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Calçado português: Indústria mais sexy da Europa volta a mostrar a sua raça ao mundo

Após ter fechado 2023 a recuar nas exportações, depois de um ano recorde, o setor regressa a Milão para participar na maior feira mundial de calçado, tendo no horizonte um investimento de 600 milhões de euros até ao final desta década.

O setor português de calçado, que desfila pelo mundo como “a indústria mais sexy da Europa”, apresenta hoje o seu Plano Estratégico 2030.
Tim Chong/Reuters
17 de Fevereiro de 2024 às 09:01
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A indústria portuguesa do calçado vai investir um valor recorde de 600 milhões de euros até 2030 em inovação, sustentabilidade, qualificação das empresas e trabalhadores e internacionalização, segundo a associação setorial APICCAPS.

"O grande investimento que estamos a fazer, o maior investimento da nossa vida nesta indústria até ao final da década, são 600 milhões de euros em quatro áreas distintas mas complementares", afirma o porta-voz da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS).

Segundo Paulo Gonçalves, o objetivo não é propriamente aumentar a produção, uma vez que o setor já produz anualmente 80 milhões de pares de calçado, mas, sobretudo, "otimizar processos e fazer da indústria portuguesa uma grande referência internacional no desenvolvimento de novos produtos".

Assim, os 600 milhões de euros de investimento previsto até 2030 incluem dois grandes projetos já em curso - o BioShoes4All e o FAIST - cuja conclusão está prevista até final de 2025 e que se focam nos temas da automação, digitalização e sustentabilidade.

O porta-voz da APICCAPS salienta que uma das vertentes centrais da estratégia do setor é o denominado "compromisso verde", no âmbito do qual a associação assinou no início de 2023 um protocolo com cerca de 150 empresas, nas quais estão a ser feitas auditorias com o objetivo de melhorar a eficiência energética, o uso de materiais ou o 'eco design'.

"Estamos a fazer estas auditorias às empresas para que efetivamente possamos, em primeira circunstância, alterar e otimizar os processos. Os novos produtos, a nova geração de produtos, vem de seguida", explica Paulo Gonçalves.

No total, são cerca de uma centena de parceiros, incluindo 14 universidades, atualmente a trabalhar com a indústria portuguesa de calçado para a colocar "na linha da frente".

Paralelamente, aquela que se apresenta ao mundo como "a indústria mais sexy da Europa" está a criar uma "nova geração de produtos", onde se incluem biomateriais (como cascas de fruta), materiais naturais (como cortiça e madeira) e materiais reciclados, assim como a trabalhar no desenvolvimento de novas tecnologias e técnicas com a principal matéria-prima atual, o couro, cuja sustentabilidade também defende.

Isto porque, segundo o porta-voz da associação, o couro é um produto duradouro e um desperdício da indústria alimentar, que, ao ser usado no fabrico do calçado, contribui também para "o bem-estar do planeta".

Em simultâneo, o setor está ainda a trabalhar em domínios como a eficiência energética, a redução do consumo de água e o 'eco design'.

"Todos os anos são produzidos 24.000 milhões de pares de sapatos, cerca de 90% são feitos na Ásia, o que equivale a dizer que cada nove em 10 pessoas usam sapatos asiáticos. Não consideramos que seja sustentável, pelo contrário, entendemos que existe espaço no mercado para um pequeno 'player' como Portugal", sustenta Paulo Gonçalves.

"Estamos aqui para durar, independentemente dos ciclos conjunturais. A nossa maior prova de confiança é que estamos a fazer o maior investimento da nossa história. Entendemos que Portugal pode ser uma grande referência internacional ao nível de desenvolvimento de uma indústria sustentável, de uma indústria de futuro", acrescenta.

 

Exportações portuguesas de calçado caem 8,2% para 1.839 milhões em 2023

As exportações portuguesas de calçado recuaram 11,3% em quantidade e 8,2% em valor em 2023, face ao ano recorde de 2022, com 66 milhões de pares de calçado vendidos por 1.839 milhões de euros.

Segundo a APICCAPS, "o abrandamento económico internacional, em particular em mercados de grande relevância, como a Alemanha, a França ou os EUA, penalizou fortemente o setor do calçado no plano externo".

"A indústria portuguesa de calçado exporta mais de 90% da sua produção, pelo que está sempre dependente da evolução dos principais mercados externos", sublinha o porta-voz da associação, citado num comunicado.

