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Mudar de vida passo-a-passo

Tudo começou com o reinvestimento de dinheiro que Ricardo Parreira e Miguel Capelão ganharam na bolsa, no final dos anos 80. "Com o "boom" da bolsa começámos a investir em acções e ganhámos muito dinheiro, mas depois veio o "crash" e perdemos...

Mudar de vida passo-a-passo
10 de Setembro de 2009 às 14:59
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Os primeiros passos são sempre os mais difíceis. Da ideia à criação da empresa e à sua sustentabilidade surgem dúvidas e entraves que podem levar ao cancelamento dos projectos. A perseverança é a palavra-chave, como contam três empresários que começaram devagarinho.

Tudo começou com o reinvestimento de dinheiro que Ricardo Parreira e Miguel Capelão ganharam na bolsa, no final dos anos 80. "Com o 'boom' da bolsa começámos a investir em acções e ganhámos muito dinheiro, mas depois veio o 'crash' e perdemos muito do que tínhamos ganho. Com o que sobrou decidimos investir numa empresa", explica o director-geral da PHC.

Na altura, os dois sócios ainda estavam na Universidade, no terceiro ano dos cursos de gestão e engenharia, e o objectivo era o de criar uma empresa de consultoria, mas os projectos que surgiram acabaram por apontar para a informática e o desenvolvimento de "software" em que se especializaram. "Saíamos da faculdade e íamos para as empresas dos clientes desenvolver o "software". Muitas vezes, só saíamos de lá de manhã, quando chegavam os empregados da limpeza", recorda Ricardo Parreira, sobre as maratonas nocturnas que sustentaram uma paixão pela programação que se mantém hoje.

Quando acabaram o curso, a empresa já estava a rolar mas ainda não permitia a sustentabilidade dos dois sócios e, por isso, cada um arranjou empregou noutra companhia: Miguel Capelão na Petrogal e Ricardo Parreira numa empresa de mármores, onde foi director financeiro, passando depois pelo "marketing" da Colgate. A PHC continuava a funcionar mas com uma dedicação em tempo parcial, mantendo-se na empresa um colaborador, que hoje é também sócio, e que respondia aos pedidos de assistência dos clientes. A passagem obrigatória pelo serviço militar não implicou uma pausa no negócio da "software-house", mantendo-se o desenvolvimento de aplicações à medida e a angariação de novos clientes. Por isso, quando terminou o período da tropa, havia uma decisão a tomar: ou se dedicavam à empresa a tempo inteiro para desenvolver o trabalho que tinham começado, ou desistiam e fechavam a PHC.

Na altura, as circunstâncias favoreciam a decisão de avançar com a empresa: já tinham alguns clientes e a responsabilidade de manter os projectos desenvolvidos, ambos os sócios viviam em casa dos progenitores e tinham a liberdade de não precisar de ganhar dinheiro porque "viviam à conta dos pais".






PHC Software
www.phc.pt

Data de criação 1989
Facturação 11.150 mil euros (2008)
Colaboradores 118 entre Lisboa, Porto e Moçambique
Produtos e serviços "Software" de gestão que cobre as diferentes áreas das empresas, desde a contabilidade aos recursos humanos, facturação e logística, com pacotes para micro, pequenas e médias empresas e grandes empresas, como o PHC Corporate, PHC Advanced e PHC Enterprise.



Ricardo Parreira
Director-geral da PHC
42 anos

Com 20 anos de história, estão mais do que ultrapassadas as dúvidas iniciais sobre a viabilidade do projecto de desenvolver uma "software-house" portuguesa numa altura em que as aplicações eram todas importadas e a informática começava a dar os primeiros passos. Ricardo Parreira e o seu sócio Miguel Capelão ainda estavam a estudar na faculdade, o primeiro em gestão e o segundo em engenharia, mas os lucros obtidos com investimentos na bolsa garantiram algum dinheiro para iniciar o projecto em que ambos acreditavam. Como as receitas não eram suficientes para sustentar os salários, trabalharam noutras empresas depois de acabarem os cursos e, só depois de uma passagem pelo serviço militar, decidiram avançar para a dedicação total à PHC, o que foi uma decisão possível pela liberdade e não existência de compromissos na época. "Podíamos estar quatro a cinco anos sem ganhar dinheiro. Vivíamos à conta dos pais e, às vezes, sobrava algum dinheiro depois de pagarmos os salários aos colaboradores", justifica Ricardo Parreira. A perseverança e a confiança no projecto fizeram com que não recuassem, uma audácia que acabou por trazer frutos. O director-geral da PHC confessa que nunca pensou chegar ao ponto onde a empresa se encontra actualmente.


