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Licença para inovar

Não há uma fórmula secreta para definir uma candidatura de êxito aos prémios BES Inovação. Nem poderia haver. Mas Luís Mira, que liderou uma das propostas ganhadoras, aponta três conceitos-chave para alcançar o sucesso: inovação, parceria com entidades do...

13 de Maio de 2010 às 10:57
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O prémio BES Inovação ajudou a lançar dezenas de projectos de investigadores e empresas. Com a ajuda do apoio financeiro, registo de patentes e estudo de viabilidade de negócio houve ideias que saíram da gaveta e chegaram ao mercado.

Não há uma fórmula secreta para definir uma candidatura de êxito aos prémios BES Inovação. Nem poderia haver. Mas Luís Mira, que liderou uma das propostas ganhadoras, aponta três conceitos-chave para alcançar o sucesso: inovação, parceria com entidades do sistema científico nacional e trabalhar para mercados globais.

O professor do Instituto Superior de Agronomia aplicou a sua fórmula num projecto de produção de pasta de azeite que venceu na área de projectos agro-industriais, em 2008, e que envolvia duas pequenas empresas do sector e o instituto onde lecciona. O objectivo da investigação que teve início nesse ano - e que juntou a Consulai e a Cooking Lab com o Instituto - é a transformação do azeite numa pasta sólida, com uma textura semelhante à da manteiga, que pode ser usada para barrar o pão ou cozinhar, apresentando-se como uma alternativa saudável à manteiga ou à margarina.

Quase dois anos depois da candidatura, o projecto ainda está à procura dos parceiros para validar o "scale up" industrial, fase em que se passa do protótipo em laboratório para a indústria, antes de massificar o produto que tem objectivos de comercialização à escala global. "Tem sido complicado negociar a parceria", confessa Luís Mira, que admite que o processo tem sido mais longo do que o esperado, embora existam sinais positivos num acordo de condições assinado recentemente.






"A ideia tem de ser fácil de explicar, original e ter grande impacto."

Pedro Bizarro Chief Science Officer e fundador da FeedZai
Projecto SICU Vencedor do Grande Prémio na edição de 2009
Entidade promotora FeedZai
Colaboradores da empresa 11






Tecnologias da informação ao serviço da saúde

O conceito já estava a ser desenvolvido no âmbito de um projecto de mestrado que se integrava com a investigação realizada na Universidade de Coimbra. Como primeiro passo já tinha sido criada até uma empresa, a FeedZai, que se especializou no tratamento de informação em tempo real. A aplicação
da tecnologia à área da saúde, que deu origem ao projecto SICU, um sistema informático para monitorizar pacientes hospitalizados em cuidados intensivos, surgiu como uma oportunidade e deu azo à candidatura ao BES Inovação, que acabou por ganhar o prémio máximo na edição de 2009. O protótipo que foi concebido permite prever, em tempo real, se o paciente vai ter um ataque cardíaco nas próximas 24 horas e apresenta uma taxa de sucesso de 67%.

Pedro Bizarro admite que o prémio chegou em boa hora e está a ajudar a empresa a nível da visibilidade, abrindo portas a parcerias e contactos. Para quem se quer candidatar deixa um conselho: "a ideia tem de ser fácil de explicar, original e ter grande impacto".



Mesmo aqui, o facto de o projecto ter ganho o prémio BES Inovação tem dado uma ajuda, que se soma ao apoio financeiro que permitiu desenvolver a ideia e que foi complementado com um financiamento obtido através do QREN IDT. "A divulgação e promoção do projecto é importante para credibilizar e ajudar a encontrar os parceiros certos", justifica o investigador.

"Quando as empresas estão a começar na área da inovação, é importante ter reconhecimento público, porque a inovação é complicada, tem uma taxa de sucesso baixa e os caminhos que as empresas trilham são difíceis, cheios de incertezas e dúvidas", explica.

Pedro Bizarro, professor da Universidade de Coimbra e fundador da FeedZai, tem uma visão semelhante para partilhar. Depois de ter vencido o grande prémio na edição de 2009 no BES Inovação, várias portas se abriram à empresa que se especializou em tratamento de informação complexa em tempo real e que tem vindo a desenvolver várias vertentes de aplicação desta tecnologia. O projecto que foi levado a concurso consistia num sistema informático para monitorizar pacientes internados em cuidados intensivos que prevê, em tempo real, com cerca de 67% de taxa de sucesso, se um paciente vai ter um ataque cardíaco nas 24 horas seguintes.

"Foi muito bom ter ganho o prémio, que valida o que estamos a fazer, um projecto que há um ano atrás levantava dúvidas entre as pessoas e não parecia tão óbvio", lembra o CSO ("Chief Science Officer") da FeedZai. Este reconhecimento e a divulgação conseguida pelo BES Inovação são dois dos factores que Pedro Bizarro destaca como positivos nesta participação, embora tenha alguma dificuldade em traçar cenários diferentes de evolução "sem" o elemento crucial que foi a atribuição do prémio. "É difícil pensar numa realidade alternativa", comenta, embora a empresa já estivesse criada e em desenvolvimento ainda antes de receber a confirmação deste galardão.







