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Cinco minutos que decidem

Chegar ao palco de uma conferência de capital de risco, onde na audiência se encontram investidores, pode ser a primeira conquista de um empreendedor. Só tem cinco minutos para "vender" a ideia, mas pode ser o tempo suficiente para conseguir apoios.

25 de Junho de 2009 às 11:04
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Cinco minutos podem decidir a vida de um projecto. Os "Elevator Pitch" são apresentações de cinco minutos, feitas por empreendedores em conferências de capital de risco. Pode ser a única oportunidade de darem a conhecer o projecto a potenciais investidores. Nesses cinco minutos, os promotores têm de conquistar a audiência. Em Portugal, as conferências da Gesventure disponibilizam, sempre, espaços para alguns projectos. No Venture Capital IT deste ano foram apresentados dois projectos: o da votação electrónica e o da Sonocare, que tem a particularidade de já estar a operar no mercado de terapia respiratória. Normalmente chegam aos "Elevator Pitch" ideias à procura dos primeiros financiadores. Foi o caso da Note IT, que está a desenvolver uma aplicação para votações electrónicas - o SIV (Sistema Inteligente de Votação). No ano passado, a Key4Kids era, também, um embrião de empresa e que teve no "Elevator Pitch" um empurrão essencial para a entrada da InovCapital no projecto. A apresentação, de cinco minutos, "aumentou o nível de confiança" no projecto, garante Isabel Flores, promotora da Key4Kids, garantindo, ainda, que da sessão ficaram, também, contactos com potenciais investidores individuais (os chamados "business angels") que não entraram na primeira fase de financiamento, mas que poderão juntar-se à empresa futuramente. No "Elevator Pitch" em que esteve presente, Isabel Flores pediu um financiamento de 45 mil euros para testar o projecto. "Precisávamos deste ano para concluir que existe mercado". E provou. Sabendo o que é estar a falar do projecto, que pode ser o da sua vida, para uma audiência que pode ditar o seu sucesso ou o seu fracasso, Isabel Flores deixa os seus conselhos: "sejam muito focados e claros na apresentação" e "não peçam muito dinheiro à partida". E já agora, depois de conseguirem esse capital, "poupem-no, sejam forretas".

Nas apresentações deste ano, a Sonocare disse procurar um financiamento de 180 mil euros e a Note TI de 50 mil euros. Os promotores garantem que assim que terminaram a apresentação começaram os contactos. Com potenciais investidores. Serem escolhidos para estarem presentes nos "Elevator Pitch" é a primeira conquista. Francisco Banha, da Gesventure e promotor destas apresentações há 10 anos, garante: "um empreendedor que vá ao 'Elevator Pitch' já passou pela nossa triagem inicial, ou seja, já teve de demonstrar à Gesventure o seu potencial e o do projecto que possui e que estará em condições de cativar da melhor maneira o investidor para o 'round' de financiamento que pretende obter". É por isso que avisa para os perigos de se realizar um 'pitch' que caia na auto-promoção.

Os promotores têm de responder a quatro premissas: Magia, Equipa de Gestão, Mercado e Dinheiro. "Os empreendedores que nos contactam têm de possuir um projecto que nos demonstre ser uma oportunidade clara para um mercado global de inequívoca dimensão, com uma estratégia e táctica bem definidas, com possibilidade de libertar 'cash' e dar retorno do investimento no mais curto espaço de tempo, possuir uma equipa de gestão competente e multidisciplinar com ambição a médio/longo prazo, que permita a sustentabilidade do citado projecto empresarial".

Captar a atenção é o segredo do sucesso. Objectividade, capacidade de síntese, expressão clara e confiante, "slides" explicativos e que fiquem na memória, emoção e magia é o que se pretende em cinco minutos. "Incentivar a curiosidade" era o objectivo de Joana Silva, que foi a escolhida para fazer a apresentação da Sonocare. "Tivemos um bom 'feedback'", garante. A Sonocare diz ter tido a preocupação de deixar nesses cinco minutos as ideias chave e estruturadas, complementando a oralidade com os slides. Os cinco minutos foram respeitados e se houve contactos para possíveis investidores futuros, houve quem ficasse desperto para uma doença pouco diagnosticada em Portugal - a apneia do sono.

Pedro Almeida, a quem coube a apresentação do SIV, estava habituado a falar em público, mas admite que a falha inicial do microfone ajudou a captar a audiência para a ideia forte do primeiro slide. Chegar ao palco pela mão da Gesventure já é, por si, uma primeira conquista. E pode ser a solução para o projecto ser comercializável.

