Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Negócios 10 anos: Dez palavras para ler uma década

Fazem-se contas às privatizações, as receitas extraordinárias ajudam a cumprir o défice; políticos são estrelas de TV; Governo quer baixar a despesa; construção queixa-se de poucas obras; os estaleiros de Viana estão em falência técnica; ministra das Finanças não se compromete a baixar o IRS, mas antevê a recuperação no ano que vem. Bem-vindos a... 2003! E boa viagem pela década, à boleia das palavras

Negócios 13 de Dezembro de 2013 às 10:26
  • ...

2003

Titularização polémica num Portugal "de tanga"


Um ano depois de chegar ao poder, acusando os socialistas de deixar Portugal "de tanga", o governo de Durão Barroso estava apostado em corrigir os excessos praticados na altura da adesão ao Euro. O "aperto do cinto" tinha o apoio implícito do governador Vítor Constâncio, que era elogiado pela "lucidez". Com o programa de privatizações a render só 185 milhões - contra estimativa de 1.500 milhões -, Ferreira Leite recorreu a receitas extraordinárias num montante acima de 2% do PIB, com a transferência das reservas contabilísticas dos CTT para a CGA e com a cessão de créditos fiscais e à Segurança Social para titularização. 

 


2004

Em ano de Europeu, a "bomba atómica" explodiu em Belém


O orgulho português expressava-se em bandeiras nas janelas durante o Europeu de futebol, que acabaria com uma derrota contra a Grécia. Mas as "emoções" da política ainda estavam para vir: em Julho, Durão sai para a presidência da Comissão Europeia, Sampaio aceita dar posse a Santana Lopes sem eleições, mas a 30 de Novembro invoca a falta de credibilidade para usar a "bomba atómica" - dissolve o Parlamento - e convocar eleições. Nos negócios, Alexandre Soares dos Santos deixa de ser CEO da Jerónimo Martins e o consórcio Petrocer vencia a corrida à compra de 40,8% da Galp, numa operação que viria a ser chumbada.

 

 

2005

Ano de renovação na política, na Galp e no Vaticano


Após dois meses com um governo de gestão, o PS conquista a sua primeira maioria absoluta em legislativas antecipadas, iniciando-se um ciclo político com José Sócrates, que só terminou com a chegada da troika. Foi também um ano de renovação forçada na hierarquia da Igreja Católica devido à morte do Papa João Paulo II. E no mundo dos negócios, após um ano de instabilidade, a Amorim Energia (em que o empresário Américo Amorim está com a Sonangol) assinou um acordo com o Estado e a Eni para ficar com um terço da empresa, ajudando a petrolífera a afastar o controlo italiano.

 


2006

OPA da Sonaecom à PT, do BCP ao BPI e... de Cavaco a Belém


A bolsa de Lisboa subiu 30%, como nunca antes se tinha visto; o governo avança nas energias renováveis e começa a aplicar o Simplex; a Segurança Social foi reformada e passou a contar com o factor de sustentabilidade; a ASAE lança-se a todos os negócios que mexem. Mas o que realmente marcou o ano, apesar de ambas terem fracassado, foram as Ofertas Públicas de Aquisição (OPA) lançadas pela Sonaecom à PT e depois pelo BCP para controlar a totalidade do capital do BPI. Entretanto, Cavaco Silva é o primeiro presidente da direita a ocupar o Palácio de Belém.

 

 

2007

"Jamais" de Lino ofuscou Berardo e um tal de "subprime"

 

Joe Berardo esteve em quase todas as frentes - lançou uma OPA ao Benfica, atacou a oferta da Sonaecom à PT, denunciou irregularidades no BCP, entrou hostil na Sogrape, abriu um museu com uma colecção de arte -, mas foi uma expressão dita em francês por Mário Lino sobre a hipótese de localizar o novo aeroporto de Lisboa na margem sul do Tejo que ficou nesse ano no ouvido. "Jamais", disse o então ministro dos Transportes, acérrimo defensor da Ota. A assinatura do Tratado de Lisboa e a crise do "subprime" dominavam a agenda internacional, sem se imaginar o que aí vinha.

  


2008

Nacionalização do BPN no pós-Lehman e pré-Obama


A falência do Lehman Brothers, considerada a maior da história, arrastou os mercados para o pânico e pôs a nu as necessidades de financiamento e anos de excessos de bancos em todo o mundo. O modelo de nacionalização avançou por todo o lado e, a 2 de Novembro, chega a Portugal e ao BPN. Um caso de polícia que já custou 5,3 mil milhões de euros aos contribuintes. No meio do descalabro financeiro, a histórica eleição de Barack Obama acendia uma velinha de esperança nos Estados Unidos. Este foi o ano em que os portugueses começaram a ouvir falar nos angolanos Manuel Vicente e Isabel dos Santos.

