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Encerramento da rádio e televisão grega divide coligação. Trabalhadores desafiam governo de Samaras

O encerramento inesperado da rádio e televisão pública grega está a gerar um braço de ferro entre o Governo de Samaras e os trabalhadores da ERT. Os parceiros de coligação já avisaram o primeiro-ministro que vão votar contra a decisão e Alexis Tsipras, líder do segundo maior partido, pediu uma audiência com o Presidente da República.

12 de Junho de 2013 às 10:18
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O jornal grego “Kathimerini” relata que os trabalhadores da televisão grega continuam nas instalações da sede da ERT, situada no norte de Atenas, e que milhares de pessoas continuam concentradas cá fora em protesto contra a decisão do governo.

 

Esta terça-feira, pouco antes da meia-noite, o sinal da estação pública foi desligado por ordem do Governo. O Executivo afirma que esta decisão se deve aos elevados custos operacionais e à falta de transparência da empresa mas visa também cumprir o objectivo de reduzir o número de funcionários públicos em 15 mil até ao final do ano, tal como ficou definido com a troika. Na ERT trabalham, actualmente, 2.800 pessoas que, segundo o porta-voz do Governo, serão compensadas pela perda do posto de trabalho.

 

Simos Kedikoglou esclareceu, porém, esta quarta-feira que a decisão do Governo não está ligada ao programa de ajuda externa. O Comissário Europeu Olli Rehn afirmou também que esta decisão foi tomada em "total autonomia" pelo Executivo de Samaras. Em comunicado, Bruxelas refere que "tomou nota" da decisão e defendeu a existência de um serviço público de televisão.  

 

A decisão de Antonis Samaras desagradou totalmente aos parceiros de coligação. PASOK e Esquerda Democrática já garantiram que vão votar contra no Parlamento e pediram uma reunião de emergência com o primeiro-ministro. “Estamos totalmente em desacordo da decisão [de encerrar a ERT] e com a forma como o Governo lidou com esta situação”, afirmou o socialista Pasok num comunicado, citado pela agência Bloomberg.

 

O segundo partido mais votado nas últimas eleições legislativas também já reagiu ao encerramento da estação pública, classificando-o como um “golpe” dirigido não só aos trabalhadores da ERT mas a toda a população grega. “A estação pública é uma questão de democracia”, afirmou Alexis Tsipras em comunicado, citado pela Bloomberg. O líder do Syriza disse ainda que já falou o Presidente da República, Karolos Papoulias, e que este se mostrou “perturbado” com a decisão. Os dois responsáveis estiveram reunidos esta manhã e no final do encontro Papoulias afirmou que a Constituição grega não lhe permite opor-se à decisão do Governo. O Chefe de Estado defendeu, no entanto, que o país deve ter uma estação pública de televisão.   

 

Trabalhadores desafiam decisão do Governo

 

O jornal grego “Kathimerini” noticia esta quarta-feira que os trabalhadores da estação pública tentaram desafiar a decisão de encerrar as emissões, continuando a emitir programas através de frequências digitais e da Internet.

 

A agência de notícias ANA avança, segundo a Lusa, que o Governo grego tenciona recorrer à polícia para evacuar o edifício da emissora pública ERT, onde se encontram centenas de trabalhadores.

 

"O Governo anunciou que vai enviar a polícia para evacuar o edifício", disse Dimitra Letsa, da agência ANA/MPA, que em declarações à Lusa, por telefone, explicou que, para o Governo de Atenas o edifício pertence agora ao Ministério das Finanças, pelo que qualquer pessoa que se mantenha no interior estará a invadir o edifício e será levada à justiça.

 

Segundo Dimitra Letsa, também a emissão por Internet foi cortada às 10h00 (08h00 em Lisboa), pelo que o sinal da emissora pública "agora está completamente apagado".

 

O sindicato dos jornalistas convocou uma manifestação em frente ao edifício da ERT para hoje às 12h00, disse à Lusa Dimitra Letsa, que se diz "chocada" com o encerramento da emissora.

 

"Ficámos todos chocados com o anúncio. Não é segredo que a emissora pública precisa de reorganização e poderia haver uma restruturação e um corte nas despesas, mas encerrar a emissora pública é uma medida dramática que não encontra apoio junto dos jornalistas e da sociedade em geral", disse.

 

Mensagens de apoio à emissora chegaram de todo o mundo, provenientes da diáspora grega, para quem a ERT é uma ligação vital ao seu país, e o encerramento foi também condenado pelo líder da Igreja Ortodoxa grega. A emissora estatal foi "violentamente" encerrada e milhares de funcionários da ERT estão a ser "sacrificados" para pagar décadas de administração danosa.

 

O presidente da European Broadcasting Union (EBU), que representa todas as estações públicas da Europa, já manifestou a sua “consternação” com a decisão do Governo grego. Jean Paul Philippot e Ingrid Deltenre, directora-geral da EBU, escreveram uma carta ao primeiro-ministro grego onde reconhecem a “necessidade de realizar cortes orçamentais” mas onde defendem também que, “em tempo de dificuldades nacionais, as emissoras públicas são mais importantes do que nunca”.  

 

(Notícia actualizada às 11h01 com mais informações)

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