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Empresários vão aprender gestão

Foram consideradas as empresas portuguesas mais inovadoras pela Universidade Corporativa do BES e pela Católica-Lisbon, que convidou os seus promotores a participar na primeira edição do Programa Avançado em Gestão e Inovação para Empreededores. Afinal, a alta tecnologia não sobrevive sozinha.

06 de Outubro de 2011 às 15:11
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Três empresários altamente especializados não se embaraçam ao admitirem que têm necessidades de formação na gestão de uma empresa, equipa ou na concretização de um plano de negócios.

João Neto quer levar a Voice Intercation, empresa de processamento da fala que abriu em 2008, para o Brasil, mas não sabe como. Hugo Gamboa quer dar mais qualidade de vida às pessoas com patologias crónicas, utilizando a tecnologia que a sua equipa gerou na Plux, mas falta-lhe maturidade para conseguir o investimento necessário. Pedro Amaral quer revestir os edifícios com placas de pedras de dimensões elevadas, que isolam os edifícios térmica e acusticamente, mas precisa, primeiro, de financiar o projecto-piloto.

Vêm de áreas distintas, mas foram todos convidados pelo BES a aventurarem-se na primeira edição do "Programa Avançado em Gestão e Inovação para Empreendedores", lançado pela Universidade Corporativa do BES em parceria com a Católica-Lisbon. Objectivo: aprofundar as qualificações dos quadros superiores das empresas portuguesas que consideram mais inovadoras.

Selecionados os 30 participantes, seguiram-se 110 horas de formação, durante três a quatro meses, sobre estratégia e internacionalização, inovação, valorização da tecnologia, "marketing" e vendas, gestão financeira, contabilidade, liderança e comunicação. O programa contempla, ainda, três meses de acompanhamento individual a dez equipas, para discussão de planos de desenvolvimento de negócios.

Na cerimónia de encerramento, os promotores puderam apresentar as suas ideias a um grupo de investidores e parceiros da instituição na área de "business angels" e do capital de risco. "Queremos ajudar a relançar a economia através da inovação. Esta estará cada vez mais na base da organização europeia", disse Ricardo Salgado, presidente do BES, na sessão de entrega dos diplomas aos empreendedores, realizada na semana passada, em Lisboa. "O nosso mercado é muito pequeno e é fundamental que se acompanhe a inovação pelo mundo fora", acrescentou o banqueiro. Segundo Joaquim Goes, administrador da instituição financeira, a iniciativa vai repetir-se. "Nestes processos, há sempre coisas a melhorar, mas foi-nos transmitida a ideia de que houve um balanço positivo e que vale a pena continuar", afirma o gestor.









"Nós temos aqui a prova de um grande optimismo: pessoas com ideias, que acreditam nelas e com coragem de as levar para o mercado. Sentimos que o que vai ser mais difícil é encontrar financiamento."

Fátima Barros
, Directora da Católica-Lisbon School of Business and Economics






"Quando apareceu a ideia de colaborarmos com o BES e fazermos uma ligação ao mundo real, de aproveitamento e aceleração das empresas, abraçámos naturalmente a parceria", conta Francisco Veloso, professor na Universidade Católica e um dos responsáveis pelo programa. Fátima Barros, directora da Católica-Lisbon School of Business and Economics, explica que o "eixo estratégico" da Universidade passa pela área da inovação. Nesta iniciativa, acabaram por ser encontrados vários tipos de projectos e empresas em estado de maturidade diferentes. Os exemplos são vários, mas Francisco Veloso destaca o da Voice Interaction. "É uma empresa que já está a actuar em Portugal, mas cuja ambição é a de ser uma empresa global. Está aqui para dizer que quer o apoio da comunidade de investimento para passar a ser uma empresa global."

A crise actual desenvolveu "um espírito mais empreendedor entre as pessoas", comenta Fátima Barros. "Nós temos aqui a prova de um grande optimismo: pessoas que têm ideias, que acreditam nelas e que têm coragem de as levar para o mercado." Difícil vai ser encontrar o financiamento necessário, segundo a directora da Católica, mas Francisco Veloso relembra que os projectos em que se esteve a trabalhar são globais. Nasceram em Portugal, porque é aqui que estão as suas valências, mas o espaço onde querem actuar é outro: o mercado internacional.

Pensar à escala global
Do lado dos investidores, Jorge Martins, presidente da Martifer, afirma que é preciso transpor as ideias para a prática. "É interessante perceber que, de facto, é nos momentos em que só se fala de crise que se encontram ideias que podem entrar no mercado, ter um espaço próprio e que apontam para uma escala global", revela.

Segundo o presidente do grupo especializado em construções metalomecânicas, quando o mercado interno está deprimido, há que olhar para o externo. E, mais do que a internacionalização, há que apostar na exportação, "ter sectores com base em Portugal, que empregam mão-de-obra portuguesa, que exportam e que trazem receita directa para o mercado português".









"Estas iniciativas demonstram que há um talento enorme em Portugal e uma capacidade muito interessante de gerar projectos empresariais de imenso valor."

