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A minha PME é excelente

Em 1991, quando Carlos Couto abriu as portas do sótão de sua casa para instalar a Alvo, nessa altura ainda designada ExpoSIS. Dos três sócios fundadores da empresa é o único que continua na actividade - actualmente com a mesma estrutura de três sócios...

27 de Agosto de 2009 às 15:01
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Há 370 PME portuguesas com um desempenho considerado de excelência pelo IAPMEI. O caminho que fizeram para conseguir o título pode ser muito diferente. Mas há pontos que se tocam.

Em 1991, quando Carlos Couto abriu as portas do sótão de sua casa para instalar a Alvo, nessa altura ainda designada ExpoSIS. Dos três sócios fundadores da empresa é o único que continua na actividade - actualmente com a mesma estrutura de três sócios - ainda sobretudo desenvolvida em Lisboa, mas já fora do sótão que lhe facilitava a chegada ao emprego, mas que também lhe dificultava a saída, ou não fosse a proximidade fazê-lo sempre achar que podia ficar mais um pouco.

Hoje, são cerca de 50 os colaboradores desta empresa que nasceu com o objectivo de assegurar uma oferta de "software" de gestão para pequenas e médias empresas (PME). Como explica Carlos Couto, há 18 anos o mercado não estava, como está hoje, inundado de ofertas específicas para esse segmento.

E assim, depois de uma primeira experiência de trabalho, já então na área das tecnologias da informação, o candidato a empresário converteu-se num, aos 26 anos, quando decidiu lançar o projecto.

Desde então, estabeleceu parcerias com fabricantes de soluções, fez certificações em produtos e tecnologias e formou recursos humanos que ajudam as empresas a adoptar o "software" de gestão à medida das suas necessidades e dimensão, assegurando o suporte técnico. O negócio não tem corrido mal e, para breve, está previsto um passo importante que tem consumido alguns recursos nos últimos meses mas que pode trazer um importante retorno à empresa: o lançamento de soluções de marca própria. "Coisas simples para empresas simples", assegura Carlos Couto.

Foi no meio da actividade normal do dia-a-dia que alguém da Alvo passou pelo "site" do IAPMEI (Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento) e tomou contacto com a existência da distinção PME Líder, disponível para as empresas que cumpram um conjunto de requisitos ligados ao desempenho financeiro e ao perfil de risco e que, em troca, queiram receber uma distinção pública e facilitar o acesso ao crédito.





José Faria, 33 anos

Empresa Keylab
Facturação em 2008 10,9 milhões de euros
Crescimento face a 2007 35%
Investimento em 2008 600 mil euros
Empregados 233



Um caso (de)cisão

A KeyLab nasceu no âmbito da cisão que criou o Grupo setCom, a partir de algumas unidades da setCom electrónica. Dedica-se à concepção e desenvolvimento de soluções de pós-venda, com José Faria envolvido desde o início e na administração desde 2005. A gestão do Centro Coordenador Nacional dos Serviços Pós-venda da Nokia nas áreas da logística e da assistência técnica especializada, foi o primeiro grande projecto da empresa quando arrancou em 2001 e, também, o pretexto que levou o gestor para o grupo. Em 2002, a KeyLab já era distinguida como a 165ª maior PME nacional, numa lista de mil. Hoje trabalha também com a Zon, a Vodafone, Via Verde, entre outros, e mantém a ligação à Nokia com quem já realizou projectos em França e Marrocos, entre outros países.

Chave do sucesso
A inovação
José Faria acredita que tem sido a preocupação da empresa com a manutenção de uma oferta inovadora e com a qualidade do desempenho financeiro que ajudaram a fixar os indicadores de solidez que a iniciativa PME Excelência agora reconhece na KeyLab. No ano passado, a empresa investiu 600 mil euros para manter o ritmo e este ano planeia continuar a fazer crescer a actividade, com uma facturação prevista de 11 milhões de euros.

Como todos os critérios referidos no regulamento estavam cumpridos, a Alvo avançou e tornou-se uma PME Líder. Algum tempo mais tarde, propôs-se também a ser uma PME Excelência - as melhores PME Líder, dentro dos mesmos critérios - e mais uma vez conseguiu concretizar o objectivo. Embora não seja nova, a iniciativa PME Excelência deixou de realizar-se durante vários anos. Voltou a ser atribuída este ano, dando a 370 PME portuguesas uma espécie de selo de qualidade, que também é um sinal para os bancos relativamente à solidez financeira daquelas empresas.

