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Henrique Gomes: Gaspar não apoiou mudança na energia e privatizou EDP “sem limpar a casa”
O ex-secretário de Estado Henrique Gomes viu nos colegas das Finanças um travão para as mudanças que propunha no setor da Energia. A privatização da EDP pode ter contribuído para a resistência de Vítor Gaspar, admite, acrescentando que nesse caso a decisão "não foi inteligente".
O antigo secretário de Estado da Energia, Henrique Gomes, defende que "a única maneira correta de fazer as coisas era limpar [o setor da Energia] e entrar na privatização [da EDP] calmamente, com o setor em equilíbrio". Não foi o que aconteceu, "talvez" pelo pelouro das Finanças, liderado então por Vítor Gaspar, mostrar pouco apoio às medidas sugeridas pela Secretaria de Estado, concede Henrique Gomes.
Uma opção que o ex-secretário de Estado não considera "inteligente", em declarações no Parlamento perante a Comissão Parlamentar de Inquérito ao Pagamento de Rendas Excessivas aos Produtores de Eletricidade (CPIPREPE), esta quarta-feira, 23 de janeiro.
Henrique Gomes terá tido poucas reuniões com os responsáveis das Finanças, mas do pouco contacto resultou a impressão de que Vítor Gaspar "não pareceu muito… apoiante", hesitou o ex-secretário de Estado quando foi questionado acerca da recetividade dos responsáveis das Finanças em relação à contribuição a entregar pelas energéticas ao Estado, que estava em cima da mesa em vésperas da privatização da EDP.
Confrontado com a possibilidade da pouca recetividade do Governo estar relacionada com a intenção de tornar a EDP atrativa para o processo de privatização, Henrique Gomes afirma que se as medidas foram travadas "com esse objetivo", a decisão "não foi inteligente" e "não se percebe a racionalidade". Mas admite que "talvez tenha sido por isso [intenção de privatização] que [as medidas] não avançaram".
Do ponto de vista de Henrique Gomes, "a melhor maneira de fazer privatização era com a casa limpa" mas "a casa nunca foi limpa". O responsável da Energia ressalva, contudo, que compreende até certo ponto as decisões do Ministério das Finanças tendo em conta que, na altura, se encontravam "muito sobrecarregadas" com as exigências da troika.
A secretaria de Estado de Henrique Gomes propunha, e viu rejeitado, um conjunto de propostas que tinham como objetivo a eliminação do défice tarifário até 2020 e um aumento anual das tarifas nunca superior a 1,5%. Para isso, propôs medidas que olhavam à emissão de CO2, à garantia de potência e sugeriu ainda uma contribuição sobre o sistema. "A contribuição era das poucas oportunidades para aliviar a economia e o esforço da população", lamenta. Diz ter convencido vários stakeholders do setor, desde atores da cogeração até às renováveis. Contudo, "com a EDP que era fundamental, não chegámos a acordo", diz.