  


2009

"Escutas" alastraram da Justiça para a Presidência


O país levava já alguns meses a ouvir falar das escutas telefónicas - e da sua ordem destruição - do processo Face Oculta em que intervinham Sócrates e Armando Vara, quando, a poucos dias das legislativas, saiu de Belém a notícia de que o Presidente suspeitava que estava a ser escutado pelo governo. O caso contaminou as eleições para Ferreira Leite, afundou Cavaco na popularidade e abriu hostilidades entre São Bento e Belém, ajudando depois a derrubar o governo PS. Foi o ano em que a Bial colocou no mercado o primeiro medicamento com patente portuguesa e que a Ongoing tentou comprar a TVI.

  


2010

A ditadura dos mercados alastrou com "ressaca" grega


Foi o ano da crise grega, obrigada a um resgate de 110 mil milhões de euros e que quase ruiu o Euro, foi o ano do agravamento do risco de Portugal, do descontrolo das contas públicas, do reforço da austeridade - incluindo o corte salarial à Função Pública - com um orçamento e três PEC para domar o défice, que em 2009 chegara a 10,2%. No ano em que a PT vendeu a posição na Vivo à Telefónica (primeira proposta foi chumbada pelo Estado através da "golden share"), Teixeira dos Santos "dobrou" à ditadura dos mercados, ao arriscar que seria preciso pedir ajuda externa caso os juros da dívida a 10 anos passassem os 7%.

 

 

2011

O duro resgate da troika num ano com outras "Primaveras"


Milhões de portugueses "à rasca" a manifestarem-se nas ruas, discurso arrasador da Cavaco na tomada de posse, chumbo do PEC IV, demissão de Sócrates, pedido de resgate, negociações com a troika, chegada de Passos ao poder, entrada em cena de Vítor Gaspar e da confissão de um desvio colossal... A loucura nacional na primeira metade do ano teve paralelo no mundo árabe, varrido por várias "Primaveras" na Tunísia, no Egipto, na Líbia. No mundo empresarial, contaminado pelas falências, o destaque vai para a entrada da PT no capital do grupo brasileiro Oi, poucos meses depois de alienar a participação na Vivo.

 

 

2012

Refundação foi a fuga em frente após a crise aguda da TSU


A 7 de Setembro, antes de um jogo da Selecção, Passos anunciou uma medida que não avançaria, mas que partiu o ambiente político e social, como cristal que cai no chão: a descida da Taxa Social Única (TSU) para as empresas, financiada pela subida da contribuição para os trabalhadores. A credibilidade do Executivo nunca mais foi a mesma. O ano terminou com o anúncio de uma refundação, que incluía rever as funções do Estado. O termo deu lugar retórico à reforma do Estado, mas a rábula do "guião" de Portas e os chumbos do Constitucional mostraram ser só a arte dos cortes possíveis e urgências do momento.

 

 


Glossário

 

TANGA Peça de roupa usada à volta das ancas por nativos de países quentes; calcinhas ou peça de fato de banho de tamanho reduzido; dar tanga a (divertir-se à custa de); estar de tanga (ficar na penúria).


BOMBA ATÓMICA Engenho explosivo de efeitos destrutivos e mortíferos, resultantes da brusca libertação da energia de desintegração do núcleo atómico.


RENOVAÇÃO Acto ou efeito de renovar (dar aspecto novo a; recomeçar; consertar; reparar).


OPA Espécie de capa sem mangas mas com aberturas para os braços, usada pelos membros de irmandades e confrarias, em actos solenes.


JAMAIS Em tempo algum, nunca; alguma vez, nenhuma vez.


NACIONALIZAÇÃO Acto de nacionalizar ou nacionalizar-se; apropriação por um Estado de uma indústria ou outra actividade económica anteriormente explorada por entidade privada.


ESCUTAS Detecção e registo de conversas telefónicas ou outras entre pessoas, sem que estas se apercebam; militar combatente destacado de uma força para detectar, pelo ouvido, a actividade do inimigo.


MERCADOS Lugar público onde se compram mercadorias postas à venda, feira; lugar de encontro da procura e da oferta; conjunto de potenciais compradores de um determinado produto.


TROIKA Trenó puxado por três cavalos; conjunto de três pessoas ou coisas; trio; grupo de trabalho ou delegação composto por três membros (do russo troika, «trio»).


REFUNDAÇÃO Acto ou efeito de refundar (tornar a fundar; aprofundar; reinstituir).

 


Fonte: Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013.

 

 

Ver comentários
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio