangue venoso e com um volume relativamente grande mesmo que sejam máquinas mais pequenas".

Um negócio "caro"


As empresas de biotecnologia, tipicamente, requerem bastante financiamento e demoram bastante tempo a desenvolverem um produto para chegar ao mercado. Dependendo da área em que trabalham, podem ter de passar por longos ciclos de testes (pré-clínicos e clínicos por exemplo) antes de obterem as devidas autorizações regulatórias para começarem a comercialização dos seus produtos.

A Biosurfit, enquanto biotecnológica, é um exemplo disso. João Garcia da Fonseca assume que a empresa está "bem financiada". "O nosso negócio é muito caro por ser complexo e lento. 90% do esforço [que fazemos] é passar de uma coisa que funciona 90% das vezes para uma que funciona 99,9% das vezes. Por isso o negócio é caro".

A Biosurfit, que foi fundada em 2006, já recebeu investimento de fundos de capital de risco como a Caixa Capital e a Portugal Ventures. Obteve apoio de diferentes programas do Portugal 2020 e um empréstimo do Banco Europeu de Investimentos, no valor de 12 milhões de euros. Como este investimento, a biotech nacional pode "acelerar o crescimento mas continuamos também num fase em que investimos muito, cada vez mais". Neste sentido, a start-up admite que está a preparar uma nova ronda de investimento, que poderá estar concluída este ano.

"Tivemos uma facturação este último trimestre de perto de meio milhão de euros e que mostra que as coisas estão a correr bem. A nossa principal lacuna neste momento e dificuldade é a capacidade de produção".


Devido a estas dificuldades ao nível da capacidade de produção, a Biosurfit decidiu criar uma fábrica. "Estamos a investir numa fábrica e numa linha de produção automatizada com uma capacidade de cinco milhões de discos por ano".

Presente em oito países, a biotech pretende chegar às duas dezenas até ao final do ano. Alguns países do Leste europeu e do Médio Oriente estarão entre os destinos para este ano.

 

 

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