Estratégia acertada
Apesar da decisão consciente, os primeiros anos foram difíceis. "Éramos só quatro ou cinco, tínhamos de fazer tudo, trabalhávamos 14 horas por dia e, ainda por cima, não ganhávamos dinheiro", explica Ricardo Parreira. Para os sócios, só havia salário se sobrava dinheiro depois de todos os colaboradores e as contas estarem pagos.

Com o tempo e a experiência, perceberam que o que dava dinheiro não era fazer "software" à medida, mas aplicações-padrão que fossem adaptadas à necessidade de cada empresa, suportando a força comercial numa rede de parceiros em todo o país. O conceito deu certo e, hoje, a PHC é uma das maiores "software houses" nacionais, contando com cerca de 350 parceiros, actividade em Portugal, Moçambique e Angola e mais de 22 mil clientes, num total que ultrapassa 100 mil utilizadores.

No meio deste percurso de 20 anos, que elevou a empresa a um nível com que os sócios nunca sonharam, Ricardo Parreira admite que houve muito trabalho duro, momentos difíceis, mas também muita sorte, conseguindo dar saltos em momentos de mudança do mercado, como o "vírus" do ano 2000, o euro e a introdução do sistema de contabilidade SAFT-PT. A teimosia e a confiança no projecto fizeram com que, mesmo quando tudo parecia estar contra os sócios da PHC, nunca desistissem. "Aprendi que quando parece que o único caminho é desistir, temos de acreditar no projecto e levá-lo para a frente", sublinha Ricardo Parreira.






EDC - Executive Decisions Communications
www.edc.pt

Data de criação 2004
Facturação 850 mil euros (2008)
Colaboradores 10
Produtos e serviços Assessoria de imprensa, produção e gestão de conteúdos, "design" e comunicação, organização de eventos.



Frederico Rocha e Vasco Simões
Directores da EDC - Executive Decisions Communications
31 e 34 anos

A ideia de criar uma agência de comunicação surgiu quando Frederico Rocha ainda era jornalista no "Semana Informática", procurando um conceito mais abrangente que envolvesse também um sentido de parceria com os clientes, integrando todo o "marketing" e comunicação e assumindo-se como um braço comercial. A oportunidade acabou por se materializar com a saída do jornal, fruto de uma reestruturação interna, que deu as condições financeiras e disponibilidade de tempo para começar a preparar o projecto, ao qual havia de se associar uns meses mais tarde o actual sócio, Vasco Simões, que ainda estava a trabalhar numa empresa.

Depois de uns primeiros meses auspiciosos, em que as oportunidades de angariação de clientes surgiram de forma fácil, a empresa começou a crescer e a ganhar forma num mercado muito concorrencial. Mas, pelo meio, surgiram várias dúvidas e angústias, até porque os seus sonhos não passavam obrigatoriamente por um projecto empresarial. "Agora não me via a trabalhar para outros. Existe uma paixão pelo projecto e a necessidade de mostrar o valor de desenvolver um projecto nosso, criado de raiz", sublinha Frederico Rocha.


Dois anos de gestação
A segurança no projecto está também na base do desenvolvimento da Lusolabs, aliás MIPE - Tecnologias da Informação. A ideia de criar um serviço de "webdesign" e alojamento "web" também se formalizou quando Filipe Lacerda estava a fazer o primeiro ano do curso superior à noite, juntando o trabalho com o de um colega para criar o "site".

A empresa só havia de se formalizar dois anos mais tarde, mas, até lá, os "recibos verdes" e o trabalho em paralelo com os estudos e o emprego na Fertagus foram sustentando os diversos projectos desenvolvidos, a par de cursos de formação que foi dando a convite da faculdade e mais tarde do Instituto de Emprego e Formação Profissional. Com Miguel Casimiro, queimou pestanas para os projectos de "webdesign" e alojamento que iam surgindo, mas só em 2005 foi criada a empresa, com o nome de MIPE, porque não foi possível registar o Lusolabs, que se manteve apenas como marca já que não quiseram perder o histórico de confiança acumulado.

O grande empurrão para a formalização foi dado pela Torres Papel, uma empresa para a qual desenvolveram serviços que não podiam ser facturados a "recibos verdes". Filipe Lacerda e Miguel Casimiro assumiram em partes iguais a participação na empresa, mas o trabalho a tempo inteiro ficou à responsabilidade de Filipe, mantendo-se o sócio a trabalhar numa empresa tecnológica porque os negócios não eram suficientes para pagar as contas.

