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Naufrágio dá força à Amorim na defesa da cortiça
Quando mergulhadores, em 2010, resgataram 162 garrafas de champanhe de um navio naufragado no fundo do Mar Báltico e provaram a bebida quando ela chegou à superfície, surpreenderam-se ao descobrir como o espumante tinha envelhecido bem após quase dois séculos debaixo de água.
Como os rótulos haviam sido lavados há tempos, os especialistas tiveram que confiar nas gravuras das rolhas de cortiça para determinar que o champanhe de 170 anos de antiguidade foi produzido por fabricantes de França. Naturalmente, os responsáveis telefonaram para a Corticeira Amorim, a maior produtora de rolhas de cortiça do mundo, para substituir as rolhas.
Para António Rios Amorim, CEO da Corticeira Amorim, o facto de 79 garrafas ainda terem podido ser bebidas é mais uma prova das virtudes das rolhas de cortiça na preservação dos champanhes e vinhos mais finos do mundo. Uma das garrafas - um Veuve Clicquot – foi vendida posteriormente por 30.000 euros num leilão, o que representa um recorde.
Trata-se de uma questão que António Rios Amorim deseja enfatizar num momento em que está a tomar medidas para restaurar a fé no recurso natural, que perdeu parte de seu apelo nos anos 1990 e no início dos anos 2000 devido a uma contaminação de uma fracção de rolhas de cortiça que produz um gosto "de rolha" e que estraga uma minúscula percentagem dos vinhos engarrafados a cada ano, segundo a Cork Quality Council, uma organização sem fins lucrativos.
O advento das rolhas e tampas sintéticas desafiou produtoras como a Corticeira Amorim a melhorar os seus produtos e explorar novas fontes de receita.
Produto de exportação
"Isso prova que existe apenas um produto no mundo capaz de garantir a qualidade e a longevidade de vinhos e champanhes", disse António Rios Amorim, de 49 anos, em entrevista em Mozelos, no norte de Portugal, onde fica a sede da empresa fundada pelo seu tetravô em 1870. "Esse champanhe não teria sobrevivido com tampas de plástico ou de alumínio."
A cortiça é um dos principais produtos de exportação de Portugal, que fabrica cerca de metade da cortiça do mundo e exporta cerca de 940 milhões de euros por ano em produtos à base de cortiça, segundo a Associação Portuguesa da Cortiça, um consórcio de produtores e fabricantes de cortiça. As rolhas de cortiça para vinho e champanhe respondem pelo grosso dessas exportações.
A Corticeira Amorim também chegou a considerar optar por alternativas de plástico e metal antes de decidir permanecer com aquilo que conhece melhor. A companhia investiu cerca de 200 milhões de euros para encontrar uma forma de produzir rolhas de cortiça naturais sem contaminantes e para desenvolver outros produtos, como chinelos e soluções de revestimento leves para comboios de alta velocidade.
"A procura por produtos de luxo nos EUA e em outros mercados está a aumentar e os vinhos que usam rolhas de cortiça são considerados mais luxuosos que os demais", disse José Mota Freitas, analista da Caixa-Banco de Investimento. "A procura por tampas de rosca tem caído em parte devido ao lançamento de rolhas de cortiça de qualidade superior."
Aumento dos desafios
Com a procura de cortiça a aumentar, um dos maiores desafios da Amorim é encontrar uma oferta ampla de árvores. O sobreiro, uma árvore de lento crescimento e de onde é extraída a cortiça, demora cerca de 25 anos entre ser plantada até poder ser feita a primeira extracção. E depois demora mais duas campanhas, ou 18 anos, para se produzir cortiça com qualidade suficientemente boa para fabricar rolhas de cortiça.
"É muito difícil convencer os donos de terrenos a plantar estas árvores quando têm de esperar tanto tempo para começar a vender cortiça", explicou António Rios Amorim. "Se conseguirmos encurtar este ciclo há um incentivo extra para se plantar carvalhos em vez de oliveiras ou vinhas."
Testes levados a cabo por um agricultor na região do Alentejo tiveram sucesso na redução do tempo do primeiro ciclo de extracção da cortiça, através da utilização de fertilizantes e um novo sistema de irrigação.
A Corticeira Amorim está a trabalhar com especialistas para alargar esta experiência, plantando carvalhos numa terra com 400 hectares em Portugal e Espanha.
"Não há tempo a perder", salientou António Rios Amorim. "Esta empresa tem a responsabilidade de ser líder no sector da cortiça e se não liderarmos, duvido que alguém tenha essa capacidade."