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"Há mais de nove anos" que a Impala "mantém ordenados em atraso", acusam trabalhadores

Luís Monteiro Pereira, representante dos trabalhadores da Impala, apontou, numa audiência com o grupo de trabalho da Comissão de Trabalho e Segurança Social, a criação "de uma teia de mais de uma dezena e meia de sociedades à volta desta editora", da "família" do empresário Jacques Rodrigues, que "não têm qualquer atividade".

Correio da Manhã
24 de Fevereiro de 2021 às 21:05
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A Impala, dona das revistas Nova Gente e Maria, "mantém ordenados em atraso" desde 2011 e conta atualmente com 174 ex-trabalhadores à espera de receber créditos salariais, num valor acumulado de 2,85 milhões de euros.

Esta informação foi avançada hoje por Luís Monteiro Pereira, no âmbito de uma audiência dos trabalhadores do grupo Impala com o grupo de trabalho da Comissão de Trabalho e Segurança Social.

"Neste momento existem 174 ex-trabalhadores da Impala em continuada espera para receber os créditos salariais, alguns há mais de 10 anos", afirmou o representante dos trabalhadores, salientando que os créditos "que a empresa se recusa a pagar" ronda os 2,85 milhões de euros.

Além disso, salientou que "há mais de nove anos que a Impala mantém ordenados em atraso", acrescentou.



Na sua intervenção, Luís Monteiro Pereira começou por apontar a transferência "da faturação que é produzida pela empresa base, inicialmente Impala Editores", que designou por editora, "para outra empresa detida por si", que atualmente é a Impala Multimédia.

Este movimento trata-se de "uma manobra ilusória", já que a segunda empresa faturou entre outubro de 2009 e dezembro de 2011 "120 milhões de euros sem ter um único funcionário ao seu serviço", prosseguiu.

"E desde 2012 a 2019" a faturação foi de 156 milhões de euros, "tendo tido no máximo cinco funcionários em simultâneo durante este período. E porquê? Porque os 200 e tal funcionários que a empresa tinha mantiveram-se na editora [Impala Editores]", referiu.

Apontou a criação "de uma teia de mais de uma dezena e meia de sociedades à volta desta editora", da "família" do empresário Jacques Rodrigues, que "não têm qualquer atividade".

Estas empresas "não têm qualquer atividade que não seja prestar serviços entre si, retirando os recursos financeiros à editora e criando uma falsa ideia de debilidade financeira para permitir, com base nisso", um dos passos da estratégia do grupo, que é "o sucessivo recurso ao instrumento PER - Plano Especial de Revitalização", que a empresa "viu como uma oportunidade para diluir o pagamento das suas dívidas, ou não o fazer de todo", acusou o representante dos trabalhadores.

No fundo, "transformou a editora numa mera prestadora de serviços, passando o produto da sua atividade para uma empresa terceira que decidia qual o valor dessa prestação de serviços, à medida da vontade dos acionistas, e que, com sucessivas reduções desse valor, fez com que fossem simuladas dificuldades financeiras muito além das reais na editora", argumentou.

Permitiu também "retirar as vendas necessárias para manter os privilégios da família, nomeadamente à dos seus projetos pessoais do empresário principal, escondidos assim dos credores da editora", salientou.

Considerou que o "garrote financeiro que foi criado por esta teia serve à administração da empresa para justificar, em termos laborais, ordenados em atraso ininterruptamente desde dezembro" até hoje.

Ou seja, "há mais de nove anos que a empresa mantém ordenados em atraso", com "sucessivos despedimentos coletivos entre 2009 e 2020, abrangendo mais de 200 trabalhadores até à data", sublinhou Luís Monteiro Pereira.

O representante dos trabalhadores da Impala relatou aos deputados que as negociações para o pagamento de créditos laborais a prestações das pessoas que iam sendo despedidas "foram aceites pelos trabalhadores sob a ameaça de insolvência iminente da empresa e de não receberem nada caso não aceitassem".

Depois, estes valores foram incluídos nos vários PER - total de três até agora - que a empresa vai apresentando, "adiando ainda mais o prazo para regularização das dívidas salariais", apontou.

"O recurso continuado da editora aos PER provocou o congelamento de todo e qualquer pagamento a ex-trabalhadores entre outubro de 2014 e junho de 2017, ou seja, durante quase três anos, enquanto decorria o pagamento das negociações dos dois primeiros PER".

A Impala, com o nome DescobrirPress, entrou com um novo PER no ano passado, tendo o Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Oeste recusado a sua homologação na semana passada.

Monteiro Pereira salientou que os trabalhadores abrangidos pelo último despedimento coletivo, em novembro último, ainda não receberam metade do ordenado de outubro.

"Este último despedimento coletivo foi justificado pela administração como consequência dos efeitos da covid-19", disse, considerando que "na verdade" a pandemia foi aproveitada pela empresa "para esse efeito".

Acusou a empresa de ter compensado os despedimentos com "uma falsa externalização", com recurso a mão-de-obra "mais barata", que na verdade "são trabalhadores de outra empresa do grupo que foram mobilizados pela mesmo administração" que decidiu os despedimentos.

O representante dos trabalhadores disse ainda que a Impala manifestou a intenção de "instituir o teletrabalho definitivo", dando uma nova utilização da antiga sede da Impala - que passa a ter um circuito de mini-golfe, galeria do fundador, centro de congressos e restaurante - para rentabilizar o edifício.

Para Luís Monteiro Pereira, isto significa "desagregar o local de trabalho" onde os trabalhadores tinham definido nos seus contratos como sede e, quem sabe, "evitar que o edifício possa responder" a eventuais créditos futuros.

Defendeu ainda a "necessidade de rever a legislação do PER" e disse que os trabalhadores pediram também uma reunião com o grupo de trabalho de economia, que entendeu "não ser matéria" de acompanhamento, pelo pediu aos deputados apoio para que aconteça aquela audição.

Por sua vez, a deputada do PSD Fernanda Velez disse que tinha tomado "boa nota" do que se passa no grupo Impala, garantindo que "serão de certeza analisadas" pelo seu grupo parlamentar.

A deputada do PS Mara Coelho disse que as "questões" levantadas são preocupantes e manifestou a disponibilidade do grupo parlamentar de se reunir com os representantes dos trabalhadores.

O deputado do BE José Soeiro classificou de "chocante e vergonhosa" a situação, adiantando que vai questionar a Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) sobre as diligências efetuada.

Diana Ferreira, do PCP, disse que "não é de todo aceitável" a situação que os trabalhadores atravessam, garantindo que o Partido Comunista vai questionar o Governo sobre o assunto.

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