O desenvolvimento de projectos inovadores na área de "marketing" electrónico e "hosting" de baixo custo mereceram a participação da empresa em várias feiras de empreendedorismo, como a Empreenda, a PorTI e a Portugal Tecnológico. Nesta, contaram com a confiança do IAPMEI (instituto de apoio às pequenas e médias empresas e ao investimento), e acabaram por abrir novas portas a negócios e projectos vários.

"O passo mais difícil não foi criar a empresa. Isso foi tão natural como beber água […] Foi mais difícil assumir a responsabilidade de ter colaboradores a trabalharem connosco. Estão sempre em primeiro lugar, porque a empresa tem uma responsabilidade social", adianta Filipe Lacerda.






MIPE - Tecnologias de Informação
www.lusolabs.com

Data de criação 2005
Facturação 125 mil euros (2008)
Colaboradores 3
Produtos e serviços "Webdesign" e alojamento "web" de baixo custo com a solução StarFire.



Filipe Lacerda
Sócio-gerente da MIPE - Tecnologias de Informação
30 anos

Ainda estava na faculdade quando lançou, em 2003, o projecto Lusolabs com um colega, um serviço que oferecia concepção e alojamento de "websites" e que era mantido a par das várias actividades que sempre sustentou: o curso feito em horário nocturno, o trabalho numa empresa e outros projectos, como dar formação, a convite da Universidade e mais tarde do IFP. Só em 2005 Filipe Lacerda acabou por avançar com o colega na criação da empresa, mas teve de optar pelo nome MIPE - Tecnologias de Informação porque não deixaram registar o Lusolabs, que se mantém só como marca. Todo o investimento para o desenvolvimento da empresa saiu do seu bolso e do sócio, mas não se arrepende, apesar dos altos e baixos dos últimos anos, garantindo que não desistiria deste percurso por um emprego seguro. A sustentabilidade da empresa já está garantida, com um leque diversificado de clientes que já chega a uma centena e que conta com referências como a Ciclum Farma, uma das maiores empresas de medicamentos genéricos a nível mundial.

Mas os projectos continuam a desenvolver-se e Filipe Lacerda não deixa de investir, também em termos pessoais, adicionando cursos e certificações às competências que já domina e que têm ajudado a abrir novas portas e cenários para novos projectos. O próximo passo já está planeado para o mês corrente, com a abertura de um centro de operações no "Liberdade Business Center", com o qual mantêm uma parceria, assegurando a infra-estrutura tecnológica.


Sair do ritmo
Ao contrário da PHC e da Lusolabs, a EBC não surgiu nos bancos da Universidade. Frederico Rocha já estava a trabalhar como jornalista no "Semana Informática" quando a ideia de criar uma agência de comunicação de âmbito diferente das que existiam, mas sem o impulso de uma reestruturação na empresa que o levou ao desemprego era possível que não tivesse avançado com o projecto. Com a garantia da indemnização e do subsídio de desemprego, começou a desenvolver o conceito e, meses mais tarde, acabou por desafiar o actual sócio, Vasco Simões.

Nos primeiros meses, trabalhava sozinho, no seu quarto, com dois computadores, o "e-mail" e o telefone, mas o negócio começou a fluir, conquistando clientes que já garantiam uma base de rendimento que assegurava a sustentabilidade. Em Setembro de 2004, quando formalizou a criação da EBC, o sócio abandonou o emprego e dedicaram-se ambos a fazer crescer a ideia. Só em 2005 montaram um escritório. Desde então, a agência de comunicação não tem parado de crescer, contando actualmente com 10 colaboradores e perspectivas de aumentar esse número para 13 a 15 até final do ano. A facturação tem acompanhado o aumento de clientes e já chega aos 850 mil euros.

A expansão para o mercado ibérico, através de um acordo com uma rede de relações públicas espanhola é um dos desenvolvimentos mais recentes e começa, também, a mostrar resultados.
A liberdade de poder desenvolver as suas próprias ideias é um dos factores que mais o atraem no desenvolvimento da empresa, assim como a gestão do tempo que é mais flexível, apesar dos sacrifícios que muitas vezes se fazem. "Não me imaginava como empreendedor e tive as minhas dúvidas, mas, agora, não me via a trabalhar para outros", confessa Frederico Rocha.

Embora com perfis e percursos diferentes, a ideia é comum a Filipe Lacerda, que garante que "se a empresa fosse comprada hoje, fazia outra amanhã". Uma confiança partilhada por Ricardo Parreira, que mantém a mesma paixão pelo projecto que criou e viu prosperar. Com novos projectos em carteira, que tiram partido das vantagens da globalização e da Internet, o empresário diz: "temos de continuar a arriscar. Este é um mundo onde nunca se pode parar de investir, inovar e avançar".
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