Assim, salienta Paulo Gonçalves "trata-se, no essencial, de um problema de mercado: a pouca procura e o excesso de 'stocks' condicionou a atividade exportadora portuguesa".

Em 2023, o calçado português diz ter sido "particularmente afetado pelo fraco desempenho da economia alemã", para onde as exportações registaram uma quebra de 5,6% para 406 milhões de euros.

Ainda no espaço europeu, a APICCAPS destaca, pela negativa, o recuo nos Países Baixos (menos 13,7% para 259 milhões de euros), Reino Unido (queda de 9% para 115 milhões de euros) e Dinamarca (recuo de 28,5% para 71 milhões).

A indústria portuguesa de calçado viu igualmente interrompida a trajetória de crescimento no mercado norte-americano, onde recuou 11,3% para 101 milhões de euros.

Os EUA foram, aliás, "o grande mercado à escala mundial com pior desempenho", enfatiza a associação.

"A boa notícia é que o ano de 2023 já passou. Temos a expectativa de que a recuperação económica de alguns dos nossos principais mercados crie oportunidades para as empresas portuguesas já este ano", prefere enfatizar Paulo Gonçalves.

O facto é que o desempenho da indústria portuguesa de calçado acompanhou a tendência global no ano passado, descrito como "negativo para o setor de calçado à escala mundial, depois de um ano de 2022 de forte crescimento".

Assim, registou-se um recuo das importações de calçado na ordem dos 30% nos EUA (dados finais) e de 11% na Europa (dados de outubro de 2023), que, em conjunto, representam 61% das importações mundiais de calçado.

Pela negativa, a APICCAPS destaca as quebras de 16% na Alemanha, 13% no Reino Unido e 11% em França.

Como resultado, "todos os grandes 'players' do setor terminaram 2023 altamente penalizados pelo abrandamento económico a nível mundial", refere a associação.

Os cinco principais produtores mundiais de calçado - China (quebra de 13% na totalidade do ano), Índia (recuo de 17% nos primeiros 11 meses), Vietname (perda de 17% até novembro), Indonésia (menos 19% até novembro) e Brasil (queda de 11% na totalidade do ano) - registaram "perdas muito expressivas" em 2023.

Em conjunto, estes cinco países asseguram praticamente 80% da produção mundial, o equivalente a 19.000 milhões de pares de calçado.

Considerando toda a fileira nacional de calçado e artigos de pele, exportou 2.222 milhões de euros em 2023, uma quebra homóloga de 5,1%.

Em contraciclo, o setor de artigos de pele e marroquinaria cresceu 14%, para 310 milhões de euros, enquanto o setor de componentes para calçado aumentou as vendas ao exterior em 13,6%, para 73 milhões de euros.

 

Exportações de componentes para calçado crescem 13,6% em 2023

As exportações da fileira de calçado recuaram 5,1% em 2023 em termos homólogos, para 2.222 milhões de euros, mas o setor de componentes para calçado aumentou as vendas em 13,6%, reforçando o seu papel estratégico na afirmação daquela indústria.

De acordo com a APICCAPS, no ano passado, o setor de componentes para calçado exportou um total de 73 milhões de euros, um acréscimo de 13,6% relativamente a 2022.

Na mesma linha, o setor de artigos de pele e marroquinaria cresceu 14%, para 310 milhões de euros, enquanto as exportações de calçado recuaram 11,3% em quantidade e 8,2% em valor face ao ano recorde de 2022, com 66 milhões de pares de calçado vendidos, no valor de 1.839 milhões de euros.

"Temos vindo a consolidar o 'cluster' de calçado e de artigos de pele em Portugal", sustenta o porta-voz da APICCAPS, Paulo Gonçalves, destacando que, até final década, o plano estratégico do setor prevê um investimento de 600 milhões de euros em inovação, sustentabilidade, qualificação das empresas e dos trabalhadores e internacionalização.

Por mercados, a associação realça os crescimentos das vendas de componentes de calçado para a Alemanha, que subiram 4,7% para 16,5 milhões de euros, e para França, onde progrediram 43%, para 16 milhões de euros. Em Espanha, pelo contrário, assinala um recuo de 19%, para sete milhões de euros.

Citado numa 'newsletter' da APICCAPS, o vice-presidente da associação destaca que "um dos principais argumentos competitivos da indústria reside precisamente no facto de existir, num raio de 50 quilómetros quadrados da cidade do Porto, uma oferta variada de todo o tipo de componentes e de serviços à disposição das empresas de calçado".