No 'pitch', "as mais pequenas acções podem causar a maior das impressões", diz Francisco Banha, que enfatiza a necessidade de a apresentação ser preparada até à exaustão. E terminada a apresentação "não significa que já se pode ir embora a correr". O que vem a seguir pode ser tão importante como os cinco minutos. E decisivo.





Votos electrónicos
Pedro Almeida, 31 anos, e Cláudio Pinto, de 27 anos, conheceram-se nas Caldas da Rainha, onde vivem. O Sistema Inteligente de Votação é o projecto que estão a desenvolver.



Note TI Votar nas assembleias-gerais de braço no ar tem dias contados
Porque se vota ainda de braço no ar? Porque demora tanto um processo de credenciação para uma assembleia-geral? Estas mesmas perguntas fizeram Pedro Almeida e Cláudio Pinto. E surgiu a ideia, que está a ser concretizada na aplicação informática de votação electrónica para assembleias-gerais de empresas, cooperativas, associações, que responde às complexidades das limitações de voto e da correspondência de votos ao capital. A votação electrónica é, basicamente, utilizada em processos legislativos, mas há um mundo vasto onde pode ser aplicado. "É uma área que se mantém igual há dois mil anos", lembra Pedro Almeida, um dos empreendedores do projecto. Os promotores não podem, nesta fase, revelar muito da aplicação, mas garantem ser um sistema fiável e que é automatizado. "Vimos projectos falharem por pormenores", lembra Pedro Almeida. "Temos alguns pormenores que nos dão segurança em termos de concorrência". Não abrem muito o jogo - até porque a concorrência está à espreita - mas começam a ver nesta ideia um promissor negócio futuro. Cláudio Pinto é o programador e desenvolve a solução nos tempos livres que encontra. O financiamento que procuram visa, também, libertar os recursos para que se dediquem à solução a tempo inteiro, possibilitando encurtar o tempo de desenvolvimento do "software". E permitirá recrutar mais uma pessoa. A Note TI, designação da empresa que foi registada para desenvolver o SIV - Sistema Inteligente de Votação, procura não apenas um financiador, mas um investidor que tenha, também, capacidade de gestão e que transmita confiança. A empresa não é conhecida, os promotores também não, mas esse investidor pode abrir portas. A ideia, para já, é conseguir testar a solução, de forma gratuita, com uma entidade. "Temos de usar uma bandeira", diz Pedro Almeida, consciente que a rede de contactos que foi construído ao longo dos anos pode ajudar. "Podíamos recorrer ao banco, mas queremos mais do que o dinheiro", continua o mesmo responsável, a quem coube a apresentação do projecto no "Elevator Pitch". Os promotores garantem, por outro lado, que a solução que propuseram "não está só virada para o mercado português". A ambição é muita. Até porque, se o SIV vingar, Cláudio Pinto não tem dúvidas sobre o que os espera no futuro: "seremos especializados e dedicados a este ramo".


Cinco segredos para fazer uma apresentação
1 - Preparação
Realize sessões de treino. Faça a cronometragem da sua explicação e filme para depois corrigir erros. No primeiro minuto, diga logo o que faz a organização. Apoie a apresentação com slides cuja informação seja clara e directa.

2 - Dom da oratória

É importante que quem vá apresentar o projecto tenha o "dom" da oratória. "A apresentação oral é fundamental e imprescindível", diz Francisco Banha. Se o empreendedor não tiver o "dom", é melhor optar por outro elemento da gestão ou mesmo por um consultor.

3 - Ideias claras e precisas
A apresentação deve ser clara a precisa, criando impacto. Os temas-chave a abordar passam pelo que foi feito, a necessidade do mercado, a solução proposta, o mercado-alvo e como lá chegar, a concorrência e as vantagens do projecto a apresentar, a implementação. É importante também dar a conhecer a equipa de gestão. E por fim falar do financiamento e do retorno.

4 - Pedir pouco dinheiro
Sendo os "Elevator Pitch" uma apresentação com vista a dar a conhecer o projecto, para encontrar financiadores, dizer claramente quanto se pretende e para que finalidades é importante. Isabel Flores dá outro conselho: "não pedir muito dinheiro" na primeira abordagem.

5 - Respeite o tempo
Cinco minutos são cinco minutos. Não ultrapasse o tempo. É preferível não o gastar, a ultrapassá-lo. E abra o apetite para conversas posteriores.
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