"Só faz sentido concorrer se tiver uma ideia com tecnologia por trás que seja realmente inovadora e baseada em investigação sólida. Não vale só dourar o embrulho."

Luís Mira Professor do Instituto Superior de Agronomia
Projecto Texturização da Pasta de Azeite Vencedor do prémio para a área Agro-industrial em 2008
Entidades envolvidas Instituto Superior de Agronomia, Consulai e Cooking Lab.
Colaboradores envolvidos no projecto 6 pessoas



Barrar azeite no pão

O desenvolvimento de projectos de investigação faz parte do currículo dos promotores da ideia que ganhou o prémio para a área Agro-industrial em 2008 e que se propõe transformar o azeite numa pasta, de consistência semelhante à manteiga, que pode ser usada para barrar o pão ou cozinhar e que apresenta vantagens face à manteiga e à margarina.

A tecnologia é inovadora à escala global e o objectivo era desenvolver um protótipo para mais tarde passar à fase de industrialização, que ainda não aconteceu. Ao juntar o Instituto Superior de Agronomia e duas pequenas empresas ligadas à área da gastronomia molecular e qualidade e segurança alimentar, o projecto tira partido das melhores práticas nesta área, juntando credibilidade e flexibilidade. O produto que resulta desta tecnologia está ainda à espera de ver a luz do dia, mas mantém-se a confiança de que a prazo chegará às prateleiras das lojas ou, pelo menos, à área da restauração.

Experimente nas candidaturas de projectos de inovação, Luís Mira, que liderou o consórcio, lembra que não vale dourar o embrulho na apresentação da ideia.

"Só faz sentido concorrer se tiver uma ideia com tecnologia por trás que seja realmente inovadora e baseada em investigação sólida".



O prémio é ainda recente, tendo sido entregue no final de 2009, e já serviu para apoiar o desenvolvimento da investigação e ainda começar a avançar para o registo das primeiras patentes, que estão em preparação.

Áreas de actuação paralelas
Actualmente, a FeedZai está a trabalhar em três vectores distintos que justificam um empenho acelerado da equipa, que tem vindo a aumentar. O principal projecto é o desenvolvimento do FeedZai Pulse, um motor de "software" que processa informação em tempo real e que pode ser aplicado às necessidades de operadores de telemóveis ou a sistemas financeiros e cuja primeira versão comercial deverá estar pronta no final do ano.

A candidatura ao BES Inovação acabou por surgir na sequência de uma linha de investigação específica que estava a ser desenvolvida dentro desta área e que, através de alguns contactos com médicos em hospitais, acabou por se ajustar como uma luva à área da saúde. Pedro Bizarro ainda lembra o dia da formulação da candidatura - que já andava a ser preparada na sua cabeça há algum tempo - que foi escrita e reescrita num dia. Curiosamente, no mesmo dia em que apresentou também uma candidatura ao QREN. "Foi um dia difícil", brinca, mas que não deixou de ser "um dia em cheio, em que se somou também a produção de dois artigos submetidos a uma conferência".







"O prémio BES Inovação ajudou a alavancar os custos com pessoal e equipamento para dar seguimento à investigação."

Vítor Figueiredo Administrador para a área financeira da Martifer Energia
Projecto Pidreo Vencedor da área de Energias Renováveis em 2005 em ex-aequo com outro projecto da Universidade do Minho
Entidades envolvidas Martifer Energia
Colaboradores envolvidos no projecto 4 pessoas



Aproveitar a energia inesgotável do mar

O PIDREO fez parte dos projectos vencedores no ano de estreia do prémio BES Inovação, tendo ganho - em ex-aequo com uma iniciativa da Universidade do Minho - o galardão na área das Energias Renováveis. Tirando partido da tradição da Martifer Energia na inovação, que muitas vezes era usada apenas no desenvolvimento de projectos internos, a candidatura ao prémio do BES ajudou a trazer reconhecimento externo mas também interno para a importância da I&D na companhia, o que alavancou este projecto mas também outras ideias. Nos últimos cinco anos o projecto liderado por José Carlos Amador teve várias flutuações, também em termos de dedicação do Núcleo de investigação que já chegou a ter 14 pessoas e agora está reduzido a quatro colaboradores, mas ainda espera o desenvolvimento da segunda fase, que passa por construir a máquina destinada a aproveitar a energia das ondas e colocá-la no mar, monitorizando os seus efeitos reais.

Vítor Figueiredo, administrador para a área financeira da Martifer energia e um dos signatários do projecto, faz as contas ao investimento já feito, que ronda os dois milhões de euros, mas projecta os benefícios em termos da credibilidade dada à I&D desenvolvida dentro de portas.