Carlos Couto diz notar alguns resultados e assume que a Alvo já recebeu contactos depois da distinção que confirmam essa maior facilidade de acesso a crédito, mas diz que o mais importante do título está no facto de funcionar como um "reconhecimento público pelo esforço e trabalho nosso e dos nossos colaboradores".

O que é uma PME Excelência?

A iniciativa é da responsabilidade do Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas, em parceria com o Turismo de Portugal, Banco Espírito Santo, BPI, Caixa Geral de Depósitos, Millennium BCP e Santander Totta. Escolhe as melhores empresas já distinguidas com o título de PME Líder, atribuído a entidades que se candidatem e que apresentem uma autonomia financeira superior ou igual a 35%, um crescimento do volume de negócios face ao ano anterior maior ou igual a 5%, uma rendibilidade dos capitais próprios (resultados líquidos sobre capitais próprios) maior ou igual a 10%, uma rendibilidade do activo (resultados líquidos sobre activo líquido) maior ou igual a 3% e integrem os dois primeiros níveis de "rating" (AAA ou AA). Os indicadores considerados referem-se ao ano anterior ao da distinção, neste caso, a 2008.

Em 2009, as 370 PME Excelência escolhidas ente o leque mais vasto de PME Líder representam um volume de negócios na ordem de três mil milhões de euros, com crescimento médio em 2008 de 15%, activos líquidos de dois mil milhões de euros e capitais próprios de mil milhões de euros. A rendibilidade média dos capitais próprios fixa-se em 20,6% e do activo nos 10,7 por cento. A autonomia financeira média neste conjunto de empresas atinge os 54 por cento. Em conjunto, as PME Excelência dão emprego a 19 mil pessoas e representam, sobretudo, os sectores da construção, turismo, serviços e transportes. Porto, Lisboa, Aveiro, Leiria e Braga reúnem o maior número de empresas.

José Faria, CEO da KeyLab também concorda. "Essencialmente, esta distinção permite uma maior visibilidade ao nível da notoriedade e, claramente, uma afirmação perante os vários operadores do mercado".

Periferia e competitividade
A empresa do grupo setCom também recebeu a distinção de "excelência". Foi uma das seis a consegui-lo no distrito de Setúbal. O que para uns pode ser uma localização periférica em relação aos grandes centros urbanos, para a Keylab é uma vantagem indispensável e um factor de competitividade.

"É para nós estratégico manter as nossas operações fora dos grandes centros", garante José Faria, que encontrou na região os recursos especializados que precisava para conceber e implementar as soluções de pós-venda que dão corpo ao seu negócio. Quando foi chamado à setCom - em que hoje é vice-presidente - em 2001, o grupo estava a nascer, na sequência de uma cisão da setCom Electrónica. Ajudou no parto da KeyLab, que arrancava com a gestão do Centro Coordenador Nacional dos Serviços Pós-venda da Nokia, missão ganha em concurso realizado imediatamente antes.

Os anos passaram, os clientes multiplicaram-se e as fronteiras do território foram transpostas.

O crescimento de 35% no ano passado e os bons resultados obtidos antes disso devem-se, para José Faria, à preocupação da empresa com a qualidade do desempenho e com a inovação, também traduzida em várias certificações e no aprofundar de competências técnicas.





Carlos Couto, 45 anos

Empresa Alvo
Facturação em 2008 3,2 milhões de euros
Crescimento face a 2007 9,7%
Empregados 50



Novos alvos

A Alvo foi fundada em 1991 para fornecer soluções de "software" de gestão a pequenas e médias empresas. Tem suportado a actividade em parcerias com fabricantes a quem vai buscar as soluções que aplica e na prestação de suporte técnico. Há algum tempo reforçou as competências de investigação da Alvo para desenvolver soluções próprias, um processo que está em marcha. Moçambique é um mercado que já está a ser explorado e onde a empresa mantém quatro pessoas, com intenção de reforçar presença.

Chave do sucesso
Transparência

Transparência é, para Carlos Couto, a palavra que resume tudo. Garante que a actividade da empresa sempre se tem pautado por ela. Internamente, na relação com clientes, parceiros e nas suas obrigações com o Estado. O responsável admite que não é fácil mas assegura que o desafio fica mais simples quando se traçam objectivos claros e bem reflectidos.

