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Quando a persistência não é pequena

Já tinha passado por vários salões, antes de abrir o seu próprio espaço e brindá-lo com um dos seus nomes: "Trindade". Aos 52 anos, Maria da Trindade Lopes, resolveu abrir um cabeleireiro masculino, no Lumiar, em Lisboa, com a ajuda do...

30 de Julho de 2009 às 15:27
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Abrir um cabeleireiro masculino pode não ter sido fácil para Maria Lopes. Mas a persistência acabou por convencer a associação do direito ao crédito. Hoje, o salão é seu.


Já tinha passado por vários salões, antes de abrir o seu próprio espaço e brindá-lo com um dos seus nomes: "Trindade". Aos 52 anos, Maria da Trindade Lopes, resolveu abrir um cabeleireiro masculino, no Lumiar, em Lisboa, com a ajuda do microcrédito. "Estava no fundo de desemprego e, sempre que respondia a anúncios, perguntavam-me se trabalhava em cabeleireiros 'unissexo'. Como só me especializei na parte de homens, era difícil. Depois, cheguei à conclusão que tinha mesmo de abrir 'uma coisinha só para mim', mas não tinha possibilidades financeiras". Maria Lopes foi, então, ao Serviço de Apoio à Criação de Empresas, na Câmara de Loures, onde lhe disseram que "a melhor maneira" [de criar um negócio próprio] seria através do microcrédito. Foi o que fez." Em Novembro do ano passado, a microempresária abriu as portas do seu salão, pela primeira vez. Desde então, nem tudo correu sobre rodas: a crise e a urbanização recente onde o cabeleireiro está instalado não têm trazido muita clientela.

"Houve uma altura em que pensei que tinha feito mal em abrir o salão: estamos em crise e isto aqui não é conhecido. Estive muito tempo no fundo de desemprego, não tinha clientes e nada disso ajudou. Mas, hoje, estou mais animada, porque as coisas estão a melhorar um pouco. A zona também é nova, ainda está pouco habitada e tudo isso tem influência.", desabafa.

Quando se dirigiu à ANDC, disseram-lhe que poderia ser difícil aprovarem o seu projecto, por ser um cabeleireiro específico para homens, mas a persistência de Maria Lopes fez com que o seu projecto avançasse. Depois, contraiu o crédito no Millennium bcp, porque, na altura, era o que estava a ser mais rápido na atribuição do crédito e a microempresária tinha urgência em realizar o seu sonho. Em relação ao apoio da ANDC, Maria Lopes não tem nada a apontar. "Cumpriram tudo a que se propuseram, não falharam em nada. Só tenho a dizer bem da ANDC, porque, de facto, prestaram um bom serviço. O prazo do crédito é que é um bocadinho curto, são três anos, mas também, apesar de ser um sacrifício maior, ao fim de três anos, estou liberta", acrescenta. Apesar de aconselhar todas as pessoas que querem abrir um negócio a fazê-lo, Maria Lopes lamenta a falta de apoio do Estado e os impostos que todos os microempresários têm de pagar. "Acho que [o Estado] devia ajudar a nível de impostos: uma pessoa ainda não está a facturar e já tem de pagar. Mas acho que sim, que quem quer deve ir em frente, porque parado não se vai a lado nenhum." Se não fosse através do microcrédito, a cabeleireira não teria outras alternativas de financiamento, mas tem quem a ajude. "O negócio vai andando muito lentamente, mas estou esperançosa e com fé que isto vá em frente. Tenho de dar tempo ao tempo: uma casa leva muito tempo a fazer-se. E um salão de homens ainda é mais difícil, porque o homem é muito fiel ao sítio onde está. Tenho de ter esperança e ser positiva."

Reconhece que trabalhar por conta de outrém não é mau, mas ter um salão só seu era um sonho de há muito. O microcrédito foi a chave para o sucesso, porque de outra forma, Maria Lopes não teria conseguido montar o salão Trindade, devido aos juros elevados dos créditos pessoais. Agora, tem o seu espaço e concretizou o seu sonho. A quem se quer lançar como microempresário, Maria Lopes relembra que nem todo o processo é fácil e reclama mais ajudas.

"Nos primeiros tempos, temos muitas despesas, desde a renda à prestação do microcrédito. Se não houver, no mínimo, um suporte, é muito complicado. Eu tenho uma pessoa que me ajuda e isso está a aguentar-me. Mas acho que quem tem realmente vontade, deve ir em frente". As duas cadeiras do salão de Maria Lopes podem estar temporariamente vazias, mas a sua vida está mais completa: tem esperança e um espaço só seu.



O que precisa de saber

Se já tem uma ideia sólida, vontade e iniciativa e só lhe falta o financiamento certo para abrir o seu negócio, saiba como deve agir para o obter. A Associação Nacional de Direito ao Crédito (ANDC) esclarece as dúvidas e diz-lhe qual o caminho a seguir, para que o seu projecto se torne realidade.

1 Pode pedir um microcrédito em qualquer circunstância?
Só pode solicitar um microcrédito se reunir as seguintes condições: não tiver acesso ao crédito bancário normal, nem incidentes bancários activos, estiver desempregado ou sem uma ocupação estável, tiver uma boa ideia (com perspectivas de sucesso), pretender criar o seu próprio emprego (com formação e competências adequadas) e revelar vontade e capacidade de iniciativa para se envolver no negócio.

2 Pode utilizá-lo para que fins?
Pode utilizar o montante que solicitou em despesas de investimento e naquelas que sejam consideradas indispensáveis à constituição e arranque do negócio. Por ser um crédito ao investimento, não apoia o consumo, nem serve para ajudar a superar dificuldades momentâneas. Pode concorrer com negócios de várias áreas ou sectores, desde que se conclua que o seu projecto pode ter êxito com o financiamento disponível. O exercício da actividade não pode contrariar os princípios pelos quais se regem o microcrédito e a ANDC.

3 O que é que a ANDC pode fazer por si?
A ANDC ajuda os microempresários a criarem o seu negócio e a desenvolvê-lo. Assim, ajuda-o a preparar o plano de financiamento, esclarece-lhe questões relacionadas com a abertura do negócio, acompanha-o durante o seu desenvolvimento e ajuda-o a ultrapassar questões técnicas ligadas ao crescimento do negócio.

4 O que tenho de fazer para conseguir este apoio?
Primeiro, deve contactar a ANDC, por telefone, "e-mail" ou dirigindo-se à sua sede. Depois, deve preencher e entregar à ANDC uma declaração assinada, autorizando o banco (Banco Espírito Santo, Caixa Geral de Depósitos ou Millennium bcp) a fornecer informações bancárias, colhidas na Central de Risco do Banco de Portugal. Se for casado, o cônjuge também deve assinar uma declaração idêntica. O próximo passo é reunir cópias autenticadas de vários documentos e é feita a primeira consulta ao banco. Quando o banco tiver uma resposta, a ANDC entra em contacto com o candidato. Posteriormente, se nada impedir que o processo avance, iniciam-se as entrevistas, que visam preparar o projecto de investimento. Será um técnico do ANDC que ajudará o futuro microempresário a construir o seu projecto. Por último, se o negócio for viável, e a pessoa estiver em condições de o desenvolver, o projecto é proposto para aprovação em Comissão de Crédito, e caso seja aprovado, é enviado pela ANDC para o banco. Este processo costuma durar cerca de 12 meses, dependendo do grau de maturidade do projecto apresentado e da rapidez com que apresenta os documentos exigidos.

Fonte: Associação Nacional de Direito ao Crédito
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