Estava a Europa ainda a meio do verão – milhares de famílias de férias em estâncias balneares – e já em Bruxelas se anunciava que o inverno estava a chegar. "The winter is coming", avisava de semblante carregado o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, fazendo uso do chavão da célebre série "Guerra dos Tronos". Desde aí, a poupança de energia (eletricidade e gás) tem sido uma obsessão, com o Executivo comunitário a desdobrar-se em medidas (umas atrás das outras) para garantir que os Estados-membros possam "sobreviver" ao primeiro inverno de sempre sem gás russo.
Há quem acredite que sim, há quem esteja mais pessimista. "Não estamos assim tão mal. Se não houver surpresas – políticas ou técnicas – e se o inverno for normal, a Europa poderá sobreviver com algumas nódoas negras aqui e ali e chegar a fevereiro/março", disse recentemente Fatih Birol, diretor da Agência Internacional de Energia. Com as reservas de gás europeias quase cheias, Birol diz que o verdadeiro problema não será este inverno, mas sim o próximo. "Na primavera de 2023, as reservas terão caído a pique para os 25%. Como vamos enchê-las de novo sem o gás russo e com a China em forte recuperação económica e a comprar todo o gás natural que estiver disponível no mundo?", questiona.
Aliás, as ordens de Pequim já chegaram e são bem claras: a partir de agora nenhuma empresa chinesa deverá revender Gás Natural Liquefeito (GNL) a compradores europeus e de outros países asiáticos. O objetivo é garantir o abastecimento da China durante o inverno. O país tem as reservas a cerca de 90% da capacidade e é o maior importador de GNL do mundo.