Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Como atravessar o ano de todos os perigos

Cortar, cortar, cortar. À primeira vista, este parece ser o lema das empresas para o novo ano que está prestes a começar. Isto não quer dizer que as empresas não tenham outras estratégias. Inovar e exportar também fazem parte do vocabulário das empresas para utilizar em 2011.

16 de Dezembro de 2010 às 14:46
  • ...
A NG Wear foi criada há dois anos e só em Julho de 2010 começou a comercializar os seus produtos: vestuário anti-mosquito, vestuário cromático cuja cor muda consoante a temperatura ou vestuário anti-raios ultravioleta.

São os chamados têxteis funcionais, nos quais a empresa decidiu apostar, em plena crise, centrando-se na componente da comercialização e colocação de marcas no terreno. Foi criada a par de um grupo do sector têxtil, a Tinamar, precisamente para dar resposta aos anos difíceis que Portugal tem vivido. Inovou a pensar no mercado externo e a estratégia é consolidar o negócio em 2011, um ano que se adivinha muito difícil para Portugal.

"A nossa estratégia foi criar esta empresa para ir ao encontro de mercados alternativos", diz Manuel Pinheiro. É esta a estratégia que será prosseguida no próximo ano, em simultâneo com cortes nos custos. "Já estamos a cortar custos há algum tempo", diz, referindo que a Tinamar tinha 120 trabalhadores e, neste momento, tem 80. Uma medida que garante ter levado a um aumento da produtividade, juntamente com a aposta em nova maquinaria. Tudo isto, ao mesmo tempo que se tenta reduzir o consumo de energia ou renegociar preços com os fornecedores.

Depois da aprovação do Orçamento do Estado para 2011, que inclui um pacote de medidas de austeridade, entre as quais o aumento do IVA, as PME preparam-se para enfrentar mais um ano difícil. "Não investir, não crescer, não criar emprego, para aguentar a estagnação", é como Augusto Morais, presidente da Associação Nacional de PME, resume a estratégia para o próximo ano. Sabe que não se trata de uma receita a aplicar a toda e qualquer PME, mas garante que esta é a constatação prática daquilo que se verifica e tem passado na maioria das empresas nacionais.

Lidar com os atrasos nos pagamentos
Um grande problema que as empresas já estão a enfrentar são os atrasos nos pagamentos dos seus clientes e que, a avaliar pelo actual contexto económico, deve continuar em 2011. A Tinamar não é excepção, tem feito um esforço financeiro maior para conseguir aguentar os atrasos nos pagamentos por parte dos seus clientes e diz que vai tentando contrabalançar a situação negociando descontos com os fornecedores e também recorrendo à banca.

Mas este é um problema que pesa mais nas empresas de menor dimensão. É o caso de uma pequena empresa de "software" e de material informático do Grande Porto, que prefere não ser identificada. Os seus clientes são sobretudo empresas e estas atrasam-se cada vez mais nos pagamentos. Resultado: a margem de manobra é cada vez mais pequena, com a empresa também a atrasar-se nos pagamentos aos seus fornecedores.

Ao fim de vários meses de dificuldades, os planos para 2011 passam quase de certeza pelo corte de pessoal, reduzindo os custos fixos. Dos quatro trabalhadores deverão ficar apenas dois. A situação não é nova, vem-se notando há dois anos, mas tem piorado, sobretudo depois do aumento do IVA. De tal maneira que, entre os devedores, estão três empresas em processo de insolvência. As empresas atrasam-se e gastam cada vez menos. É, por isso, que a venda de computadores para escritórios tem registado uma "quebra brutal", admite o empresário Manuel Martins.

Exportar como alternativa
Apesar das dificuldades e das novas medidas de austeridade do Governo, Manuel Martins não pensa em fechar. "Andamos à procura de soluções para reestruturar a empresa e tentar ver se podemos expandir para outros mercados", diz, explicando que com a ajuda da Associação Nacional de PME vai tentar recorrer aos programas de financiamento às PME para reequilibrar primeiro as contas e, depois, dar o salto. "Preciso de liquidez de caixa para poder criar soluções no longo prazo", explica o empresário.

Augusto Morais concorda que a aposta em novos mercados poderá ser uma solução, designadamente um aumento das exportações, mas chama a atenção das empresas. "Neste caso, é necessário implementar novos instrumentos de gestão no sentido de permitir não só uma maior coordenação da actividade global da organização, como também, e principalmente, um planeamento mais eficaz com vista a uma tomada de decisões mais correcta e atempada."

Além disso, chama a atenção que, em Portugal, o produto final tem muitos custos de produção, não é competitivo e não é, muitas vezes, exportável. Por isso, a estratégia que as empresas devem seguir é a de estarem muito atentas às informações divulgadas pelos indicadores económicos oficiais em relação às finanças públicas e política macroeconómica, actuar depois com cuidado e sempre com acompanhamento técnico.

Importância de ser flexível
A Quidgest, uma empresa de consultoria e desenvolvimento de sistemas de informação de gestão, que nasceu em 1988, vê-se há vários anos como uma empresa global. Diz que os seus produtos são competitivos "em qualquer lugar do mundo" e todos os anos têm atingido novos mercados e consolidado aqueles em que já estão presentes, caso de Espanha, Timor Leste, Reino Unido, Moçambique, Cabo Verde, Alemanha, Lituânia ou Angola.

