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Morreu António Ferreira Amorim, o último dos quatro irmãos e pai do CEO da Corticeira

Com uma riqueza avaliada em cerca de 790 milhões de euros pela revista Forbes, o irmão de Américo Amorim era o 18.º mais rico de Portugal, segundo a classificação feita pela publicação no final do ano passado.

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António Ferreira de Amorim, pai do atual CEO da empresa, António Rios Amorim, e o último dos quatro irmãos que assumiram o controlo da empresa nos anos 60 do século passado, morreu na noite desta terça-feira, 14 de maio, aos 95 anos, avançou o ECO. Fonte oficial da Corticeira Amorim confirmou também a notícia ao Negócios. 

"É com profundo pesar que a Corticeira Amorim informa do falecimento, na noite de dia 14 de Maio de 2024, do Sr. António Ferreira Amorim. Figura maior da terceira geração da família Amorim, António Ferreira Amorim deixa-nos aos 95 anos de idade, legando-nos um exemplo de trabalho, determinação, coragem e responsabilidade. Dedicou, desde muito jovem, o seu trabalho ao desenvolvimento da atividade familiar de transformação da cortiça. Assumiu a responsabilidade pela produção e cedo se afirmou na liderança industrial, graças não só ao rigor e eficácia da sua gestão operacional, mas também à sua personalidade forte e cativante", informou entretanto a empresa em comunicado.

Nascido em julho de 1928, António Ferreira Amorim era o terceiro filho (de um total de oito) de Albertina e de Américo Alves Amorim. Os seus outros três irmãos que revolucionaram a Corteireira também já morreram: Américo Amorim, presidente da Corticeira entre 1953 e 2001, faleceu em 2017; José Ferreira Amorim em 2022; e Joaquim Amorim, o irmão mais novo, em 2023.

António Ferreira de Amorim - pai de António, Cristina e Joana Rios de Amorim - começou a trabalhar no grupo Amorim & Irmãos aos 20 anos, em 1949, depois da tropa em Tavira. Estudou no Colégio São Luís, em Espinho, e na Escola Académica do Porto. O seu primeiro contacto com o negócio familiar foi aos 14 anos. Entre os irmãos, era o mais próximo dos operários da empresa.

Com uma riqueza avaliada em cerca de 790 milhões de euros pela revista Forbes, o irmão de Américo Amorim era o 18.º mais rico de Portugal, segundo a classificação feita pela publicação no final do ano passado.

 "Ao longo de mais de 70 anos de trabalho, António Ferreira Amorim contribuiu de forma relevante para a definição e execução da estratégia da Corticeira Amorim. A sua paixão era a cortiça e o montado, tendo sido precursor da implementação das melhores práticas de gestão e produção florestal, em perfeita simbiose com a natureza", refere também a empresa no mesmo comunicado, confirmando que "a sua preocupação eram as Pessoas, com quem estabelecia uma relação de cumplicidade e respeito, fundamental para a produtividade, segurança e motivação profissional. A proximidade com as pessoas da produção era o que lhe dava mais satisfação".

Casado com Margarida Rios de Amorim, tinha três filhos: António Rios de Amorim, Cristina Rios de Amorim e Joana Rios de Amorim.

"António Ferreira Amorim permanecerá na memória de todos como um homem de compromissos inequívocos: com a cortiça, com as fábricas, com as pessoas e com a família", remata a Corticeira na mesma nota de pesar.

Deixa na liderança da empresa o seu filho, que ocupa o cargo de CEO há 22 anos. A meias com a sua cunhada Maria Fernanda, e as sobrinhas Paula, Luís e Marta, filhas de Américo, controla o maior grupo de transformação de cortiça do mundo.  

Os quatro irmãos do clã Amorim

Após a morte de Américo Amorim, em junho de 2017, e de José Amorim, em janeiro de 2022, a 20 de setembro de 2023 morreu Joaquim Ferreira de Amorim, o mais novo dos quatro irmãos que, a partir de 1960, assumiram o destino do grupo que controla atualmente mais de um terço do mercado mundial.

E se Américo era "a figura de proa da terceira geração, dotado de uma visão e tenacidade singulares, cuja atuação alterou radicalmente a fileira da cortiça em Portugal e no mundo", o irmão António, que era o que mais privava com os operários. "Foi sempre um homem de ação, do terreno", dizem os mais próximos.

