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Têxtil diz que Governo não está “à altura” das empresas

Os industriais do têxtil e do vestuário criticam a escassez de apoios à economia por parte do Estado, antecipando terminar o ano com uma quebra até 20% nas vendas. Conheça as sete propostas apresentadas ao ministro Siza Vieira.

Paulo Duarte
26 de Novembro de 2020 às 18:00
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Quase no final de um ano que passaram a tentar "minorar perdas, retomar exportações e segurar empregos", os industriais do têxtil e do vestuário lamentam que "nem sempre o Governo tenha compreendido este esforço" e estado "à altura deste combate", apoiando as empresas num momento "extremo e excecional" marcado pela pandemia de covid-19.

 

No tradicional discurso de estado do setor, o presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), Mário Jorge Machado, apelou diretamente ao ministro da Economia "para que não desista, no seio do Governo a que pertence, de defender quem cria riqueza e a distribui, quem cria emprego e exporta, quem investe e quem torna Portugal realmente mais moderno e desenvolvido".

 

Mesmo apelidando Pedro Siza Vieira de "provedor das empresas" dentro de um Executivo socialista que "tem vindo a priorizar o Estado, secundarizando a iniciativa privada", o líder dos têxteis mostrou-se "perplexo" com a reduzida disponibilização de recursos para atenuar os efeitos da pandemia, face à "vulnerabilidade das empresas" e ao "colapso maciço que se antevê em muitos setores".

 

Poucas horas após a aprovação final do Orçamento do Estado para 2021 no Parlamento, Mário Jorge Machado não escondeu a "desilusão" com um documento que "ignorou totalmente as empresas, centrando-se só no Estado, nos apoios sociais e nos serviços públicos". E também com o chamado Plano de Recuperação e Resiliência, que dirige apenas 19% da "bazuca" de fundos europeus ao tecido empresarial.

 

-40%Vendas
Quatro em cada dez empresas do setor têxtil estão com quebras de faturação superiores a 50%.

 

Um inquérito realizado nos últimos dias pela ATP mostra que 40% das empresas têxteis estão com uma quebra na faturação superior a 50%, sendo que três em cada quatro (76%) registam perdas de vendas acima de 10%, face ao ano anterior. "São números avassaladores. Conjugados com a quebra das exportações ao longo do ano [até setembro recuaram 13%, num valor acumulado de 3.424 milhões de euros], leva-nos a antecipar que a quebra no volume de negócios vai ficar entre 15% a 20%, que são números dramáticos para qualquer setor", desabafou o dirigente associativo.

 


As sete prioridades da indústria têxtil:

 

1) Aposta na reindustrialização do país, dando prioridade às transformadoras de bens transacionáveis que têm tradição em Portugal, provam saber inovar e são concorrenciais à escala internacional, em detrimento de apostas de risco em novos setores que poderão converter-se num esbanjar de recursos;

 

2) Criar um contexto de forte atratividade do investimento direto estrangeiro em indústrias de bens transacionáveis, uma vez que o capital é sempre escasso em Portugal, permitindo assim transferência de know-how, a geração expressiva de emprego e a garantia imediata do crescimento das exportações;

 

3) Melhorar o ambiente competitivo do país, a começar pela flexibilização da lei laboral (e não o inverso), a redução dos custos com a energia e com o dinheiro, e por uma efetiva desburocratização de procedimentos, pois há cada vez mais burocracia e custos administrativos para lidar com tudo que envolve o Estado ou os seus serviços;

 

4) Reforçar os apoios à capacitação empresarial (diretamente às empresas e não ao Ministério da Educação ou a institutos públicos) e concentrar esforços nos programas de internacionalização, com o auxílio dos fundos comunitários que estão ainda longe estar consumidos – o Portugal 2020 tem mais de 100% do valor cativado, mas menos de 50% das verbas aplicadas;

 

5) Reorientar os fundos do Programa de Recuperação e Resiliência para o apoio às atividades produtivas, em parceria com as empresas, de modo a tornar mais eficiente e reprodutivo o investimento, incluindo nos domínios da transição digital e diversificação energética;

 

6) Criar um verdadeiro Banco de Fomento, a exemplo dos melhores modelos europeus, que ajude efetivamente as empresas a reforçar capitais próprios e a diversificar as fontes de financiamento, evitando que acabe como "bad bank" para empresas problemáticas que o Estado quer salvar, mais por exigência ideológica do que imperativo de racionalidade;

 

7) Retomar, atualizar e melhorar o Programa Capitalizar, que inclui muitas medidas positivas que, a serem aplicadas, neutras de política e ideologia, providenciariam um país mais competitivo, mais equilibrado e mais sustentável.
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