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Riscos políticos e financeiros fogem do radar das empresas portuguesas

Os ataques informáticos, a fraude com dados pessoais e os "eventos climáticos extremos" ascendem na lista dos principais riscos identificados por 170 empresários nacionais no estudo anual realizado pela consultora Marsh.

António Larguesa alarguesa@negocios.pt 19 de Abril de 2018 às 00:01

Os perigos tecnológicos, como os ataques cibernéticos e o roubo ou fraude de dados, e também os de cariz ambiental parecem estar a emergir como os principais riscos que as empresas portuguesas vão enfrentar nos próximos meses, em contraponto com a perda de relevância da instabilidade política, social e até financeira.

 

De acordo com o estudo "A visão das Empresas Portuguesas sobre os Riscos 2018", elaborado pela Marsh, no topo surgem agora os ataques cibernéticos, referidos por 65% das 170 empresas inquiridas, que no ano anterior figuravam apenas em terceiro lugar nesta lista nacional. Um aumento de 20 pontos que "reflecte os impactos" dos recentes ataques à escala mundial, como o WannaCry e o vírus Pettya.

 

"Estes incidentes [em 2017], até então considerados raros, são agora permanentes. Outra tendência crescente dos ataques cibernéticos é terem como alvo infra-estruturas críticas e sectores industriais estratégicos, como foi o caso do WannaCry que atingiu, por exemplo, a Banca, Telecomunicações e Hospitais", justificou ao Negócios o CEO da Marsh Portugal, no cargo desde Abril de 2015.

 

Por outro lado, a questão do roubo ou fraude de dados (19%), que entra pela primeira vez no top de riscos neste estudo anual, é explicada por Rodrigo Simões de Almeida com a divulgação de casos polémicos, como o que envolveu o Facebook e que pode ter afectado 63 mil utilizadores em Portugal. E também com a aplicação, já a partir de 25 de Maio, do novo Regulamento Geral de Protecção de Dados (RGPD), "em que muitas organizações enfrentam fortes desafios para cumprir com todos os requisitos, o que as pode expor a elevadas multas em caso de violação" dessas normas.

 

Rodrigo Simões de Almeida entrou na Marsh Portugal em Abril de 2015, após quase duas décadas de trabalho no Banco Espírito Santo.
Rodrigo Simões de Almeida entrou na Marsh Portugal em Abril de 2015, após quase duas décadas de trabalho no Banco Espírito Santo. Bruno Simão

 

Depois de um ano de 2017 em que "Portugal enfrentou um Verão muito quente, com fortes incêndios, com uma seca extrema que levou a falar-se da crise de água e de medidas que devem ser implementadas para mitigar estes riscos", também a entrada directa dos "eventos climáticos extremos" (39%) para o terceiro lugar acaba por "não surpreender" o responsável desta multinacional americana de corretagem de seguros e consultoria de risco, que tem escritórios em Lisboa e no Porto.

 

Confiança na economia alivia tensão

 

Em sentido contrário, outra novidade no estudo que será apresentado esta quinta-feira, 19 de Abril, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, é a diminuição das referências feitas pelos empresários portugueses à instabilidade política ou social, um factor que liderou os dois anteriores estudos e que agora surge na segunda posição (40%), três anos após a formação da chamada geringonça que suporta o Governo de António Costa e já na antecâmara de novas eleições legislativas.

 

Há pouco mais de um ano, baseado em dados da BMI Research e divulgado pela mesma consultora, o Mapa de Risco 2017 dava a Portugal 68,5 pontos numa escala que vai até 100 (em que a pontuação mais alta representa risco reduzido), considerando a Marsh que o país apresentava um risco político e económico que reflectia a "elevada taxa de desemprego" e o "clima de instabilidade" por ter um Governo minoritário.

 

Voltando a 2018 e a este inquérito, na sequência do crescimento económico de 2,7%, da retirada do rating da República da classificação de "lixo" e da redução do défice para 0,92% do PIB (sem contar com a recapitalização da Caixa) no ano passado, entre outros indicadores positivos, também o risco "crise financeira / crises fiscais" desaparece por completo do top, quando em 2016 e 2017 ocupava posições cimeiras e era referido, respectivamente, por 40% e 33% dos inquiridos.

 

A diminuição de ataques terroristas, o menor destaque dado à imigração ilegal, a maior estabilidade política nacional e a recuperação económica ajudaram ao desaparecimento [dos temas políticos e financeiros] do top dos riscos. Rodrigo Simões de Almeida, CEO da Marsh Portugal

 

"A diminuição de ataques terroristas a nível internacional, o menor destaque dado à imigração ilegal, a maior estabilidade política nacional e a recuperação económica ajudaram ao desaparecimento" desse risco e à "redução da percepção de instabilidade" de âmbito político ou social na lista dos riscos que as empresas vão enfrentar em 2018, resumiu o homem que há três anos lidera o grupo americano Marsh em Portugal, após duas décadas no Banco Espírito Santo, com responsabilidades em Portugal, Espanha, Suíça e Reino Unido.

 

À quarta edição deste inquérito responderam 170 empresas portuguesas de 22 diferentes sectores de actividade e dimensão também diversa, embora mais de metade empregue acima de 250 pessoas. Quando questionadas sobre os riscos que o mundo vai enfrentar em 2018, 65% apontam ataques cibernéticos em grande escala, 42% ataques terroristas e 39% eventos climáticos extremos e crises de água. Só depois surgem as "crises fiscais e financeiras em economias-chave" (31%).

 

 

O estudo evidencia ainda que as empresas nacionais "estão mais alerta" para a relevância da gestão de riscos dentro das organizações – 40% dá elevada importância à temática e 45% a que considera "suficiente" – e quatro em cada dez gestores asseguram mesmo ter aumentado este ano o valor orçamentado para a gestão de riscos, que reduziu em apenas 3% das organizações incluídas na amostra.

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