"Portugal apresenta na indústria de calçado soluções muito interessantes ao nível de praticamente todos os componentes e mesmo de curtumes", sustenta Paulo Ribeiro, enfatizando que, "numa altura em que tanto se fala de produção de proximidade, a indústria portuguesa é uma das mais qualificadas do mundo, que se soube reinventar, evoluir técnica e tecnologicamente e, por isso, está no radar das grandes marcas internacionais da especialidade".

Em simultâneo, o dirigente associativo recorda que "o setor tem em curso planos de investimento ambiciosos, que vão transformar Portugal numa das grandes referências internacionais no desenvolvimento de soluções sustentáveis".

"Não é razoável que a Ásia assegure praticamente 90% da produção mundial de calçado", sublinha.

Segundo Paulo Ribeiro, os investimentos que o setor de componentes para calçado tem vindo a implementar, nomeadamente nos domínios da digitalização e sustentabilidade, colocam "o 'cluster' português de calçado na linha de frente e capaz de responder a novos desafios que o mercado vai requerendo no plano internacional".

No âmbito das várias ações de valorização do 'cluster' nos mercados internacionais que a APICCAPS está a desenvolver, e depois de uma campanha de imagem transversal, de iniciativas de promoção dos artigos de pele e de uma ação orientada para o calçado de criança, "Portuguese Shoes Cluster" é o 'slogan' da nova campanha que procura apresentar o setor de componentes como "estratégico na afirmação da indústria portuguesa de calçado nos mercados externos".

Fileira do calçado mostra-se com 70 empresas em Milão a partir de domingo

Cerca de 70 empresas portuguesas de calçado e artigos de pele participam a partir de domingo em Milão, Itália, nos certames internacionais MICAM, MIPEL e Lineapelle, procurando inverter a quebra de 5,1% das exportações da fileira em 2023.

"Este será um ano importante para a nossa atividade" afirma o presidente da APICCAPS, que organiza a participação nacional na feira de calçado MICAM, na de acessórios de pele MIPEL e na de componentes para calçado e curtumes Lineapelle.

"O nosso setor exporta mais de 90% da sua produção e, depois de um 2023 muito difícil para toda a fileira da moda à escala internacional, temos a expectativa de que este seja um ano de afirmação do calçado português nos mercados externos", sublinha Luís Onofre.

No ano passado, a fileira nacional de calçado e artigos de pele exportou 2.222 milhões de euros, o que representa uma quebra de 5,1% face a 2022.

O setor do calçado exportou 66 milhões de pares de calçado, no valor de 1.839 milhões de euros, registando uma quebra de 11,3% em quantidade e de 8,2% em valor ao ano anterior.

Quanto ao preço médio do calçado exportado, subiu 3,45%, para 27,70 euros o par.

Já o setor de artigos de pele e marroquinaria aumentou as exportações em 14%, para 310 milhões de euros, enquanto o setor de componentes para calçado viu as vendas ao exterior crescerem 13,6%, para 73 milhões de euros.

Nesta edição das três feiras - que decorrem no espaço de uma semana, entre domingo e quinta-feira - Portugal estará representado por 35 empresas na MICAM (que compara com as 33 na edição homóloga do ano anterior), por uma na MIPEL e por 32 na Lineapelle, 14 das quais de componentes para calçado.

Na edição passada, 2.000 marcas apresentaram as suas coleções na Semana da Moda de Milão e os três certames acolheram, em conjunto, 42.273 visitantes profissionais, oriundos de 129 países, um crescimento de 21% face à edição anterior.

De acordo com a organização, "as feiras revelaram uma procura crescente por parte dos compradores estrangeiros" e "comprovaram a importância das exportações no fortalecimento da recuperação da indústria".

A APICCAPS detalha que os números finais dos eventos mostram "um número crescente" de visitantes de Espanha, França e Alemanha, enquanto, entre os países não pertencentes à União Europeia, se assinala "o regresso há muito aguardado" da China e confirmações do Japão e da América do Norte.

O 'cluster' português do calçado - que abrange os setores do calçado, componentes e artigos de pele - é constituído por 1.500 empresas, responsáveis por mais de 40.000 postos de trabalho e que exportam 90% da produção para 173 países dos cinco continentes.

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