À espera da segunda fase
A história do projecto Pidreo, vencedor na primeira edição do BES Inovação, em 2005, é mais longa, mas ainda não teve o final feliz desejado. Desenvolvido pela Martifer Energia, o projecto focava-se na recuperação da energia das ondas mediante a instalação de um sistema flutuante a implementar numa zona da costa portuguesa para produzir electricidade e ajudar à redução das emissões de carbono, contribuindo, assim, para cumprir as metas definidas no tratado de Quioto.

A ideia mereceu o destaque do júri e o projecto continuou a desenvolver-se dentro da empresa, através do núcleo de investigação, que, com o impulso do prémio, realizou testes numéricos, modelos matemáticos e toda a base teórica necessária para projectar a máquina à escala real. Mas falta, ainda, o passo seguinte de construir a máquina. "Os valores envolvidos são muito elevados", refere Vítor Figueiredo, administrador para a área financeira da Martifer Energia e um dos signatários do projecto, que aponta o custo para 10 milhões de euros, necessários para construir a máquina, colocá-la na zona-piloto e monitorizar o seu desenvolvimento.

"O prémio BES Inovação ajudou a alavancar os custos com pessoal e equipamento para dar seguimento à investigação", explica Vítor Figueiredo. De outra forma, o esforço financeiro teria recaído totalmente sobre a empresa, dificultando o seu desenvolvimento.

A Martifer Energia está agora à procura de outros parceiros interessados em partilhar os riscos e os resultados da concretização no terreno do Pidreo e já candidatou o projecto também ao QREN IDT, tendo visto a ideia aprovada, embora não tenha ainda avançado.

Embora a empresa já tivesse tradição na área de inovação, Vítor Figueiredo reconhece que o prémio trouxe reconhecimento e visibilidade externa mas, também, internamente, dentro do grupo, onde algumas pessoas não percebiam a importância do trabalho que estava a ser desenvolvido. E, por isso, o balanço é positivo e a recomendação é para que as empresas avancem com ideias inovadoras, aplicando o seu conhecimento interno ou em associação com outras entidades, de forma a concretizarem produtos mais competitivos que lhes permitam competir à escala global.




Retrato rápido



1. O que é o BES Inovação?
É um concurso promovido pelo Banco Espírito Santo, que divulga e premeia projectos de investigação aplicados a sectores críticos para o futuro da economia portuguesa. A primeira edição decorreu em 2005.
2. Qual é o balanço do concurso?
O BES Inovação está na sexta edição e premiou, até agora, 28 projectos, de entre mais de 860 ideias apresentadas a concurso.
3. Quem se pode candidatar?
- Projectos de Investigação e Desenvolvimento (I&D) aplicada à inovação de produtos ou serviços desenvolvidos por pequenas e micro-empresas de capital social maioritariamente português, de forma autónoma ou em consórcio com universidades e instituições de I&D nacionais;
- Projectos desenvolvidos por investigadores a título individual ou em grupo/equipa por universidades ou instituições de I&D, de forma autónoma ou em consórcio com empresas;
- Projectos levados a cabo por inventores independentes que demonstrem orientação para a aplicação e potencial de valorização económica.
4. Quais as áreas dos projectos que se podem apresentar?
As áreas a concurso são definidas anualmente, dentro dos sectores considerados críticos para o futuro da economia. Na edição de 2010 foram escolhidas as áreas de "clean tech", tecnologias e processos industriais, tecnologias da saúde, economia oceânica e biotecnologia e agro-industrial.
5. Como se apresenta a candidatura?
Depois de lido o regulamento, os interessados têm de preencher o formulário de candidatura, disponível no site do BES Inovação (www.bes.pt/inovacao). Este é constituído por duas componentes, estratificadas em várias áreas, que exigem um elevado poder de síntese. À candidatura podem ser anexados documentos em formato compactado (Zip), mas não são aceites quaisquer documentos entregues em papel ou enviados por email.
6. Até quando se pode candidatar?
As candidaturas tiveram início a 1 de Abril e prolongam-se até 30 de Junho de 2010.
7. Quais são os critérios de avaliação?
As candidaturas são avaliadas por um júri que segue vários critérios de avaliação já definidos no regulamento: excelência científica e carácter inovador da tecnologia, que tem um peso de 35%, impacto potencial da tecnologia na competitividade de empresas/negócios existentes ou a desenvolver (45%), e credibilidade da empresa, instituição de I&D ou inventor, que tem um peso de 20%.
8. Quais os prémios para os vencedores?
Os prémios estão divididos em três componentes: um prémio pecuniário no valor de 25 mil euros, o apoio para registo de patente ou outra forma de protecção da propriedade intelectual, no valor de 10 mil euros, e o estudo de viabilidade de negócio, no valor de 25 mil euros, executado pelo Banco Espírito Santo de Investimento.





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