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O que o Estado pode fazer pela sua empresa

Diogo Santos, Sandra Santos e Carla Gameiro são três estagiários inseridos no programa Qualificação - Emprego, para desempregados com mais de 35 anos. Carlos Vidinha, Manuel Gonçalves e Maria Otília Morais são os empresários que os acolhem...

18 de Março de 2010 às 10:46
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Diogo Santos, Sandra Santos e Carla Gameiro são três estagiários inseridos no programa Qualificação - Emprego, para desempregados com mais de 35 anos. Carlos Vidinha, Manuel Gonçalves e Maria Otília Morais são os empresários que os acolhem. Conheça a opinião de quem vive de perto a experiência.

Foi enquanto remodelava um celeiro, no Alentejo, que Diogo Santos, 38 anos, descobriu o prazer e a curiosidade pela construção. Com uma licenciatura em Matemática Aplicada, pela Universidade de Évora, resolveu voltar à vida de estudante universitário. Desta vez, o objectivo era outro: ser engenheiro civil.

Em Janeiro de 2009, terminou a segunda licenciatura na Escola Superior de Tecnologia do Barreiro (Instituto Politécnico de Setúbal) e, em Agosto, iniciou um estágio Qualificação-Emprego, na Andaluga, empresa especialista em aluguer de andaimes, gruas e equipamentos. Hoje, Diogo Santos é técnico de projecto do departamento de estruturas metálicas e é lá que deve continuar, quando o estágio acabar, a 30 de Abril deste ano.

O programa Qualificação-Emprego foi uma iniciativa do Governo, em 2009, para "apoiar empresas que actuam em qualquer sector de actividade e que são alvo de reduções momentâneas de procura". Além dos estágios, o programa tem em vista a "inserção dos trabalhadores em acções de formação qualificantes, em caso de redução temporária do período normal de trabalho ou suspensão dos contratos de trabalho". Na Iniciativa Emprego 2010, os apoios aos estágios foram reforçados. Agora, o Estado comparticipa 65% da bolsa em empresas com menos de 10 trabalhadores, quando em 2009 financiava 55%.

Quando resolveu abrir um bar em Évora, Diogo Santos mal sonhava que dentro de poucos anos seria engenheiro civil na Andaluga, uma empresa com 76 colaboradores. O estabelecimento comercial, depois de quatro anos de empenho no projecto e na sua construção, ficou para trás, bem como os 18 anos de explicações na área da Matemática. Agora, o seu lugar é na empresa que há 28 anos actua nos mercados de construção, indústria, logística, eventos e engenharia e que tem sede no Seixal.

O problema da burocracia
"Tive conhecimento da iniciativa pela Internet, no 'site' do IEFP [Instituto de Emprego e Formação Profissional]", explica Diogo Santos, natural de Paris, França, mas em Portugal há mais de 20 anos. Depois de averiguar todas as condições e ler o processo, chegou ao Centro de Emprego "com a lição bem estudada". Primeiro, tinha sido chamado para um estágio na Câmara Municipal de Sesimbra, mas desistiu da ideia. Diogo Santos queria estagiar numa entidade onde pudesse dar continuidade ao seu trabalho e, lá, perspectivava que tal não acontecesse.

O estágio na Andaluga chegou através de um amigo, que desistiu para dar seguimento a um doutoramento. Foi a uma entrevista, enviou a candidatura "on-line" e, em pouco tempo, dava início a uma experiência de nove meses. Na verdade, foi "de um dia para o outro". Na empresa, conseguiu tratar de tudo numa semana. Assim que pôde, enviou a candidatura pela Internet e ,cerca de cinco horas depois, tinha a confirmação: na segunda-feira seguinte dava entrada no mercado de trabalho como engenheiro civil.






Diogo Santos Deixou 18 anos na área Matemática para se dedicar à Engenharia Civil. Foi através de um estágio Qualificação-Emprego que conseguiu entrar no mercado de trabalho.





Tome nota



Conheça o essencial dos estágios do programa Qualificação-Emprego.

1 A quem se destina?
Destina-se a desempregados, subsidiados ou não, com idade superior a 35 anos e que tenham concluído, nos três anos antes, o ensino básico ou secundário através das Novas Oportunidades, um curso de especialização tecnológica ou o ensino superior.

2 Qual o apoio do Estado às empresas?
Em 2010, o apoio às empresas foi reforçado. Entidades com fins lucrativos que tenham menos de dez colaboradores são omparticipadas em 65% (em 2009: 55%); entre 10 e 49 trabalhadores são-no em 60% (em 2009: 55%). Nas empresas que tenham entre 50 e 249 colaboradores, o apoio é de 50% (em 2009, para empresas entre 100 e 249 trabalhadores, era de 35%) e aquelas que têm mais de 250 colaboradores recebem, agora, um apoio, de 35%, mais 15% do que no ano passado.

3 Qual o montante da bolsa?
A bolsa dos estagiários depende do seu grau de qualificação. Na maioria dos casos, em 2010, o valor mantém-se entre 419,22 euros e 838,44 euros. Os beneficiários que tenham apenas o ensino básico, têm uma bolsa menor do que no ano passado: a sua remuneração desce de 524 para 419 euros. O subsídio de alimentação é limitado pelo valor que é praticado na função pública.






