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Fitas de Elias passam sem pipocas

Foi com a ressurreição do último cinema de bairro do Porto que Elias Macovela se tornou no messias da reinvenção das salas de exibição fora da lógica comercial dos "shoppings". Mas esta história não teria sido a mesma sem a morte. E por duas vezes. Foi ela que...

08 de Abril de 2010 às 11:41
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Em contra-ciclo, apostou numa sala de bairro. Mas não quer ficar por aqui. O sonho é criar uma rede de cinemas que seja diferente da oferta dos "shoppings".


Foi com a ressurreição do último cinema de bairro do Porto que Elias Macovela se tornou no messias da reinvenção das salas de exibição fora da lógica comercial dos "shoppings". Mas esta história não teria sido a mesma sem a morte. E por duas vezes. Foi ela que, em Maputo, lhe abriu as portas do teatro aos 13 anos. A estreia foi no papel do homem que carregava um caixão. Em 2006, já empresário, quando o Nun'Álvares, ligado às máquinas, sucumbiu, as portas entreabriram-se para uma nova vida.

Quatro anos depois, quer que a estreia na exibição de películas o leve à criação de uma rede de cinemas de bairro, espalhados pelo País. A tendência do negócio não é essa, mas ele acredita. Crê na diferença, mas também no potencial do seu nicho de mercado. Acima de tudo, tem uma máxima: os "pequeninos", com esforço, podem ombrear com os gigantes do mercado (como a Lusomundo e a Castello Lopes).

Quando o telefone toca
Capacidade para tentar o impossível não lhe falta. Senão, atentemos a um episódio importante no filme dos seus 33 anos. 1998 foi um ano de muitas oportunidades em Portugal. A grande Expo atravessou oceanos e bateu à porta de Elias. Ou melhor, desabou no telefone do então técnico de iluminação. Uma chamada que lhe mudaria a vida. O convite era estrondoso: destino: Europa; trabalho: Expo 98; ordenado: muito bom. Apenas um problema: não tinha dinheiro.

Seguiu-se um mês de trabalho árduo, a passar música nas festas, para estrangeiros, em que os seus amigos se vestiam de palhaços. Juntou 600 dólares, metade do valor da viagem. Meteu a vontade e a fé na bagagem e foi para o aeroporto. O fim, já perceptível, foi como o de alguns contos de fadas que agora exibe.

Elias não usa os palavrões que o economês vulgarizou. Mas se tivesse de escolher um, não temos dúvidas de que seria o "networking". Tem sido assim a sua vida. Foi o encadear de pessoas, encontros e reencontros a catapultá-lo das transições de luz, para as transacções de filmes independentes (com a criação de uma empresa de distribuição). Estes criaram uma nova necessidade: ter onde exibir, para os rentabilizar.

Cinema vintage
Ele está em contra-ciclo. Sabe disso e gosta. Mas é a paixão que o move, ou também a racionalidade dos números? "Penso que podemos ter aqui um espaço para satisfazer quem gosta de vir ao cinema sem a azáfama dos grandes centros comerciais. Uma experiência de família", sustenta Macovela. A diferença é fundamental. O "cinema pipoca" não resultou. "Os nossos espectadores não gostam", afiançou. Nada que abale Elias. Há que inovar. "Seria bom servirmos vinho durante as sessões. Gostava de concretizar essa ideia", afirmou.

Alice no País do Facebook
O senso comum diz-nos que os cinemas de bairro são para filmes independentes. Ora a prática tem provado o contrário. "O Avatar e o Alice são os que mais sucesso tiveram. As pessoas querem ver cinema comercial, mas fora dos centros comerciais", esclareceu. A fusão entre o tradicional e a tecnologia ganhou uma nova dimensão com a obra de Tim Burton. "A estreia desse filme foi a única sessão que esgotou, em três meses. Foi toda reservada pelo Facebook", contou.



Perfil



Denominação social: Malaika Cinemas
Sede: Porto
Ano de fundação: 2009
Sector de actividade: Cinema (exibição)
Outras empresas: Phanteon (distribuidora cinematográfica)
Accionistas: Elias Macovela (100 %)
Nº de trabalhadores: seis



Cinema venceu a batalha ao leilão

O som que se ouve no Nun'Álvares poderia não ser o da voz do falecido Heith Ledger, no filme Parnassus, obra do ex-Monthy Pyton, Terry Gilliam.

Na sexagenária sala, situada na mesma rua da sede do PSD no Porto, estiveram para ecoar os pregões, típicos de uma leiloeira, ou o tilintar das moedas, na registadora de um supermercado. "O proprietário dos cinemas tinha duas propostas para o aluguer, as quais, economicamente, até eram melhores. Mas fui muito persistente", relembrou, entusiasmado.

O momento do encontro com a sala do Nun'Álvares é recordado com uma precisão cinematográfica. "Não estava escuro, estava um céu acinzentado. Era fim de tarde. Passei e vi o edifício grande. Dizia em letras garrafais: CINEMA. E eu pensei. 'Uau!, é isto mesmo'", relembrou. Os momentos seguintes foram de excitação e contemplação. "Fiquei ali uns minutos a olhar para o edifício, e não resisti a ligar logo para o número que estava no papel", confessou o moçambicano. A pressa, todavia, acabou em um ano de negociações, que em Dezembro do ano passado tiveram o "happy end". Em três meses, Elias contabiliza já cinco mil espectadores na sala de 192 lugares do Nun'Álvares. Sente-se no caminho certo para, em cinco anos, recuperar o investimento de 150 mil euros com que abraçou o projecto.
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