Pelo caminho, ficam alguns indícios de que as apostas estavam certas, como a distinção por dois anos seguidos enquanto Best Nokia National Service Supplier da região EMEA (Europa, Médio Oriente e África). Talvez menos importante para a análise do IAPMEI e restantes parceiros que com o instituto definem as PME Excelência, mas relevante para construir uma imagem positiva no mercado e de confiança. Uma confiança que ajudou a conquistar novos clientes, como a Zon, que ainda estava no grupo Portugal Telecom quando aceitou a proposta da KayLab para reinventar o seu serviço pós-venda, apresentada por José Faria que, entretanto, já se tinha tornado o mais novo administrador do grupo setCom.

Como abrir a torneira
Se há casos em que a empresa se confunde com o homem é o da Torneiras Monteiro. Não só porque Joaquim Monteiro emprestou o apelido ao negócio, mas porque ele é o negócio há mais anos que os de vida dos seus companheiros de excelência, igualmente preocupados com a imagem de confiança e o cumprimento das suas obrigações.

Estava na casa dos 20 quando, com a mulher e uma mão mal cheia de empregados, montou uma fábrica de torneiras. Ao longo dos anos o negócio cresceu e chegou a dar emprego a 50 pessoas. O mesmo número fixa a idade com que o empresário se desligou da fábrica - que deu aos filhos - para abraçar um novo desafio, que já tinha iniciado. Daí em diante, dedicou-se em exclusivo à Torneiras Monteiro, que tinha começado por servir para escoar os produtos da fábrica, mas ao longo dos anos acabou por se assumir em pleno como uma empresa de montagem e comercialização de torneiras, para um leque muito mais alargado de fins, que as iniciais torneiras de cozinha ou casa-de-banho.

A forte concorrência acompanha a história da empresa de Braga e tem ditado mudanças na estratégia e na estrutura, que não perdeu a gestão familiar. Emílio Vieira, genro do fundador e uma das peças da trilogia que dirige o negócio, conta que foi há cerca de uma década que a Torneiras Monteiro sentiu com mais apelo esse imperativo da mudança. E respondeu-lhe.





Joaquim Monteiro, 72 anos

Empresa Torneiras Monteiro
Facturação em 2008 3,7 milhões de euros
Crescimento face a 2007 5%
Empregados 10



Em família

Joaquim Monteiro lançou a Torneiras Monteiro para vender os produtos fabricados noutra empresa da família. Pelo caminho, alargou-lhe o âmbito e abandonou a componente de fabrico próprio. Hoje, a empresa está especializada na venda de artigos para instalações sanitárias de produtos multimarca para todo o país. Os clientes são, sobretudo, lojas de retalho. A gestão familiar já envolve duas gerações.

Chave do sucesso
Não se pode estar parado

"Para se estar bem não se pode estar parado", defende Emílio Vieira, um admirador da visão que tem levado Joaquim Monteiro a reformular constantemente o negócio para manter uma oferta competitiva. Manter uma imagem de credibilidade no mercado tem sido uma arma que abre portas, assegura. O resto é investimento em novas instalações, procura constante pelo equilíbrio dos melhores produtos aos melhores preços, força de vendas e "marketing".

O tamanho das instalações quase triplicou, o quadro de pessoal renovou-se e a aposta na imagem foram assumidas como prioridade, com um maior esforço de promoção dos produtos e da marca junto do cliente. As equipas comerciais foram reforçadas e a cobertura geográfica da Torneiras Monteiro estendeu-se a todo o continente e a seguir saltou para as ilhas. Pelo caminho, foram também lançados produtos de marca própria.

Muitos passos que só a pouco e pouco se transformaram numa caminhada consistente e sem prejuízo da tal imagem de solidez e confiança que ao longo dos anos a empresa trabalhou para criar, garante Emílio Vieira, que há sete anos trocou a profissão de enfermeiro pelo negócio de família.

Se é um segredo está mal guardado, mas nem por isso se revela fácil a aposta na construção de uma imagem de confiança junto de clientes e parceiros, a que tem de ser acrescentado o rigor nas contas, que para estas três empresas parece funcionar como a razão e a consequência da estratégia que as levou à condição de PME Excelência em 2009.

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