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Senhora do seu destino e à frente do seu tempo

Dona Antónia recusou o casamento da filha com o filho do duque de Saldanha e fugiu com ela para Inglaterra, não sem antes fazer um protesto formal contra as tácticas do governante.

09 de Julho de 2014 às 14:18
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Quando o duque de Saldanha quis casar o seu filho com a filha de Dona Antónia Adelaide Ferreira não estava certamente à espera da novela que se seguiu. Com um império vinhateiro que multiplicou a partir da herança do pai e do primeiro marido, a "Ferreirinha" não via com bons olhos as intenções do então presidente do Conselho de Ministros e recusou a proposta de enlace com a justificação que a filha, Maria da Assunção, na altura com 11 anos, era demasiado jovem. Foi em Agosto de 1854 que se deu o conflito. Uma delegação que integrava o filho do Duque de Saldanha, João Carlos de Oliveira e Daun e o filho mais velho de D. Antónia, que tinha crónicos problemas de dinheiro, e mais alguns participantes terão tentado encontrar a menina durante a madrugada do dia 25 na Quinta de Travassos.


A "expedição" correu mal (Maria da Assunção estava na Régua com a mãe) e originou um escândalo público que fez correr muita tinta na época. Dona Antónia acusou-os de quererem levar a jovem à força, mas os defensores do duque de Saldanha disseram que apenas queriam pedir a mão de Maria da Assunção em casamento. Temendo que se repetisse a façanha, Dona Antónia fugiu com a filha - primeiro para Espanha e depois para Inglaterra, mas não sem antes fazer publicar na imprensa portuense um "Protesto" contra o duque de Saldanha, iniciando uma guerra pública com o governante.


Este episódio, contado no livro "Dona Antónia", de Gaspar Martins Pereira e Maria Luísa Nicolau de Almeida de Olazabal, mostra bem a personalidade de Dona Antónia. Assolada por problemas pessoais durante toda a vida, nunca deixou que isso afectasse o império que construiu no Douro e um pouco por todo o País. Quando morreu, em 1896, era a maior proprietária vinhateira do Douro, tendo sobrevivido à turbulência política que marcou o século XIX em Portugal e às diversas pragas que dizimaram as vinhas e levaram muitos produtores à falência, das quais a pior foi a filoxera.


A "Ferreirinha" tinha mais de 20 grandes quintas e dava emprego a milhares de pessoas. O seu amor pelo Douro e dedicação às gentes da região foi notório no seu funeral. Segundo escreveu o "Primeiro de Janeiro" na altura, "o coche fúnebre era seguido por uma enorme fila de carros em que iam muitíssimos cavalheiros desta localidade, mas a pé iam centenas, e muitas centenas, que eram de indivíduos de todas as classes sociais que queriam prestar a última homenagem do seu respeito à nobilíssima dama que fora uma mãe carinhosa de tantos desgraçados aflitos".


Os maiores aflitos da vida de D. Antónia foram, no entanto, os seus dois filhos. António Bernardo Ferreira III desbaratou a fortuna que herdou e a sua irmã, que acabou por casar com o Conde Azambuja, não fez melhor. Ela própria tinha sido uma filha bem diferente. Recatada e interessada pelos negócios do pai, a "Ferreirinha" acabou por casar com o primo António, com 23 anos, num esforço de unir o património familiar. Foi um casamento infeliz, mas que a lançou definitivamente nos negócios do vinho. A sua história continua a ser contada.

 

 

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Casamento conturbado


António Bernardo Ferreira II, primeiro marido de Dona Antónia, era um boémio, que gostava de viajar e viver faustosamente, o que não agradava à esposa. Quando morreu, em 1844, D. Antónia assumiu de vez as rédeas do negócio da família, que soube esperar e investir nas actividades ligadas ao vinho, depois de alguma dispersão resultante das actividades do marido. Em 1856 voltaria a casar, com Silva Torres, mas foi sempre D. Antónia a mandar nos negócios directamente ou por intermédio do segundo marido. Os vinhos da Casa Ferreira, que agora integram o universo Sogrape, estavam entre os preferidos dos ingleses, pela aposta na qualidade e constituição de uma reserva de vinhos velhos das melhores colheitas. A A. A. Ferreira comprava muito vinho a produtores do Douro e todo o processo de produção era supervisionado directamente por D. Antónia, que se deslocava sempre às quintas debaixo de sol e chuva numa altura em que as estradas eram más e os tempos de deslocação elevados.

 

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