Apesar da celeridade do processo, Diogo Santos diz ter sentido algumas dificuldades burocráticas. "O formato das candidaturas não é funcional", afirma, acrescentando que, durante o estágio, há muita burocracia nos aditamentos ao financiamento. Dura "apenas nove meses, ao contrário dos 12 meses dos estágios profissionais para jovens até aos 35 anos". Contudo, em 2010, os estágios Qualificação - Emprego terão a duração de um ano.

Todas as semanas, Diogo Santos elabora um relatório sobre a sua actividade na empresa. "As perspectivas são para continuar", explica. Por isso, a 30 de Abril, é provável que deixe de ser estagiário para ser colaborador da Andaluga. Antes, terá de elaborar um relatório de estágio final. Diogo Santos explica que, apesar de iniciativas como esta poderem ter algumas "fraquezas", "são sempre boas".

"A partir dos 35 anos, as iniciativas não são muitas, não há um grande mercado de trabalho", comenta. Por isso, considera que deveria existir mais publicidade, mais divulgação destas iniciativas. E que se deveria tornar todo o processo "numa coisa mais simples", porque é "necessário".

Carlos Vidinha, sócio-gerente da Andaluga, não tem críticas a fazer. "Está a correr tudo bem, não houve obstáculos nenhuns", diz. O papel do Centro de Emprego tem sido fundamental, pois "tem dado todo o apoio" necessário à continuação do estágio. As competências do recém-licenciado em engenharia civil também ajudam. Por ser uma pessoa "correcta", o mais certo é contratarem-no.

Se há algo a apontar, Carlos Vidinha também refere a burocracia. "Não tenho crítica nenhuma a fazer. A única coisa que existe é alguma burocracia, mas faz parte das regras e nós respeitamos. E 'quem não deve, não tem'", acrescenta. Para o futuro, equaciona voltar a recorrer a este apoio do Estado. "É uma boa política para promover o primeiro emprego dos recém-licenciados e de outros profissionais", diz.

Mudar o rumo
Foi com a ajuda do programa Qualificação-Emprego que Sandra Santos, 39 anos, conseguiu acabar o 12º ano e estagiar na sociedade de advogados A. Tavares Martins, M. Gonçalves & Associados. A recém-estagiária estava desempregada há dois anos quando resolveu inscrever-se. Até então, já tinha trabalhado como empregada de uma papelaria, empregada de balcão num café, numa loja de roupa, entre outros. "Mas a minha maior experiência foi como auxiliar de educação numa creche e jardim de infância e, durante um ano, numa casa particular, a tomar conta de dois bebés", explica.

A área em nada se relaciona com o curso que tirou no Centro de Formação Profissional de Tomar, de "Instalação e Gestão de Redes". Agora, ocupa várias funções: técnicas de arquivo e documentais, documentação e âmbitos administrativos, utiliza as aplicações informáticas e a internet na elaboração, organização e pesquisa de informação, entre outras. A reviravolta na sua vida deu-se quando o Centro de Emprego de Tomar a chamou e lhe explicou o programa. "Decidi concorrer porque estava com dificuldade em arranjar emprego", diz.

Quanto à experiência, acha-a positiva. Além de ter crescido como ser humano, Sandra conseguiu "aprender coisas muito interessantes e importantes", que nunca esperou aprender. "Era uma nova etapa da minha vida."

Manuel Gonçalves, sócio-gerente da sociedade de advogados, explica que todo o processo de contratação do estágio de Sandra correu "muito bem, tendo o Centro de Emprego actuado com grande empenho e eficácia".

A experiência de estágio está a ser positiva e vantajosa. "Todavia, parece-nos merecedor de reparo que tenhamos tido de apresentar certidões e alguns documentos relativamente a dados que constam de bases oficiais, para cuja consulta tínhamos dado autorização", diz.

Quanto a mudanças que gostaria de ver no programa, adianta que "melhorar é sempre possível", mas que não tem grandes críticas a apontar. Sandra Santos espera agora ter alguma estabilidade "para poder dar uma vida mais segura ao filhos".

Uma coisa é certa: a família é um verdadeiro motor de dinamismo. Foi pela sua que Carla Gameiro, 37 anos, voltou para Portugal, depois de dez anos dedicados à investigação na área da biologia. Dinamarca, Canadá e Estados Unidos da América foram os sítios por onde passou. Hoje, é uma das estagiárias Qualificação - Emprego, da QUIMITESTE, empresa especializada na área da Engenharia da Qualidade, em Setúbal.

Saltar para o trabalho
Quando Carla Gameiro, natural de Lisboa, acabou o seu doutoramento na Faculdade de Ciências, da Universidade de Lisboa, teve de tomar uma decisão: "ficar num sistema de bolsas eternamente ou passar para o mundo do trabalho". A escolha recaiu na segunda hipótese. "Foi graças a este programa que consegui emprego". É assim que a licenciada em Biologia e doutorada na mesma área, com especialização em Ecologia, começa a conversa com o Negócios.