José, o mais velho, era o responsável pelo aprovisionamento da matéria-prima, o que melhor conhecia e sabia da cortiça e do montado. Já Joaquim, era o que melhor sabia falar inglês na família de Mozelos, o mais viajado, o mais livre do clã, "comercial por excelência, tinha por função trabalhar mercados".

José e Joaquim já tinham saído do capital da Corticeira em 1987 e 2013, respetivamente. Em setembro de 1987, em discordância com o irmão Américo, que decidiu levar a Corticeira Amorim para o mercado de capitais, José Ferreira Amorim abandonava os negócios da família. Em 2005, houve uma nova cisão no clã, com a partilha de negócios entre irmãos, tendo em 2013 Joaquim Ferreira de Amorim vendido os seus 25% na Corticeira Amorim ao irmão António, que ficou assim com uma participação similar à de Américo.

Numa conversa publicada em 2020 no site da Corticeira Amorim, António Ferreira de Amorim (então com 91 anos) recordou mais de 70 anos a trabalhar na empresa. "Gostei sempre de trabalhar na fábrica; gosto do ambiente da fábrica, junto dos trabalhadores fabris. Acompanhava todas as cargas e descargas; antigamente, os fardos de cortiça e de aparas eram pesados um a um e tomava-se nota dos pesos. Quem vendia e quem comprava anotava os pesos fardo a fardo e só depois é que eram levados para os armazéns, ou então carregados para exportar por Vila Nova de Gaia, Matosinhos ou por Lisboa".

Nesse mesmo artigo foram-lhe atribuídos os dons da organização, rigor e eficácia. Entre as memórias mais fortes e tristes que tiha da sua passagem pelo grupo, recordou a substituição das pessoas por máquinas. "Há alguns anos, o avanço tecnológico permitiu que fossem desenvolvidas máquinas eletrónicas de escolha de rolhas. Esta era uma tarefa especializada, desde sempre executada por mulheres e, na Amorim & Irmãos, tínhamos algumas dezenas destas mulheres - as escolhedeiras", conta. "Algumas mulheres fizeram toda a sua vida profissional naquela fábrica; algumas trabalhavam lá desde crianças, com mais de 47 ou 48 anos de casa. A decisão de as despedir foi particularmente penosa. Apesar de terem recebido uma boa indemnização, fiquei muito triste ao vê-las sair pela última vez de Amorim & Irmãos; fiquei emocionado, mas a vida é mesmo assim. Temos de respeitar os trabalhadores e, quando estas contrariedades acontecem, temos de ser os primeiros a falar com eles, a explicar-lhes as razões e a procurar resolver as coisas a bem e com o mínimo de danos possível, compensando-os e agradecendo-lhes" afirma. "Foi o que fiz, embora me tivesse custado muito; falei com todas elas antes de saírem."

Lembrou também a criação da Corticeira Amorim, atualmente Amorim Cork Composites, em 1963. "Nem queria acreditar, quando avançamos com as obras, para poder transformar em Portugal as aparas e refugos de cortiça, que até essa altura exportávamos. No dia em que vi os moinhos a triturar as aparas e a fazer granulados, para mim foi um sonho tornado realidade. E isto só foi possível graças à capacidade e ao trabalho do Tio Henrique Amorim, dos meus irmãos Zé, Américo e Joaquim e também ao meu empenho pessoal."

António Ferreira de Amorim realçou também a "unidade e a cooperação entre os irmãos". Para os próximos 150 anos da Corticeira Amorim deixou um conselho: "Os técnicos, os engenheiros e os economistas têm de ouvir e falar com quem está no terreno; é importante dar valor aos trabalhadores; gosto que eles falem e digam o que pensam. É importante dar-lhes atenção e ouvi-los."

E uma mensagem para o futuro: "A nova geração está preparada; está bem servida; tem muita visão e capacidade de trabalho. Os tempos que se vivem hoje não são fáceis; mas nunca foram fáceis. Os novos gestores têm de ser sempre os melhores e não olhar a sacrifícios e dar o exemplo. O grupo tem tudo para dar certo. E vai dar!"

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