Francisco Veloso
, professor na Universidade Católica e um dos responsáveis do Programa Avançado em Gestão e Inovação para Empreendedores.






No que toca à inovação, adianta que tem de haver união entre empreendedores, gestores, empresários e parceiros financeiros para que se crie uma rede de contactos suficiente para levar as ideias avante. "Há uma máxima que continua a ser verdade: as boas ideias conseguem encontrar financiamento e estas não precisam necessariamente de um montante de investimento elevado. A prova está em que todos estes projectos apresentam necessidade de investimento inicial relativamente baixas e, por isso, possíveis de implementar num ambiente macroeconómico como o que temos", adianta.

João Trigo da Roza, presidente da APBA (Associação Portuguesa de Business Angels) concorda. "A criação de um ecossistema, em que estão empreendedores, capital de risco e os 'business angels', é fundamental para apoiar o desenvolvimento de novos projectos." Segundo o presidente da associação, ainda existem restrições grandes ao nível da banca, não só em Portugal, como no resto da Europa, e há que encontrar alternativas ao investimento tradicional bancário.

António Oliveira, responsável da Nokia Siemens, confessa que existem alguns projectos que vão ter, com certeza, maior evolução. "Outros ainda estão numa fase de pré-introdução, mas são projectos que, pela sua diversidade face aos sectores onde actuam, ao potencial que têm e ao nível de investimento que precisam, fazem crer que são projectos em que há todo o interesse em apoiar." Falta fazer a ponte entre a génese da ideia e a sua transformação em valor acrescentado.






Joaquim Goes, Administrador do BES

"É importante reforçar as competências de gestão das empresas"

O que explica um curso de gestão para empreendedores?
Nós temos uma forte convicção de que o desenvolvimento da economia portuguesa passa pelas empresas inovadoras. Temos vindo a tentar ajudar a promover a inovação com um conjunto de iniciativas e sentimos, no contacto que tivemos com muitos destes promotores, que era importante reforçar as competências de gestão das empresas. Este curso para empreendedores enquadra-se nesta perspectiva: ajudar a reforçar as competências das empresas.

Os objectivos foram alcançados?
O "feedback" ao longo do curso foi muito positivo. Os promotores sentiram que acrescentou valor, que os seus conhecimentos aumentaram nas áreas de gestão e que ajudou na estruturação dos planos de negócio. Aquilo que vimos aqui foi precisamente isso: a apresentação de um conjunto de projectos que articulou os conhecimentos técnicos com a realidade das empresas e como é que essa visão pode ser útil para a estruturação e a remodelação dos negócios.

Os investidores foram receptivos?
Sem investidores não é possível concretizar projectos e foi muito importante trazer esta comunidade de investidores de empresas "startup" e inovadoras. Este processo não se confina a um dia ou a uma reunião, é antes um processo de conhecimento mútuo e de aprofundamento de análises. Pelo interesse manifestado, pelas perguntas que foram colocadas, há aqui realmente espaço para uma colaboração, e, eventualmente, de surgirem propostas de investimento para estas empresas.




Oito armas para combater a crise



1. Obter formação adequada
"Tal como nós temos de aprender a conduzir para tirar a carta de condução, os empresários também deveriam aprender a ser empresários. Aprender só com os erros fica caro", adverte Jorge Martins.
2. Conhecer o negócio e o mercado
"O caminho para o sucesso passa por saber muito bem qual é o seu negócio, o mercado e concentrar-se naquilo que é a missão da empresa. Depois, deve tentar obter financiamento para poder expandir, internacionalizar-se", aconselha João Trigo da Roza.
3. Ligar empresas e universidades
"As universidades desenvolveram mecanismos que estão à disposição dos empreendedores e que devem ser usados. Muitas vezes, os empreendedores acabaram de sair da universidade, de um pós-doutoramento ou de outro tipo de evolução na sua formação académica de alta especialização", relembra António Oliveira.
4. Esquecer o Estado
"As pessoas estão hoje conscientes de que não podem contar com o Estado ou com as perspectivas que existem no mercado para desenvolverem as suas carreiras profissionais", frisa Fátima Barros.
5. Acreditar na força do capital
"Acreditem e lancem-se. O capital acaba por reconhecer as boas ideias e se as pessoas não tentarem, nunca vão conseguir", encoraja Francisco Veloso.
6. Dar corpo às melhores ideias
"Aproveitar os mecanismos das universidades para escolher as melhores ideias, dar-lhes corpo e criar condições financeiras para que os empreendedores consigam avançar com os seus projectos", recomenda João Neto.
7. Criar união no país
"Encontrar parcerias, ir à procura de outras pessoas ou entidades que tenham feito caminhos mais maduros e criar um impacto de união no país. A excelente tecnologia que se faz por cá pode aceder ao mercado através de gente que já tem mais maturidade", frisa Hugo Gamboa.
8. Três: a conta que o empreendedor fez
"Investir muito em três coisas: no conhecimento (quanto mais 'know how' se adquirir mais fácil é alavancar projectos), na gestão (na composição da equipa, na forma como o projecto vai ser implementado) e no mercado (estar atento e conhecer os operadores)", conclui Pedro Amaral.

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