Para isso, a empresa aposta na inovação e em processos de produção que reduzem muito os custos, uma estratégia que "se adequa perfeitamente aos tempos actuais", diz João Paulo Carvalho, "senior partner" da Quidgest. Tanto mais sabendo que o sector onde opera é um dos mais vulneráveis às épocas de crise, uma vez que "as novas tecnologias aparecem, erradamente, como sendo adiáveis".

Nem por isso, o corte de custos é uma estratégia. "Pensamos que se exagera ao só se verem custos, sem se quantificarem os resultados", refere João Paulo Carvalho, referindo que "muitos bons negócios e projectos estão a ser adiados com base nesta falsa justificação". O importante, acrescenta, é conseguir ser flexível. "Se o mercado responder melhor, investiremos mais no desenvolvimento de novos projectos. Se não existirem tantas oportunidades, investiremos mais na melhoria dos processos, de modo a estarmos ainda melhor preparados quando a recessão terminar".

Flexibilidade é o que também Manuel Pinheiro vai procurar ter mais no próximo ano. Não sendo possível ter uma previsão muito concreta de como vai evoluir o negócio, diz que o importante, para além da aposta na inovação e na exportação, é ter capacidade para reagir o mais rapidamente possível. E, para que isso aconteça, garante que é preciso ter trabalhadores motivados. "Com pessoas motivadas e competentes, podemos ir flexibilizando e ir trabalhando mais horas quando é preciso e menos horas quando não é necessário produzir tanto", refere.

Com uma dimensão bem diferente e a trabalhar num sector completamente diferente, flexibilidade é o que não falta à Biocelos. A empresa, que produz e comercializa produtos de agricultura biológica, conta apenas com o trabalho de um funcionário e da própria fundadora da empresa. Se for preciso, Amélia Arantes ajuda na produção na propriedade da empresa, e o funcionário também pode ajudar a fazer entregas, uma tarefa que está mais nas mãos de Amélia.

O importante é ir dando resposta às encomendas, que aumentaram em 2010 e que estima que venham a aumentar no próximo ano. "As pessoas preferem comprar menos, mas comprar melhor. Sobretudo as pessoas mais informadas procuram cada vez este tipo de produtos", refere a empresária, que, apesar da melhoria das perspectivas, estabeleceu como lema para 2011 manter tudo como está e não fazer mais investimentos. O importante é sobreviver ao próximo ano sem aumentar os encargos.

Augusto Morais explica por que crescer numa época de crise não é uma estratégia muito habitual entre as empresas de pequena e média dimensão: "O crescimento implica novos e acrescidos encargos fixos e a crise estrutural traduz-se numa maior incerteza quanto ao futuro, designadamente pelas medidas de austeridade já anunciadas pelo Governo."




Conselhos a seguir em 2011



Augusto Morais, presidente da Associação Nacional de PME, revela os conselhos para as empresas enfrentarem melhor os desafios do próximo ano.

Corte de custos

Uma política de redução de custos é, sem dúvida, uma das mais eficazes maneiras de actuar em tempo de crise, principalmente quando a empresa começa a sentir dificuldades de tesouraria.
Mas não interessa uma redução indiscriminada, pois daí poderiam advir efeitos nefastos a médio prazo e comprometer o crescimento e rendibilidade futuros da empresa.
O importante aqui é:
• Uma gestão eficaz dos meios libertos e fundo de maneio,
• Aforrar e cortar muito nas despesas correntes,
• Reorganizar e reafectar recursos: analisar funções, controlar os fluxos de tesouraria, existências, encargos financeiros e créditos a clientes.

Apostar em novos mercados e exportar
São uma solução para as empresas no próximo ano, perante as dificuldades que o país atravessa, mas é necessário implementar novos instrumentos de gestão no sentido de permitir não só uma maior coordenação da actividade global da organização, como também, e principalmente, um planeamento mais eficaz com vista a uma tomada de decisões mais correcta e atempada. Aconselha ainda as empresas a estarem muito atentas às informações divulgadas pelos indicadores económicos oficiais em relação às finanças públicas e política macroeconómica, actuar depois com cuidado e sempre com acompanhamento técnico.

Inovar e diversificar a oferta
É uma das políticas que acarreta maiores mudanças, tanto na organização interna da empresa como quanto à sua forma de actuar e agir. Os requisitos passam, assim, por uma ou várias políticas:
• Reposicionamento no mercado,
• Renovação permanente da linha de produtos,
• Estudos de mercado,
• Flexibilidade da empresa,
• Capacidade de adaptação,
• Assumir riscos ou combiná-los com minimização de meios.

"Outsourcing"
O recurso à contratação de uma entidade exterior à empresa para executar serviços não estratégicos, em vez de os produzir internamente, é um risco pela falta de controlo de qualidade do produto, mas tem enormes vantagens. Uma delas reside na redução de custos. Além disso, permite libertar mais tempo aos executivos para se dedicarem mais às competências centrais da empresa.
Ver comentários
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio