Notícia
Univerplast: Líder dos cabides injeta negócios na pandemia
Após 32 anos a fazer cabides em Lousada para as confeções que abastecem a Zara, Massimo Dutti, Primark, Zippy ou SportZone, a Univerplast avançou para o fabrico de viseiras e de bombas doseadoras que está a “vender aos milhões” para a cosmética.
"Ó mamã, vamos fazer um molde para viseiras?" "Tu estás tolinha. Nem penses. Não vou dar um tiro desses no pé." "Por favor, confia em mim. Posso cometer o maior erro da minha vida e abrir um buraco sem precedentes na empresa, mas infelizmente acho que isto vai chegar aqui." Isto era o novo coronavírus e este foi o diálogo entre Mafalda Monteiro e a mãe Maria Augusta, sócia-gerente da Univerplast.
No início do ano passado, estavam sentadas no sofá a ver o telejornal, angustiadas com as imagens dos hospitais da Lombardia, uma região rica no Norte de Itália onde se falava já de escolher entre quem vivia e morria com covid-19. "Eu via todos eles a usarem viseiras. Foi uma luta entre o medo e a oportunidade", relata ao Negócios a diretora comercial da firma de injeção de plásticos, sediada em Paços de Ferreira.
Fundada há 32 anos e desde o início a trabalhar 24 horas por dia com três turnos fixos, a Univerplast emprega 37 pessoas nos três pavilhões com um total de 3.000 metros quadrados instalados na zona industrial de Rebordelos, na freguesia de Lustosa, em Lousada. Até ao início da pandemia, 97% do volume de negócios vinha dos cabides. É a maior produtora nacional, com 30 milhões de unidades por ano, que vende sobretudo para as indústrias têxteis pendurarem o vestuário que fabricam e fazem chegar às lojas de cadeias retalhistas como a Inditex (Zara ou Massimo Dutti), a Primark ou o grupo Sonae (SportZone e Zippy).
A maioria dos clientes são as centenas de confeções da zona Norte do país – são elas que contratam e pagam a esta fornecedora, que previamente garantiu a difícil homologação deste acessório junto dessas grandes marcas, com quem desenvolve protocolos –, mas também exporta "muita coisa" para vários países europeus, México, Estados Unidos, Brasil e Angola. Além dessas fábricas, tem a Loja dos Cabides que trabalha com os outros nichos, como lojas de roupa ou de decoração, hotéis e consumidores finais.
Voltando ao inverno de 2020, o receio da matriarca assentava, antes de mais, nos largos milhares de euros que iria custar desenvolver um molde para conseguir fabricar este produto novo, tendo calculado que teria de ter tiragens, pelo menos, de um a dois milhões de peças para justificar o investimento. A tempo era outro fator nesta equação. "Ou fazíamos naquele momento ou então já não valia a pena. Deixámos de vender viseiras com aquele fluxo maluco ali a meio de maio, quando a diretora-geral da Saúde disse que só a máscara conferia a proteção necessária. Portanto, se só tivéssemos acabado o molde no final de abril, realmente tinha sido um rombo muito grande na empresa", ilustra Mafalda Monteiro.
Idealmente, a construção e os testes a um molde demoram perto de três meses. Este acabou por ficar pronto num "prazo absolutamente recorde" de três semanas, que só foi possível porque os moldistas concorrentes uniram esforços e fizeram turnos para trabalhar nele sem interrupções e com a indicação de que "não interessava o preço". Outro parceiro imprescindível neste projeto foi o Infarmed, que desde a primeira hora ajudou no desenvolvimento da viseira para assegurar a proteção, seja ao nível do formato ou dos materiais. Avançou "a muito custo e com muitos medos", dado que era "um investimento louco e sem quaisquer garantias de que iria dar certo". Acabou por correr bem e até reclamam o estatuto de primeira empresa em Portugal a fazer viseiras.
A 28 de março, a Univerplast anunciava o produto no Facebook. Essa publicação patrocinada com cinco euros teve um alcance de meio milhão de pessoas, com mais de 11 mil "gostos" e quase 500 comentários. "Fomos inundados de chamadas e e-mails com encomendas. Vendemos viseiras que ‘minha Nossa Senhora’. Foi como o papel higiénico: as pessoas fizeram um açambarcamento total. Uma família de quatro pessoas comprava 30 ou 50 viseiras", atesta Mafalda Monteiro. Chegou a produzir 25 mil unidades por dia. A partir de maio, o consumo caiu a pique, continuando a vender para dentistas, hospitais, clínicas privadas e clientes particulares. "Neste momento nem sequer paga salários. É agora mais um produto, ajuda sempre à faturação", completa a gestora de 35 anos.
No início do ano passado, estavam sentadas no sofá a ver o telejornal, angustiadas com as imagens dos hospitais da Lombardia, uma região rica no Norte de Itália onde se falava já de escolher entre quem vivia e morria com covid-19. "Eu via todos eles a usarem viseiras. Foi uma luta entre o medo e a oportunidade", relata ao Negócios a diretora comercial da firma de injeção de plásticos, sediada em Paços de Ferreira.
A maioria dos clientes são as centenas de confeções da zona Norte do país – são elas que contratam e pagam a esta fornecedora, que previamente garantiu a difícil homologação deste acessório junto dessas grandes marcas, com quem desenvolve protocolos –, mas também exporta "muita coisa" para vários países europeus, México, Estados Unidos, Brasil e Angola. Além dessas fábricas, tem a Loja dos Cabides que trabalha com os outros nichos, como lojas de roupa ou de decoração, hotéis e consumidores finais.
Voltando ao inverno de 2020, o receio da matriarca assentava, antes de mais, nos largos milhares de euros que iria custar desenvolver um molde para conseguir fabricar este produto novo, tendo calculado que teria de ter tiragens, pelo menos, de um a dois milhões de peças para justificar o investimento. A tempo era outro fator nesta equação. "Ou fazíamos naquele momento ou então já não valia a pena. Deixámos de vender viseiras com aquele fluxo maluco ali a meio de maio, quando a diretora-geral da Saúde disse que só a máscara conferia a proteção necessária. Portanto, se só tivéssemos acabado o molde no final de abril, realmente tinha sido um rombo muito grande na empresa", ilustra Mafalda Monteiro.
Idealmente, a construção e os testes a um molde demoram perto de três meses. Este acabou por ficar pronto num "prazo absolutamente recorde" de três semanas, que só foi possível porque os moldistas concorrentes uniram esforços e fizeram turnos para trabalhar nele sem interrupções e com a indicação de que "não interessava o preço". Outro parceiro imprescindível neste projeto foi o Infarmed, que desde a primeira hora ajudou no desenvolvimento da viseira para assegurar a proteção, seja ao nível do formato ou dos materiais. Avançou "a muito custo e com muitos medos", dado que era "um investimento louco e sem quaisquer garantias de que iria dar certo". Acabou por correr bem e até reclamam o estatuto de primeira empresa em Portugal a fazer viseiras.
A 28 de março, a Univerplast anunciava o produto no Facebook. Essa publicação patrocinada com cinco euros teve um alcance de meio milhão de pessoas, com mais de 11 mil "gostos" e quase 500 comentários. "Fomos inundados de chamadas e e-mails com encomendas. Vendemos viseiras que ‘minha Nossa Senhora’. Foi como o papel higiénico: as pessoas fizeram um açambarcamento total. Uma família de quatro pessoas comprava 30 ou 50 viseiras", atesta Mafalda Monteiro. Chegou a produzir 25 mil unidades por dia. A partir de maio, o consumo caiu a pique, continuando a vender para dentistas, hospitais, clínicas privadas e clientes particulares. "Neste momento nem sequer paga salários. É agora mais um produto, ajuda sempre à faturação", completa a gestora de 35 anos.
A "bombar" nos frascos de álcool-gel e na cosmética
As lojas de roupa fecharam, as confeções não vendiam e os fornecedores de cabides, tal como os de tecidos ou de etiquetas, deixaram de ter encomendas. Foi nesta "bola de neve" que a Univerplast se viu envolvida em 2020. Voltou a produzir cabides no verão, mas só em março de 2021 retomou "em força" o ritmo anterior à pandemia, a ponto de estar a laborar aos fins de semana.
No entanto, em maio passado, ao ver embaciar o negócio das viseiras, afinou a mira para as bombas doseadoras. Até aí apenas importadas da Ásia e quase esgotadas, o que estava a desesperar os produtores de álcool-gel, obrigaram à construção de moldes diferentes para oito peças, que ficaram prontos em julho.
Dessa segunda vez, a mãe já "confiou a 200%" e "nem foi preciso convencê-la". O investimento foi dez vezes maior – "uma loucura" –, conseguindo fazê-lo com muito do lucro que teve nas viseiras. "Estamos a vender disto aos milhões", resume Mafalda Monteiro. À quebra na produção de álcool-gel, cuja procura é agora residual, respondeu através da "entrada com muita força" no setor da cosmética com estes doseadores que são usados, por exemplo, em cremes, champôs, perfumes ou vaporizadores.
"Desde o início da pandemia, estivemos sempre a trabalhar porque nos reinventámos constantemente. A começar pela produção das viseiras, que foi a nossa salvação. Foi um ano terrível, muito cansativo – tive cinco dias de férias e ainda tive covid –, mas adorei. Saí da minha zona de conforto. Só vendíamos cabides e desenvolvemos dois produtos completamente novos e diferentes na empresa e temo-nos safado muito bem. Não tivemos um único dia em lay-off e aumentámos muito a nossa faturação relativamente ao ano anterior, de dois para três milhões de euros em 2020", conclui a porta-voz e responsável comercial da Univerplast.
As lojas de roupa fecharam, as confeções não vendiam e os fornecedores de cabides, tal como os de tecidos ou de etiquetas, deixaram de ter encomendas. Foi nesta "bola de neve" que a Univerplast se viu envolvida em 2020. Voltou a produzir cabides no verão, mas só em março de 2021 retomou "em força" o ritmo anterior à pandemia, a ponto de estar a laborar aos fins de semana.
No entanto, em maio passado, ao ver embaciar o negócio das viseiras, afinou a mira para as bombas doseadoras. Até aí apenas importadas da Ásia e quase esgotadas, o que estava a desesperar os produtores de álcool-gel, obrigaram à construção de moldes diferentes para oito peças, que ficaram prontos em julho.
Dessa segunda vez, a mãe já "confiou a 200%" e "nem foi preciso convencê-la". O investimento foi dez vezes maior – "uma loucura" –, conseguindo fazê-lo com muito do lucro que teve nas viseiras. "Estamos a vender disto aos milhões", resume Mafalda Monteiro. À quebra na produção de álcool-gel, cuja procura é agora residual, respondeu através da "entrada com muita força" no setor da cosmética com estes doseadores que são usados, por exemplo, em cremes, champôs, perfumes ou vaporizadores.
"Desde o início da pandemia, estivemos sempre a trabalhar porque nos reinventámos constantemente. A começar pela produção das viseiras, que foi a nossa salvação. Foi um ano terrível, muito cansativo – tive cinco dias de férias e ainda tive covid –, mas adorei. Saí da minha zona de conforto. Só vendíamos cabides e desenvolvemos dois produtos completamente novos e diferentes na empresa e temo-nos safado muito bem. Não tivemos um único dia em lay-off e aumentámos muito a nossa faturação relativamente ao ano anterior, de dois para três milhões de euros em 2020", conclui a porta-voz e responsável comercial da Univerplast.