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Aventuras num "stand"

A empresa deste homem (vamos já explicar tudo bem explicadinho) constrói "stands" para feiras em todos os cantos do globo. E como há muita feira por esse mundo, este é um homem que faz 100 mil milhas de avião por ano...

02 de Abril de 2009 às 11:51
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Camiões perdidos na Rússia, chineses a fazer o impossível e perigos para chegar a Itália. Histórias de uma empresa que está em todo o mundo

A empresa deste homem (vamos já explicar tudo bem explicadinho) constrói "stands" para feiras em todos os cantos do globo. E como há muita feira por esse mundo, este é um homem que faz 100 mil milhas de avião por ano. Com tanta viagem, é normal que haja histórias para contar.

"Estive em Xangai há pouco tempo. Cheguei lá e nem me tinha nas pernas, depois de 20 e tal horas de avião. Quando aterrei, só queria era ir para o hotel descansar. Faço o 'check in' e tal, chego ao quarto e o telefone toca. Era o cliente da feira a dizer que tinha um problema: o 'stand' estava montado ao contrário. E a feira abria no dia seguinte às nove", diz Luís Figueira de Sousa, engenheiro de formação, mas hoje CEO da Insyncro, empresa de Lousada especialista na concepção e montagem de "stands" para feiras.

Certo é que o torto dá para endireitar. "Passou-me logo o sono. Meti-me no carro, fui a correr para a feira e o 'stand' estava mesmo ao contrário. Comecei a olhar à volta e estavam chineses por todo o lado. Chamei-os, juntámos para aí uma centena de pessoas e conseguimos virar o 'stand' ao contrário em peso e colocá-lo na posição certa. Em duas horas, aquilo ficou feito", recorda Luís Figueira de Sousa.

Mas há mais nesta Insyncro, que facturou 12,2 milhões de euros no ano passado. Montar "stands" tem o seu quê de exótico, pelo menos a crer nas experiências desta empresa de Lousada. É que depois de perguntarmos a Luís Figueira de Sousa qual o "stand" que ele não voltava a construir - que é uma forma polida de tentar saber qual o pior "stand" de que se recorda -, fica-se a saber que há perigos insondáveis em Itália e que "tudo é possível na Rússia".

"Já me aconteceu chegar à Rússia com um camião e ele desaparecer. O camião devia ter aparecido duas semanas antes do início da feira e só apareceu no dia anterior. O motorista embebedou-se, foi ter ao sítio errado... Tudo pode acontecer da Rússia", conta o CEO da Insyncro, antes de "partir" para Itália. "No ano passado, quando da greve dos camionistas, estávamos a fazer uma feira no Norte de Itália. Grosso modo, o transporte do pessoal é por avião e o de mercadorias por terra. Quando o último camião partiu, estava tudo fechado com a greve. A feira abria no dia 10 e esse camião chegou lá às duas da manhã desse mesmo dia 10. No meio, fomos ameaçados de morte, tivemos que mandar carros mais pequenos para fazer transbordo, o motorista meteu-se debaixo do camião e chamou a polícia.. De certeza que não foi o pior 'stand', mas foi complicado", lembra Luís Figueira da Sousa.

Pensar bem de Portugal
Com mais de 300 clientes (vêm de todas as áreas, do têxtil às tecnológicas), 210 postos de trabalho (entre directos e indirectos) e presença nas feiras dos cinco continentes, a Insyncro é uma empresa que entrou em 2009 com nome novo no bilhete de identidade. Nascida "Sousa Dias, Lda" na década de 60, a empresa passou a chamar-se "Construtora da Ferraria" anos mais tarde. A actual designação "Insyncro" surgiu em Dezembro de 2008 - refira-se é que Luís Figueira de Sousa, na conversa com o Negócios, falou sempre em "Construtora da Ferraria", sinal de que "Insyncro" ainda está a entranhar.

O grande salto na actividade da empresa dá-se em 1996, quando se processou uma mudança accionista. Os números sublinham este salto: entre 1998 e o ano passado, a empresa cresceu mais de 1000% em termos de facturação.

Dos actuais clientes, 85% são nacionais (casos da Anivec, da Selectiva Moda ou da Onara), enquanto a maioria dos clientes estrangeiros são espanhóis. Em termos de área construída de "stands", o número já passou os 42 mil metros quadrados.

Com tanto "stand" construído, há que saber qual foi o melhor. E a resposta é à treinador de futebol. "O melhor 'stand' é sempre o próximo", argumenta Luís Figueira de Sousa.

Questão final: como a Insyncro monta tantos "stands" lá fora para empresas portuguesas, que percepção é que os estrangeiros têm dos produtos lusos? "A minha percepção é que nós nos sentimos piores do que os outros fazem de nós. As pessoas não pensam tão mal de nós como nós pensamos que elas pensam."





Perfil
Sede: Lousada
Capital: 100% detido pelo fundo de investimento Explorer I, da Explorer Investments
Postos de trabalho: 140 directos + 70 indirectos
Clientes: cerca de 300 (entre outros, APICCAPS, Anivec, Selectiva Moda, Pavigrés, Câmara do Porto, Onara, Coelima)
Volume de negócios: 12,2 milhões em 2008
Países em que está presente: cobre feiras em todo o mundo



Empresas desinvestem nas feiras
Como trabalha com empresas de todas as áreas de actividade, a Insyncro acaba por estar numa posição privilegiada para observar o impacto da crise nos diversos sectores. "No imediato, estamos a trabalhar com empresas de moldes, vinhos, têxteis, calçado, materiais de construção, de tecnologia, do sector automóvel... O que sentimos é que a crise está instalada e sente-se em qualquer sector. Não há nenhum imune", diz Luís Figueira de Sousa, líder executivo da Insyncro. "Sente-se é que há alguns sectores que estão a sofrer particularmente mais, como é o caso de sector dos materiais de construção. Temos clientes que, dada a crise, estão a retrair os seus investimentos na participação em feiras", acrescenta.

É inevitável perguntar: de que forma é que o volume de negócios da Insyncro será afectado por estes desinvestimentos? "Não crescemos no primeiro trimestre de 2009. Não sendo um sinal de crise, é um sinal de meia crise. No final de 2008, já sabíamos que seria difícil crescer. E o nosso primeiro objectivo é manter a nossa base de clientes e só depois conquistar mercado. A nossa experiência mostra que o primeiro trimestre de cada ano é sempre de crescimento. Não foi em 2009", explica Luís Figueira de Sousa. "Mantivemos no primeiro trimestre de 2009 praticamente a facturação de 2008 - 3,7 milhões em ambos", conclui.

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