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Exportações de calçado caíram 6,5%, para 1.702 milhões de euros em 2024
Indústria portuguesa do calçado sente "notório" abrandamento dos principais mercados internacionais, nomeadamente Alemanha, França e Países Baixos e antecipa um 2025 "muito exigente" face aos sinais de estagnação das principais economias.
As exportações portuguesas de calçado aumentaram 3,3% em volume, mas diminuíram 6,5% em valor para 1.702 milhões de euros em 2024, um ano descrito como "muito difícil no plano externo" pela Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS).
"É o reflexo da dinâmica do mercado. O ano que terminou foi muito difícil no plano externo. Por um lado, é notório um abrandamento dos principais mercados internacionais, nomeadamente Alemanha, França e Países Baixos, que afetou os principais protagonistas do setor, e as nossas empresas em particular. Depois, começa a ser percetível a estratégia do setor de diversificar a oferta de produtos, ainda que muitas vezes recorrendo à subcontratação no exterior, a exemplo do que já fazem os nossos principais concorrentes internacionais", diz o presidente da APICCAPS, Luís Onofre, citado num comunicado divulgado esta segunda-feira.
À luz das estimativas da APICCAPS, com base nos dados preliminares do Instituto Nacional de Estatística (INE), a indústria portuguesa exportou 67 milhões de pares de calçado para todo o mundo em 2024, ou seja, mais de 90% da sua produção, para um universo de 170 países em todos os continentes.
As exportações de calçado em couro terão recuado 7% em 2024 para 39 milhões pares, enquanto que as de calçado em outros materiais (impermeável, plástico ou têxtil) terão aumentado 22,6% para 28 milhões da pares.
"Ainda que acreditemos que o calçado em couro seja a melhor solução do mercado, razão pela qual representa mais de 80% das nossas vendas em valor, porque é um produto natural, tecnicamente mais robusto e consideravelmente mais sustentável, na medida em que apresenta um período de vida mais longo, temos feito um esforço considerável para investir numa nova geração de produtos, nomeadamente no âmbito do projeto Bioshoes4all". "Esse é um caminho que deveremos aprofundar", sustentou Luís Onofre.
Por mercados, de acordo com as contas da APICCAPS, a Europa continua a ser o mercado natural para o calçado português, em especial Alemanha (14 milhões de pares, no valor de 383 milhões de euros), França (15 milhões de pares no valor de 348 milhões de euros) e Países Baixos (5 milhões de pares, no valor de 195 milhões de euros).
Também o Reino Unido continua a ser descrito como um mercado de excelência para o calçado português (3 milhões de pares, no valor de 113 milhões de euros,), tal como os Estados Unidos, onde as vendas aumentaram 25% nos últimos três anos para 2 milhões de pares, no valor de 94 milhões de euros, segundo a APICCAPS.
A APICCAPS faz ainda referência ao setor de artigos de pele que, de acordo com as as suas estimativas, a partir dos dados do INE, atingiu em 2024 um novo máximo histórico: Portugal exportou 351 milhões de euros em artigos de pele e marroquinaria, reflexo de um aumento de 8,5% face a 2023, com destaque para o segmento de malas e bolsas, que registou um crescimento de 10,6% para 175 milhões de euros.
2025 "exigente", mas consumo deve crescer
Perspetivando o ano que agora se iniciou, Luís Onofre diz que "todos os indicadores apontam para que o ano de 2025 seja um ano muito exigente, na medida em que as principais economias mundiais continuam a dar sinais de forte estagnação. São muitos os sinais de incerteza", lamenta Luís Onofre. "Do nosso lado temos de continuar o esforço de procurar novos mercados, pois só com uma atitude proativa no desenvolvimento de novos produtos e conquista de novos clientes poderemos atenuar um momento conjuntural particularmente complexo", frisa.
A APICCAPS cita o World Footwear Survey que aponta que o consumo mundial de calçado deve crescer 8,4% em 2025, para notar que, a confirmarem-se as previsões, deve crescer significativamente na Oceânia (+25%), em África (+13,3%), na Ásia (+9,2%) e na América do Norte (+8,3%) mas, em contrapartida, na Europa (+0,5%), o mercado de referência para o calçado português, o consumo deverá estagnar.
"Previsivelmente, de acordo com o mesmo relatório, a indústria do calçado continuará a enfrentar dificuldades, nomeadamente com o custo das matérias-primas e mercadorias e com a concorrência nos mercados internos", refere a APICCAPS.