Quando defendeu a sua tese de doutoramento, estava grávida de sete meses. Depois disso, esteve mais de um ano sem rendimentos. Na verdade, Carla nunca os teve. Desde que acabou a licenciatura, em 2000, que vivia das bolsas da investigação científica. Na sua área, as perspectivas de ingressar no mercado de trabalho eram poucas. Mas Carla não desistiu.

Foi enquanto procurava emprego que soube da vaga na Quimiteste. Não tinha conhecimento do programa, tendo sido a própria empresa a sugerir que concorresse. "Por mim, óptimo. Posso ser doutorada, mas não tinha experiência nenhuma do mercado de trabalho. Se não fosse esta iniciativa, estaria desempregada", comenta.

Foi assim que Carla descobriu que existia um "mundo por detrás" da Qualificação-Emprego. Depois disso, já divulgou o programa junto da empresa onde o namorado trabalha, contribuindo para a colocação de mais estagiários. Se há aspectos a melhorar, é esse que Carla refere: falta de divulgação.

"As pessoas que eu conheço, muito a nível da investigação científica, não têm ideia da estrutura destas iniciativas. Acho que há pouca divulgação. As pessoas querem procurar emprego, mas não sabem onde. E não procuram inserir-se em programas como este", diz.

Quanto a obstáculos, diz não terem surgido. "A Quimisteste é uma empresa muito conhecida pela quantidade de gente que já recrutou através deste âmbito. No meu caso, foi já tudo muito fácil. Houve uma pessoa do Centro de Emprego de Setúbal que me ajudou em tudo, facilitou todo o processo, tendo sido quase tudo tratado por e-mail", explica.

A 15 de Dezembro, Carla Gameiro iniciava um estágio de nove meses. Diz que as perspectivas para o futuro são positivas porque na empresa há vários colaboradores que começaram como estagiários de programas deste género. "Sinceramente, acho que não faz sentido eu não ficar além dos nove meses. A empresa canalizou muitos recursos para a área onde estou a trabalhar", esclarece.






Carla Gameiro Dedicou 10 anos da sua vida à investigação científica mas, depois de ter o primeiro filho, tentou a sorte no mercado de trabalho. Carla Gameiro não se arrepende de ter iniciado a sua vida profissional na Quimiteste.





Prós e contras



Saiba quais são os aspectos positivos e negativos do programa, indicados por
estagiários e empresas.

PRÓS
• Possibilidade de entrada no mercado de trabalho.
• Apoio do Estado - bolsa consoante o número de colaboradores da empresa.
• Formação dos estagiários dentro da própria empresa.

CONTRAS
• Processo muito burocrático.
• Pouca funcionalidade dos formulários.
• Falta de divulgação da iniciativa.






Actualmente, Carla Gameiro trabalha na avaliação dos indicadores ecológicos da qualidade da água do ponto de vista biológico, como bactérias, algas, toxinas, entre outros. "A própria empresa tem um interesse muito grande em ajudar-me e em perceber todo este mecanismo de qualidade da água, em termos biológicos. A Quimiteste está muito aberta a tudo, mesmo aos meus conhecimentos", diz.

Carla não se arrepende de ter trocado a investigação por um emprego. Mas tem consciência que se o estágio não estivesse a correr tão bem, ainda pensava em voltar. "É difícil perder esse bichinho", diz. Apesar de ter mais liberdade no laboratório do que no mercado de trabalho, ali é tudo muito mais pragmático. "Era este o salto que eu precisava de dar e não estou nada arrependida".

Maria Otília Morais, administradora da empresa de laboratórios de ensaios e engenharia de qualidade, explica que ainda não consegue identificar aspectos que devam ser melhorados no programa. "Estamos numa fase de implementação, de busca, não conseguimos dizer muita coisa. Se calhar, no futuro, podemos captar algumas hipóteses de melhoria".

Não é a primeira vez que a Quimiteste, com 35 colaboradores, recorre aos programas do Estado para a colocação de estagiários. "Tivemos conhecimento do Qualificação-Emprego através do próprio Centro de Emprego, porque colaboramos com eles há muito tempo. Dão-nos conhecimento de programas que cessam e de outros que surgem." Por enquanto, neste âmbito, só contrataram Carla Gameiro e as perspectivas da estagiária confirmam-se. "Por política da Quimiteste, os estagiários ficam connosco." Só cerca de 10% dos colaboradores da empresa é que não começaram através de estágios deste tipo.

"Colaboramos com o Centro de Emprego de uma forma muito sã, muito fácil", explica. Por isso, não encontraram dificuldades no processo de contratação da bióloga. "A nossa relação é a melhor possível, tanto da parte da empresa, como pelo que sabemos dos estagiários." E não se arrepende de formar os seus quadros por esta via. Maria Otília explica que apostar em estagiários traz várias vantagens, como a sua integração e formação dentro da própria empresa, aquisição de conceitos e normas de rigor, bem como o desenvolvimento do espírito de equipa. "As empresas necessitam de jovens capazes de aplicar o conhecimento que trazem". Por isso, têm de lhes dar as ferramentas necessárias para conseguirem aplicar o seu saber.









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